Formar Sacerdotes 2.0

O Papa Bento XVI, numa recente carta dirigida aos seminaristas, afirma que «os homens sempre terão necessidade de Deus – mesmo na época do predomínio da técnica no mundo e da globalização –, do Deus que Se mostrou a nós em Jesus Cristo e nos reúne na Igreja universal». Indo mais longe, pode-se afirmar que essa necessidade de Deus que os homens têm, pode ser colmatada utilizando o predomínio da técnica no mundo e da globalização em que vivemos. A comunhão gerada na Igreja Universal que nos reúne através de Cristo pode circular e expandir-se nesta nova Web 2.0. A Web 2.0 é a mudança para uma internet como plataforma. É o desenvolver de aplicativos e de designs de fácil percepção para que todos aproveitem os efeitos da rede. Tornando-se melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência colectiva. Os softwares são desenvolvidos de modo que fiquem melhores quanto mais são utilizados, pois os usuários podem torná-los mais acessíveis. Assim os usuários comuns, que até então não possuíam conhecimentos necessários para publicar conteúdo na Internet, podem partilhar informação de forma rápida e constante. Por isso, a Web 2.0 é um espaço de comunhão, onde há uma comunicação inter-activa, que dá atenção ao que se passa em todas as redes sociais. A própria definição já sinónimo de partilha de saberes e de perspectivas.

Estamos numa geração que vive entre “imigrantes digitais” e “nativos digitais”. Por isso há necessidade de formar sacerdotes que não olhem apenas a rede digital como um espaço de acesso a informação, mas que olhem essa rede como um espaço privilegiado de comunhão, de anúncio e de partilha do testemunho cristão constante e global. O cristão vive numa constantes tensão entre o “já” e o “ainda não”. Por isso tem necessidade de partilhar o resultado dessa tensão. Essa partilha levará outros a aproximarem-se de Cristo. Ao sacerdote é apenas pedido que coordene essa varias partilhas nas comunidades virtuais. Não que lidere, nem que oriente, mas que distribua os dons que derivam delas.

Têm surgido experiencias incipientes mas interessantes em algumas redes sociais. Porém, há que perceber que apenas estamos no inicio da utilização da Web como espaço de dialogo. Há muito caminho a percorrer. O novo sacerdote desta nova era tem que ser um “nativo digital” que olha para esta rede como o melhor e mais rápido lugar onde encontra as aspirações, não só dos cristãos, mas sobretudo daqueles que são objecto do primeiro anúncio da fé. A Web é neste momento o lugar do primeiro anúncio da Fé. Não desencarnado da realidade. Não esquecendo a corporeidade de quem está por detrás de um computador. Mas utilizando a facilidade da técnica e da partilha de vida que surge no mundo virtual para promover a identificação de cada homem com a pessoa de Cristo. Ao Sacerdote 2.0 é pedido que seja um homem de Deus, de comunhão com Jesus Cristo, criando e expandindo essa comunhão, de uma forma real nestas comunidades e redes virtuais que são constituídas por pessoas bem reais e que têm fome de Deus. Não de um deus individual e solitário, como muitos dos que vivem dependentes da internet são. Mas do Deus comunitário que estabelece uma relação pessoal connosco através da Igreja.

Por isso, pode-se dizer que a Salvação vinda de Deus também passa pela rede 2.0, e o novo sacerdote 2.0 precisa de estar lá, não já com uma presença passiva que se limita a receber e a colocar conteúdos, mas de uma forma activa, partilhando a sua experiência quotidiana de fé e coordenando as várias experiências que cada um vai partilhando. O sacerdote 2.0 promove o encontro de todos aqueles que fazem dessa rede uma parte importante de suas vidas, dialogando com eles, partilhando as suas alegrias e esperanças, as suas angústias e tristezas (cf. G.S.1), fazendo da rede 2.0 um espaço de comunhão e de comunicação do encontro dos Homens com Deus e entre si.

Pe. Miguel Neto (GIDAlg)

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