Francisco/12.º aniversário: Celebração marcada por internamento mais longo do pontificado

Papa está há 27 dias no Hospital Gemelli, depois de ano de intensa atividade

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 12 mar 2025 (Ecclesia) – O Papa vai completar esta quinta-feira 12 anos de pontificado, num momento marcado pelo internamento no Hospital Gemelli, há quase um mês.

Francisco, eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março de 2013, está hospitalizado desde 14 de fevereiro, devido a problemas respiratórios que já o vinham limitando há várias semanas.

Os últimos meses de 2024 tinham sido de grande atividade, com a abertura do Jubileu da Esperança, o encerramento da XVI Assembleia Geral do Sínodo e várias visitas internacionais, incluindo a maior viagem do atual pontificado, com passagem por Timor-Leste.

A segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, que decorreu no mês de outubro de 2024, encerrou três anos de trabalho promovidos por iniciativa de Francisco, procurando projetar a Igreja Católica para uma nova relação com a sociedade.

Mais tarde, o Papa viria a publicar uma “nota de acompanhamento” do documento final, sublinhando o seu valor como “magistério” pontifício e a necessidade de implementação nas comunidades católicas.

Depois de uma viagem à Córsega, com o olhar posto no Mediterrâneo, a 15 de dezembro de 2024, Francisco não falou com os jornalistas que o acompanhavam, ao contrário do que é habitual.

Uma semana depois, a oração do ângelus foi recitada pelo Papa na Capela da Casa de Santa Marta, onde reside, devido ao frio que se faz sentir em Roma e aos sintomas gripais que se manifestaram em dias anteriores; a Missa de 24 de dezembro, vigília de Natal, decorreu dentro Basílica de São Pedro, com a abertura da Porta Santa do Jubileu.

Já a 9 de janeiro de 2025, Francisco confiou a um colaborador da Secretaria de Estado do Vaticano a leitura do longo discurso ao corpo diplomático, uma importante audiência que acontece no início de cada ano.

A situação viria a repetir-se e, para prevenir um agravamento do estado de saúde do Papa, as audiências foram transferidas para a Casa de Santa Marta.

Apesar da bronquite, Francisco decidiu presidir à Missa do Jubileu das Forças Armadas e de Segurança, a 9 de fevereiro, na Praça de São Pedro, num dia de frio e vento em que assumiu as “dificuldades em respirar” e pediu “desculpas”, antes de passar ao mestre das celebrações litúrgicas pontifícias, D. Diego Ravelli, a responsabilidade de ler a homilia.

O Papa deixou a Praça em carro fechado, seguindo imediatamente para Santa Marta, onde manteve a sua agenda de compromissos, inclusive na manhã de 14 de fevereiro, pouco antes da sua quarta hospitalização no 10.º andar do Hospital Gemelli, em Roma.

Francisco foi diagnosticado com uma infeção polimicrobiana das vias respiratórias, que se agravou para uma pneumonia bilateral, num quadro clínico definido como complexo, mas já sem prognóstico reservado.

OC

Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, a 17 de dezembro de 1936; filho de emigrantes italianos, trabalhou como técnico químico antes de se decidir pelo sacerdócio, no seio da Companhia de Jesus, licenciando-se em filosofia e teologia.

Ordenado padre a 13 de dezembro de 1969, foi responsável pela formação dos novos jesuítas e depois provincial dos religiosos na Argentina (1973-1979).

João Paulo II nomeou-o bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992 e foi ordenado bispo a 27 de junho desse ano, assumindo a liderança da Arquidiocese argentina a 28 de fevereiro de 1998, após a morte do cardeal Antonio Quarracino.

D. Jorge Mario Bergolgio seria criado cardeal pelo Papa polaco a 21 de fevereiro de 2001, ano no qual foi relator da 10ª assembleia do Sínodo dos Bispos.

O cardeal de Buenos Aires foi eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março de 2013, após a renúncia do pontífice alemão, assumindo o inédito nome de Francisco; é também o primeiro Papa jesuíta e o primeiro pontífice sul-americano na história da Igreja.

São Gregório III, da Síria, que liderou a Igreja Católica entre 731 e 741, tinha sido o último Papa não-europeu, antes da eleição de Francisco.

O Papa tem como lema ‘Miserando atque eligendo’, frase que evoca uma passagem do Evangelho segundo São Mateus: “Olhou-o com misericórdia e escolheu-o”.

Francisco fez já 47 viagens internacionais, nas quais visitou 67 países, incluindo Portugal (2017 – centenário das Aparições de Fátima – e 2023 – para a JMJ Lisboa, tendo passado também por Fátima).

Dentro da Itália, o Papa realizou mais de 30 visitas a várias localidades, incluindo uma passagem pela ilha de Lampedusa, primeira viagem do pontificado, e cinco deslocações a Assis.

Entre os principais documentos do atual pontificado estão as encíclicas ‘Dilexit Nos’ (2024), texto dedicado à devoção ao Coração de Jesus; ‘Fratelli Tutti’ (2020), sobre a fraternidade humana e a amizade social; ‘Laudato si’ (2015), dedicada a questões ecológicas; a ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé, 2013), que recolhe reflexões de Bento XVI; as exortações apostólicas ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho), texto programático do pontificado, de 2013; ‘Amoris laetitia’, de 2016, dedicada à família; o documento sobre a “Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência comum” assinado pelo Papa Francisco e o grão imã de Al-Azhar, Ahamad al-Tayyi, em Abu Dhabi (2019).

A reforma dos organismos centrais de governo da Igreja Católica, levada a cabo com a ajuda de um inédito conselho consultivo de cardeais, dos cinco continentes, foi concretizada através da Constituição Apostólica ‘Praedicate Evangelium’, de 2022, propondo uma Cúria Romana mais atenta à vida da Igreja Católica no mundo e à sociedade, com maior protagonismo para os leigos e leigas.

Francisco convocou cinco assembleias do Sínodo, dedicadas à sinodalidade (2023 e 2024), à Amazónia (2019), aos jovens (2018) e à família (2015 e 2014), além de uma cimeira global sobre o combate e prevenção aos abusos sexuais (2019).

Durante este pontificado foram proclamados mais de 900 santos e santas – incluindo um grupo de 805 cristãos que morreram em Otranto (Itália), às mãos dos otomanos muçulmanos em agosto de 1480.

O elenco inclui incluindo várias figuras ligadas a Portugal: Francisco e Jacinta Marto, pastorinhos de Fátima, canonizados a 13 de maio de 2017 na Cova da Iria; D. Frei Bartolomeu dos Mártires (1514-1590), arcebispo de Braga, por canonização equipolente (dispensando o milagre requerido após a beatificação); o sacerdote português Ambrósio Francisco Ferro, morto no Brasil a 3 de outubro de 1645 durante perseguições anticatólicas, por tropas holandesas; o padre José Vaz, nascido em Goa, então território português, a 21 de abril de 1651, que foi declarado santo no Sri Lanka; e José de Anchieta (1534-1597), religioso espanhol que passou por Portugal e se empenhou na evangelização do Brasil.

Francisco convocou até hoje dez Consistórios, nos quais criou 163 cardeais, entre eles D. Manuel Clemente, patriarca emérito de Lisboa; D. António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima; D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação; e D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal.

No seu pontificado, a Igreja Católica celebrou dois Jubileus – em 2016, num Ano Santo Extraordinário, dedicado à Misericórdia, e o atual Ano Santo ordinário, dedicado à esperança; criou, entre outros, o Dia Mundial dos Pobres, o Domingo da Palavra de Deus e o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos.

 

 

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