A maior edição de sempre do Fórum Social Mundial (FSM) chegou ontem ao fim com 352 propostas lançadas pelos 155 mil participantes, relativas à promoção da paz, da justiça e do respeito pelos Direitos Humanos. “Não matar em nome de nenhum Deus” é uma dessas propostas, subscrita por mais de 50 movimentos de todo o mundo. “Uma carta mundial para o direito à cidadania”, a “promoção de redes de economia solidária e popular”, um pedido de intervenção da ONU para condenar George W. Bush “por crimes contra a humanidade”, a luta contra a pobreza – de modo a atingir os objectivos do Milénio – e mesmo a “democratização do futebol” foram assuntos que ficaram consagrados nas propostas finais. Esta quinta edição do FSM começou como expressão da diversidade planetária, “polifonia de vozes que se encontram em desejos universais da tolerância, da justiça, da paz, da igualdade” segundo os seus promotores. A este aspecto, comum a todas as edições, juntou-se o desafio de ser mais propositivo, de avançar agendas comuns. Além da nova metodologia, o V FSM trouxe uma novidade para tornar ainda mais visível o seu carácter propositivo: o Mural de Propostas para a Construção de Outros Mundos. O mural tem o intuito de tornar visíveis as conclusões e as propostas surgidas das actividades realizadas no FSM2005. Durante o Fórum, foram entregues 352 propostas em tendas espalhadas pelo Território Social Mundial. As propostas estarão disponíveis no site de Memória do Fórum (www.memoria-viva.org), que ainda está em construção. A bioconstrução, a economia solidária, o uso do software livre, a rede de voluntários da tradução e novas formas de comunicação compartilhada foram presenças constantes no dia a dia dos trabalhos. O FSM decorreu no mesmo período do Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça, encontro que reúne chefes de Estado e os grandes investidores internacionais. Pessoas de 135 países estiveram envolvidas em 2500 actividades e 2800 voluntários trabalharam na realização do encontro. Ficou definido que em 2006 o Fórum Social Mundial será descentralizado, realizado em vários lugares do mundo, e, em 2007, será na África. Propostas da Cáritas A organização católica para a assistência e a solidariedade, Cáritas, teve uma presença destacada ao longo destes dias, em Porto Alegre. A Confederação internacional do organismo contou com 400 participantes durante o encontro. Ao longo da iniciativa, a Cáritas Europa ofereceu seminários sobre três temas principais: a Reconciliação, a luta contra a pobreza e o tráfico de seres humanos. Em relação a este tema, foi recordado aos participantes que mais de um milhão de pessoas são vítimas do tráfico humano todos os anos. “O regime de escravidão, na verdade, nunca acabou no mundo, o ser humano está a ser comercializado como ‘carne humana’, algo parecido com o que se faz com um boi ou umavaca”, afirmou o Pe. Piero Sabatini, da Cáritas de Florença. Na África, segundo Priscilla Achapka, da Cáritas da Nigéria, 1,4 milhões de pessoas são encaminhadas para tráfico, principalmente as mulheres que são recrutadas para prostituição. “As escolas são um dos locais que servem para recrutar as vítimas”, avisa Achapka. Na Ásia, depois do Tsunami, o tráfico aumentou muito, segundo frei Bogatti, da Cáritas de Nepal. “As crianças que ficaram órfãs com o Tsunami são recrutadas pelo tráfico e enviadas para o Oriente Médio”, alerta. As diversas Cáritas apresentaram iniciativas de combate ao tráfico como abrigos para mulheres vítimas do tráfico, apoio jurídico, serviço de saúde, transporte e a sensibilização da população para o problema.