Decorre no Vaticano o Fórum católico-muçulmano sobre o tema «Amor a Deus, amor ao próximo», um encontro que, pela primeira vez, junta representantes de cada religião, entre especialistas, autoridades religiosas e conselheiros. O encontro tem dois objectivos. Primeiro aprofundar os fundamentos teológicos e espirituais e o segundo, reflectir sobre a dignidade da pessoa humana e o respeito mútuo. Cada um destes temas será apresentado do ponto de vista católico e muçulmano. No primeiro dia do encontro, o líder da delegação vaticana, o Cardeal Jean Louis Tauran, concedeu uma entrevista onde afirmava que a tensão nas relações entre católicos e islâmicos deve-se ao facto de no mundo muçulmano, o cristianismo ser associado ao Ocidente. Esta associação representa, segundo ele, uma “mistura perigosa”, porque quando os líderes ocidentais tomam decisões políticas que os muçulmanos consideram contrárias aos seus interesses, eles dizem “os cristãos atacam, os cristãos provocam. E isto cria tensão nas relações. Esta situação agrava as dificuldades dos cristãos, que são minoria nos países islâmicos”, indicou o Cardeal. O Cardeal Tauran destacou ainda que a Santa Sé tem o de defender os direitos fundamentais, quando são ameaçados ou negados. “Recordamos os direitos fundamentais da pessoa humana: o direito à vida, à liberdade de consciência e de religião e todos os direitos relacionados”. Para D. Jean Louis Tauran, “paralelamente ao caminho diplomático, que representa «um canal privilegiado», o diálogo inter-religioso permite recordar os direitos e as aspirações legítimas dos nossos irmãos na fé, quando se tornam alvo de perseguições e violências”. No entanto, “não temos outra escolha senão caminhar juntos. Estamos todos no caminho rumo à verdade. Quando nos encontramos em situações difíceis, não devemos ter medo de dizer no que acreditamos. Não devemos temer a denúncia de violações de direitos humanos, quaisquer que sejam, para que prevaleça a verdade, e não a força. A força do direito é predominante sobre o direito da força”. Entretanto, Yahya Pallavicini, vice-presidente da COREIS, a Comunidade religiosa islâmica italiana, afirmou que os seus objectivos para este encontro visam “encontrar soluções concretas, que possam salvaguardar a dignidade da fé e a dignidade dos fiéis cristãos e muçulmanos, em todos os âmbitos da vida e da sociedade contemporânea”. Yahya Pallavicini quer também encontrar “uma fraternidade mais consciente e eficaz, que saiba responder aos desafios do mundo actual e aos riscos que o pós-modernidade e a secularização tentam provocar”. O encontro termina amanhã, dia 6, com uma declaração comum e uma audiência com Bento XVI, na Universidade Pontifícia Gregoriana.