Francisco

Manuel Castelo Branco, Diocese de Coimbra

Francisco ainda mora aqui. Francisco morará sempre aqui. O modo de ser de Francisco, a simplicidade no vestir, no falar e no estar, o humor fino, o riso largo, a ternura dos gestos tocarão sempre fundo, e para sempre, quem teve a graça de ser seu companheiro de tempo, neste tempo.

Pois a fala de Francisco, como na música dos Clã, é o sopro do coração. E o lugar de Francisco é a fonte das águas vivas do coração.

A sua última carta encíclica, Amou-nos (Dilexit nos) recupera a centralidade simbólica do coração, ou seja, a prática concreta do amor dadivoso, como chave de leitura dos textos evangélicos, e, logo, do modo de ser cristão no mundo.

É um magnífico tratado sobre o amor humano. Para ser colocado ao lado dos textos de Alain Badiou (Elogio do Amor), Erich Fromm (A Arte de amar), Zygmunt Bauman (Amor Líquido) e Simon May (Amor — Uma História).

Em Francisco o coração está fora do mercado, não é bem de consumo nem mercadoria transacionável.

De igual modo, é o avesso de puros sentimentos psicologizados ou de delírios de posse do outro.

Para Francisco o coração é um imperativo categórico. De, como afirmou em Lisboa, apenas ser legítimo debruçar sobre o outro para o levantar do chão. E o levar pela mão. E o deixar ser primeiro.

E é um imperativo de solicitude social e de ação política, como, à semelhança dos seus antecessores, deixa cristalino nas encíclicas sociais Laudato si e Fratelli tutti.

E, finalmente, é um imperativo de fidelidade aos textos evangélicos, que, de modo incondicional, configuram a humanidade como casa comum de fratres.

É necessário que Francisco não deixe de morar aqui.

Manuel Castelo Branco, CDJP

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

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