«A paz, precisamos de paz», refere, em podcast lançado pelo Vaticano
Cidade do Vaticano, 13 mar 2023 (Ecclesia) – O Papa assinalou hoje o décimo aniversário de eleição pontifícia, celebrando uma Missa com cardeais, em privado, na Casa de Santa Marta, onde reside, no Vaticano.
A data marca ainda o lançamento do ‘popecast’, um programa do media do Vaticano, no qual Francisco lamenta ser Papa “no tempo da III Guerra Mundial”, escolhendo como momento “mais bonito” do pontificado o “encontro na Praça de São Pedro com os velhos”, a audiência com idosos e avós de todo o mundo que reuniu 40 mil pessoas, incluindo o Papa emérito Bento XVI, na Praça de São Pedro, a 28 de setembro de 2014.
“Os velhos são sabedoria e ajudam-me muito. Eu também sou velho, não? Os velhos que são como o vinho bom, que têm história. Os encontros com os velhos renovam-me, fazem-me mais jovem, não sei porquê… São momentos lindos, lindos”, refere.
Questionado sobre o momento da eleição pontifícia, a 13 de março de 2013, o Papa diz imediatamente: “Parece que foi ontem”.
Francisco admite não conhecer o conceito de “podcast”, mas perante a explicação dos profissionais do ‘Vatican Media’ acede prontamente: “É bonito, vamos fazê-lo”.
A década de pontificado é vista como “uma tensão, viver em tensão”.
“O tempo urge… tem pressa. E quando queres aproveitar o hoje, já é ontem. Se queres aproveitar o amanhã, ainda não é. Estás sempre nesta tensão, de um hoje que é ontem e não é amanhã. Viver assim é um pouco viver a novidade, mas em tensão entre o hoje e o amanhã. Esses dez anos foram assim”, precisa.
O Papa admite que os momentos maus estão ligados às memórias das duas Guerras Mundiais, com as visitas aos cemitérios militares de Redipuglia e Anzio, na Itália, ou a comemoração do desembarque na Normandia, bem como as guerras, sobretudo na Síria e na Ucrânia.
Penso nas mães, que recebem uma carta que diz: ‘senhora, tenho a honra de lhe dizer que é mãe de um herói. Esta é a medalha’. Chega a carta, a medalha, mas já não há o filho. Isto faz-me sofrer muito”.
Francisco insiste na ideia que se vive uma III Guerra Mundial, admitindo que via o conflito na Síria como algo “singular”, mas depois veio o Iémen, a “tragédia” dos roinjas, no Myanmar, e cresceu a certeza da generalização da violência.
“Por trás da guerra mundial, das guerras, está a indústria das armas. Isto é diabólico”, denuncia.
O aniversário de pontificado chega num contexto marcado pela guerra na Ucrânia, iniciada há mais de um ano, com a invasão russa.
“Faz-me sofrer ver os mortos, estes jovens, tanto russos quanto ucranianos, não me interessa, os dois, que não regressam a casa. É duro”, refere.
Quando o jornalista lhe pergunta o que gostaria de pedir como presente, neste aniversário, o Papa responde: “A paz, precisamos de paz”.
A conversa conclui-se com uma partilha sobre os três “sonhos” do Papa para a Igreja, para o mundo e para a humanidade: “Fraternidade, choro e sorriso”.
“A fraternidade humana, somos todos irmãos, temos de recompor a fraternidade. E de aprender a não ter medo de chorar e de sorrir, quando uma pessoa sabe chorar e sabe sorrir, é uma pessoa que tem os pés no chão e o olhar no horizonte futuro. Quando uma pessoa se esqueceu de chorar, algo não está bem, e quando se esqueceu de sorrir, pior ainda”, declara.
Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, a 17 de dezembro de 1936; filho de emigrantes italianos, trabalhou como técnico químico antes de se decidir pelo sacerdócio, no seio da Companhia de Jesus, licenciando-se em filosofia e teologia.
Ordenado padre a 13 de dezembro de 1969, foi responsável pela formação dos novos jesuítas e depois provincial dos religiosos na Argentina (1973-1979).
João Paulo II nomeou-o bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992 e foi ordenado bispo a 27 de junho desse ano, assumindo a liderança da diocese a 28 de fevereiro de 1998, após a morte do cardeal Antonio Quarracino.
O primaz da Argentina seria criado cardeal pelo Papa polaco a 21 de fevereiro de 2001, ano no qual foi relator da 10ª assembleia do Sínodo dos Bispos.
Tem como lema ‘Miserando atque eligendo’, frase que evoca uma passagem do Evangelho segundo São Mateus: “Olhou-o com misericórdia e escolheu-o”.
O cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março de 2013, após a renúncia do agora Papa emérito, assumindo o inédito nome de Francisco; é também o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja.
OC