Nos 800 anos da aprovação da «forma de vida», frades propõem fraternidade e solidariedade para o mundo actual
Entre o perigo do relativismo e uma prática cristã “de moda”, o Franciscanismo propõe um retorno ao essencial da vida cristã, assente na fraternidade autêntica e solidariedade, sem “proselitismo”.
Oito séculos depois da aprovação da “forma de vida” de São Francisco de Assis, o “desgaste é natural”. O reconhecimento é feito pelo Frei Daniel Teixeira, Director do Centro de Franciscanismo, em Coimbra, que explica à Agência ECCLESIA que “todo o cristão, seja franciscano ou não, está sempre em processo de conversão, em busca da fidelidade e de um testemunho coerente”.
Em 1209 o Papa Inocêncio III reconhecia a “forma de vida”, conforme chamava São Francisco ao viver de acordo com o Evangelho assente em valores de fraternidade e solidariedade. No Séc. XXI, os frades menores querem “procurar os valores iniciais” que, sofrendo com as mudanças actuais, “são de uma extraordinária actualidade, dentro ou fora da Igreja”, indica o Frei Teixeira.
A fraternidade universal, a descoberta de todos como irmãos “independentemente do seu credo”, a preocupação com o ecumenismo, a “aproximação a todos os homens sem a preocupação da conversão, mas assente num testemunho de proximidade” são, segundo o Frei Daniel Teixeira um modo de vida necessário na actualidade.
“As mudanças dos tempos modernos, a organização social e política e a própria estrutura mental do homem obriga-nos a uma constante busca da fidelidade e obriga-nos a assistir o homem de hoje com meios diferentes mas sabendo incarnar o espírito inicial, que deu sentido à vida de São Francisco”.
Constantemente desafiados por valores modernos “tantas vezes contrários ao que o Evangelho propõe e também ao espírito inicial da família franciscana”, o frade franciscano indica a necessidade “de nos purificarmos para sermos testemunhas do desapego, sabemos partilhar os bens convidando também os homens à partilha”.
Sentindo ser “contra-corrente” de uma sociedade “massificada e auto-suficiente”, o Frei Daniel considera que “viver o Evangelho é uma ousadia nos dias de hoje”.
Apesar de criticar os que “são cristãos por moda”, o Frade reconhece que actualmente a maioria dos cristãos são mais convictos do que eram antigamente, quando se assistia a uma prática cristã “mais por tradição do que por convicção”. Mas esta convicção “consegue dar resposta às dúvidas do homem actual”, indica o Frei Daniel Teixeira. Isso mesmo se sentiu na 37ª Peregrinação anual da família Franciscana ao Santuário de Fátima, que juntou, este fim-de-semana, cerca de oito mil pessoas.
A família Franciscana, no final da celebração dos oito séculos da aprovação da “forma de vida franciscana” aposta na “renovação dentro da fidelidade”. Uma renovação feita também através de novas vocações religiosas.
Actualmente, encontram-se três portugueses em fase de noviciado. A província portuguesa assume ainda a preparação de mais dois jovens moçambicanos e três jovens provenientes da Indonésia.
Todas as instituições estão em crise, reconhece o Frei Daniel Teixeira, “quer sejam as instituições políticas, sociais ou ecclesiais”. Mas, apesar de reconhecer um número menor de vocações sacerdotais quando comparado com tempos anteriores, “continuamos a ter jovens que querem percorrer este caminho connosco”.