José Coutinho da Silva, antigo colaborador da Conferência Episcopal Francesa , diz que falta formação na comunidade muçulmana
Orleães, França, 13 jan 2015 (Ecclesia) – O antigo diretor do Serviço da Pastoral das Migrações da Conferência Episcopal Francesa afirmou que um número de “extremistas perigosíssimos” cresce nas prisões gaulesas, considerando intolerável" que os muçulmanos pacíficos tenham de viver de cabeça baixa.
“O olhar tem sido tão carregado sobre os muçulmanos que se sentem na obrigação de justificar que não são como os terroristas. Há pessoas que agora baixam os olhos e é intolerável que tenham de viver assim”, disse José Coutinho da Silva à Agência ECCLESIA.
O emigrante português, antigo diretor do Serviço da Pastoral das Migrações, que se encontra em Orleães desde 1971, assinala que ainda existem “muitos casos” dos praticantes do Islão a reunirem-se em caves, em “salas de oração precárias”, sem uma permissão para uma “formação sólida e séria” de imãs e responsáveis que “orientem e eduquem” a comunidade.
A ausência de formação estende-se ao ambiente prisional onde “o extremismo islâmico tem ganho muita força”, com conversões de pessoas que se tornaram “extremistas perigosíssimos”, e não existem capelães muçulmanos “suficientes nem suficientemente formados”.
“Infelizmente muito deste islamismo cresce, floresce e dá fruto na ignorância”, acrescentou.
José Coutinho da Silva destaca que existem “sinais” de “mudança, transformação, outras atitudes” que cada um tem de construir, mas alerta que “não há unanimidade” na sociedade, nomeadamente pela posição da extrema-direita.
“É uma sociedade plural de 67 milhões de habitantes e há sempre a interrogação se iremos mudar”, observa, acrescentando que ainda estão “longe” de uma sociedade em que as “diferenças são qualidades e riquezas em vez de defeitos”.
A viver a cerca de 115 quilómetros a sul de Paris, José Coutinho da Silva referiu que esta segunda-feira viu muçulmanos a distribuírem panfletos, que não estavam “assinados por nenhuma organização”, a explicar que o Islão “não é violência”.
Existe a tentativa de explicar que o terrorismo e o extremismo “são do agrado dos jovens” porque vivem em “más condições” e “não têm acesso ao trabalho”, comenta.
Os magrebinos têm “muito mais dificuldade” em encontrar trabalho que os filhos de outros emigrantes, mesmo com “diplomas iguais”, situação que se agrava quando residem “em determinados bairros periféricos”.
José Coutinho da Silva revelou que, no rescaldo das manifestações deste fim-de-semana, existe um “debate importante” sobre a educação que dos jovens, “não só nos estabelecimentos de ensino mas também nas próprias famílias”.
Na cidade onde reside decorreu uma manifestação, no sábado, que juntou cerca de 30 mil pessoas: “Teve a mesma cor e mesmo tom de respeito, gravidade e silêncio que a de Paris”.
Sobre a manifestação na capital francesa, em concreto sobre a presença de vários chefes de Estado, José Coutinho da Silva deseja que haja uma “vontade real de agir” nos seus países com políticas que “fomentem a paz, a concórdia” para que os extremismos não se desenvolvam.
“(A presença dos chefes de Estado) pode significar consciência, que haja travão ou tentativa em atenuar os seus efeitos”, observou o antigo diretor do Serviço da Pastoral das Migrações da Conferência Francesa.
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