Bispo da Pastoral Social e Mobilidade Humana explicou que não deixarão «de apoiar e de valorizar a pessoa no seu sonho de vida»

Fátima, 15 nov 2025 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana disse que o Fórum Migrações, que hoje se realizou em Fátima, sublinha a “valorização da pessoa humana como força da mensagem cristã” e o “reconhecimento da fraternidade humana”.
“A nossa abrangência é larga, no sentido do diálogo, do apoio. Não obrigamos ninguém a celebrar connosco a nossa dimensão de fé, e não deixamos de prestar algum apoio social a uma pessoa que tenha uma outra confissão religiosa”, disse D. José Traquina, em declarações aos jornalistas.
“Não deixamos de apoiar e de valorizar a pessoa no seu sonho de vida, sonho de felicidade, se passar por Portugal”, acrescentou o presidente da Comissão da Pastoral Social e Mobilidade Humana, da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
A CEP realizou hoje o I Fórum Migrações, com o objetivo de sensibilizar e formar as comunidades cristãs para o fenómeno migratório, e reuniu 70 pessoas – bispos, de agentes pastorais das dioceses com ligação à dinâmica das migrações, de organismos nacionais da Conferência Episcopal e de congregações religiosas -, este sábado, dia 15 de novembro, no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima.

“Em síntese está a valorização da pessoa humana como força da nossa mensagem cristã e o reconhecimento da fraternidade humana presente na nossa mensagem e de reconhecer que, para nós, Igreja, não há estrangeiros, digamos assim, são todos irmãos e irmãs quando celebramos a Santa Missa, estamos em comunidade cristã”, concluiu D. José Traquina deste encontro.
O bispo de Santarém salientou que a dimensão fraternal responsabiliza-os no sentido do acolhimento e de colaborarem naquilo que é possível e naquilo que puderem “de modo a que se sintam bem nas comunidades cristãs”.
A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) afirmou que as migrações “não são uma questão ideológica”, mas, “infelizmente estão a ser politizadas e polarizadas”, questionada sobre algumas manifestações de líderes partidários sobre os migrantes.
“Temos que olhar para o fenómeno migratório como uma questão natural, é uma questão humana, é uma estratégia para lutar contra a pobreza, é uma estratégia para o autodesenvolvimento, é uma estratégia para desenvolver as comunidades de origem. Temos que olhar de uma ou outra forma e sermos capazes de dialogar sobre as questões que são transversais, sobre o que é que acontece com os países de origem quando perdem os seus migrantes, e os Estados passam todos por isto”, desenvolveu Eugénia Quaresma.
Segundo a responsável da OCPM, é importante, e saiu reforçado neste Fórum Migrações, que é preciso “olhar para a pessoa em circunstância de migração, que pode ser qualquer um”, porque as causas que trazem as pessoas para Portugal e as causas que levam os portugueses a emigrar “são cíclicas e podem bater à porta de qualquer um”.

“A questão das migrações é complexa e precisa de respostas interligadas; As causas das migrações são as mesmas, as de hoje e as de ontem: São as guerras, são as questões climáticas, é o desejo pessoal de se desenvolver, é a própria vocação para acompanhar os migrantes”, acrescentou, reforçando que o modo como se escuta, se acolhe ou não os migrantes “é isso que faz a diferença”, e alertou que há exemplos de exclusão “que trouxeram prejuízo a longo prazo”.
A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações explicou também que constatam que as regiões que “não estavam habituadas a receber a população migrante”, se calhar, são aquelas que “reagem com mais medo”, e lembrou que uma das orientações que receberam do Vaticano “é reconhecer e vencer o medo”.
“E, para reconhecer e vencer o medo, eu tenho que conhecer as pessoas, eu tenho que promover o encontro. E esta promoção do encontro pode ser feita a partir de organizações da Igreja, como pode ser feita a partir do município, por exemplo, ou da Junta de Freguesia”, indicou Eugénia Quaresma.
| Antes, na intervenção final do ‘Fórum Migrações’, D. José Traquina salientou que este tema das migrações “é preocupação de forma alargada na sociedade portuguesa”, e é preciso “ser abordado de forma equilibrada e justa”, salientando que “a realidade das migrações é mundial desde sempre”.
“Não podemos estranhar que a ideia de uma sociedade estável, tudo direitinho, sem mudanças, nunca existiu, não existe. Em Portugal há necessidade de gente para trabalhar, a diminuição do desemprego, o conhecimento da relação económica do país também conta para virem para Portugal”, acrescentou, pedindo reflexão sobre o que foi o passado dos portugueses que emigraram para países na Europa, e nos continentes americano e africano. O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana salientou que Portugal é “uma comunidade envelhecida, grande parte dos jovens emigram”, e reconheceu o “trabalho de algumas câmaras municipais, de grande valor para incluir, tratar, acolher e integrar os migrantes”, alguns centros distritais da Segurança Social, “naturalmente as paróquias e os serviços diocesanos”, e valorizou também os empresários que “são agentes sociais de grande possibilidade”, muitos “já resolveram o problema de resistência dos empregados estrangeiros”. “É possível valorizar os empresários para que estejam na linha de frente neste cuidado da questão das residências e no acolhimento aos estrangeiros”, sublinhou o bispo de Santarém que, concluiu, afirmando que a Igreja proclama a “igual dignidade de todos os seres humanos, independentemente da sua condição de vida e das suas qualidades”. |
Nas conclusões do I Fórum Migrações, promovido pela Conferência Episcopal Portuguesa, enviadas à Agência ECCLESIA, os participantes apresentaram algumas reflexões, após reunirem por grupos ao estilo sinodal, que marcam a realidade do fenómeno migratório em Portugal, e alertam, por exemplo, para a “degradação da opinião sobre os migrantes no espaço público”, que a “falta de evangelização na Igreja” dificulta respostas mais abertas e integradoras, que as dificuldades dos migrantes no acesso à habitação digna, aos cuidados de saúde e à educação “são transversais”.
Os agentes pastorais da Igreja consideram também que os desafios no acesso ao reagrupamento familiar por parte das famílias imigrantes, “é uma ameaça à garantia da dignidade da pessoa humana e comprometem a coesão social”, devido à importância da família “no desenvolvimento integral da pessoa humana”. Os 70 participantes deste fórum dedicado às migrações também propuseram várias linhas de atuação, como “reconhecer em cada migrante um irmão”, a Igreja Católica ser uma “voz protetora dos migrantes” e ter uma estratégia de comunicação integrada, conhecer também o trabalho a nível paroquial e diocesano, “mapeando os recursos disponíveis, partilhando aprendizagens e boas práticas”, trabalhar em rede.
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CB/PR

