Província portuguesa promoveu congresso internacional para reavivar o espirito de Assis num mundo em «dispersão»
Lisboa, 28 jul 2012 (Ecclesia) – O provincial da Ordem Franciscana em Portugal, padre Vitor Melicias, sublinhou hoje em Lisboa a importância de reavivar o espirito de Assis numa sociedade onde os interesses financeiros se sobrepuseram ao primado do humanismo.
Em declarações à Agência ECCLESIA, no encerramento do Congresso Internacional “Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico: História, Arte e Património”, o responsável pela Congregação dos Frades Menores desafiou “irmãos e irmãs” a “irem pelo mundo” e a promoverem a “construção de um destino comum” entre os homens.
“Vivemos uma profunda crise, que tem expressão na economia, na política, mas é fundamentalmente uma crise de valores. A espiritualidade franciscana pode ajudar a humanidade a encontrar um caminho e um horizonte para a dispersão em que se encontra”, frisou o sacerdote, no Centro Cultural Franciscano, em Lisboa.
Fundada em 1209 por São Francisco de Assis, a congregação teve um papel essencial na difusão do cristianismo e na criação de pontos de contacto entre povos, durante a época dos Descobrimentos.
Segundo o padre Vitor Melícias, naquele tempo, que a Ordem designou como a primeira globalização, “a mística franciscana era a mística do encontro, da fraternidade, de uma descoberta mas para encontrar, para partilhar o futuro com as diferentes culturas, com os povos, até com as diferentes crenças que iam encontrando”.
“Na segunda globalização que estamos a viver, esse encontro torna-se ainda mais urgente”, defendeu o provincial, que pediu aos religiosos que se pautem sobretudo por uma “atitude de empatia com o mundo” e que tenham a capacidade de, inseridos na “realidade concreta” de cada povo, “colocarem na ribalta” o valor da fraternidade e abrirem caminhos para um futuro melhor.
“Pode até não ser fácil, mas o franciscano é pela sua natureza, pela sua lógica, um guardião da esperança”, salientou.
O Congresso Internacional sobre a Ordem Franciscana, promovido pela Sociedade de Geografia de Lisboa, tinha como principal objetivo revisitar um conjunto de marcos religiosos, sociais e culturais que a congregação ergueu durante oito séculos de história e, mais especificamente, a partir da expansão luso-hispânica.
No entanto, de acordo com Fernando Larcher, membro da comissão executiva do evento, os cinco dias de debate acabaram por ajudar a redescobrir a atualidade e a utilidade do pensamento franciscano.
“Estamos confrontados com um mundo em aparente falência ideológica e doutrinária e agora começa a haver a lembrança que houve um pensamento social, que existiram importantes filósofos franciscanos, entre a Idade Média e os nossos dias, que se calhar podem dar uma importante resposta a esta desordem institucional com que estamos confrontados”, constatou.
A organização foi surpreendida pelo número elevado de pessoas que quiseram participar na iniciativa – cerca de uma centena de historiadores e investigadores – e também pela “quantidade de trabalhos e teses que se estão a fazer sobre o franciscanismo”, um pouco por todo o mundo.
JCP