Vaticanista da Agência ECCLESIA recorda percurso do Papa, que comemora 11 anos de eleição
Lisboa, 13 mar 2024 (Ecclesia) – Octávio Carmo, vaticanista da Agência ECCLESIA considera que o Papa Francisco deixa para o futuro o legado de uma “Igreja sinodal”, de “uma nova responsabilização e de um novo protagonismo para todos os membros da comunidade católica”.
“A ideia de uma Igreja sinodal que caminha em conjunto, que tem processos de decisão partilhados, de envolvimento da comunidade e de responsabilização de todos, é algo que, ficando para o futuro, vai transformar radicalmente [a Igreja]”, afirma.
“Não é a Igreja abstrata e teórica, aqui falamos de Igreja concreta, as suas comunidades, a forma como elas se reúnem, como elas se celebram, como elas se inserem no mundo, é mudada radicalmente e eu acho que essa é a mudança que o Papa quer e que vai deixar para o futuro”, defende o jornalista, em entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA, na RTP2, a respeito dos 11 anos de eleição de Francisco.
O jornalista realça que “a necessidade de encontrar propostas de vida e respostas novas para os anseios do mundo contemporâneo” são também marcas do percurso do Papa.
“E é isso que justifica textos que são muito conhecidos e muito estimados, pelo menos pela maior parte das pessoas que os lê, como a Fratelli Tutti ou Laudato si’, em que o Papa ensaia respostas novas para problemas novos do mundo contemporâneo e lança a Igreja na busca dessas respostas”, destaca.
Octávio Carmo salienta que esta busca é feita “não a partir de um gabinete, de um homem fechado na sua torre de marfim, mas de uma Igreja que tem os pés sujos do caminho, porque caminha com a humanidade”.
Essa é uma imagem que o Papa insiste muito e que claramente deve ser a imagem mais interpeladora para as pessoas. As pessoas, se sentem algum desconforto perante este pontificado, têm em primeiro lugar de pensar que imagem têm da Igreja, que imagem têm da sua fé e se ela se limita a uma espécie de ritualismo individualista ou se efetivamente tem uma dimensão comunitária, que é uma marca do Cristianismo desde a sua fundação”.
A 13 de março de 2013, Jorge Mario Bergoglio foi eleito Papa, aos 76 anos de idade, e, segundo o vaticanista, a experiência de vida e o longo percurso ao serviço da Igreja que trazia permitiram uma liderança que prima pela proximidade, pelo conhecimento do ser humano, da sociedade, dos sofrimentos do mundo atual.
“E essa longa experiência, de facto, transformou um bocado a ideia e até a imagem do pontificado. Porque é alguém que já chega com um sentido de missão. E que, no fundo, e isso é um clássico, vem trazer para Roma uma experiência do mundo diferente”, indica.
A Igreja em saída, a Igreja como hospital de campanha, a sinodalidade e o caminhar em conjunto nascem, de acordo com Octávio Carmo, da experiência concreta “de alguém que tem um percurso de vida que o inspirou para aquilo que queria da Igreja agora”.
No entanto, o vaticanista sublinha que estes 11 anos de pontificado do Papa Francisco foram marcados por “tensões”: “Há dificuldades, há obviamente alguma perplexidade em alguns momentos perante aquilo que é a forma de Francisco ser Papa, porque há uma ideia do que é que deve ser um Papa, que é muito questionada”.
O chefe de redação da Agência ECCLESIA ressalta que “a ideia de risco está muito presente no pontificado”.
“O Papa é um Papa não conservador para os católicos, mas para quem vê de fora, apesar de toda a grande admiração que ele tem conquistado, não deixa de ser uma pessoa conservadora. E, portanto, há tensões face à ideia de mudança. A mudança é percebida internamente como muito mais rápida do que é percebida externamente. Externamente havia conjuntos de expectativas para o pontificado que eram inconcretizáveis, realisticamente”, reconhece.
Octávio Carmo identifica que “em poucos anos foi visível uma intenção de reforma da Igreja, uma intenção de mudança e uma intenção de abertura”.
Aos 87 anos, o Papa Francisco comemora hoje 11 anos de pontificado, escritos na história da Igreja, que pela primeira vez tem um pontífice jesuíta e do continente americano.
A Agência ECCLESIA recorda, nesta data, o percurso e a eleição do Papa.
HM/LJ