Formação académica dos sacerdotes

Entrevista ao Pe. Peter Stilwell, director da Faculdade de Teologia da UCP Antecipando a Semana dos Seminários, a Agência ECCLESIA foi ao encontro do Director da Faculdade de Teologia da UCP. Pe. Peter Stilwell, para perceber de que modo se processa a formação dos futuros sacerdotes Agência ECCLESIA (AE) – O curso de teologia está estruturado em função da formação dos futuros sacerdotes? Pe. Peter Stilwell (PS) – O novo Mestrado Integrado em Teologia obedece, em tudo, às normas da Santa Sé para a formação dos futuros sacerdotes. No entanto, preferia reformular a minha resposta de uma maneira mais ampla: trata-se de um curso organizado para a formação dos quadros superiores da Igreja, qualquer que venha a ser o modo de se integrarem nos serviços de que a Igreja necessita (sacerdotes, religiosos e religiosas, leigas e leigos). O importante é ministrar aos alunos uma formação cultural das mais amplas que uma universidade hoje oferece (línguas clássicas, filosofia, psicologia e ciências sociais) e, no interior desta, uma visão estruturada de todos os grandes capítulos em que se desdobrou, ao longo dos séculos, a reflexão da Igreja sobre a condição humana e o conteúdo da fé cristã. AE – Que formação é exigida aos candidatos ao sacerdócio que não esteja incluída no currículo do curso de teologia? PS – Há uma formação espiritual, pastoral, musical que os seminários têm a responsabilidade de assegurar, para que os candidatos ao sacerdócio se encontrem em condições, também nestas áreas, para estar à frente de comunidades cristãs. AE – A Teologia, a frequência do curso de teologia, na UCP, que relação mantém com outros cursos e com as pedagogias do ensino superior? PS – A relação com outros cursos começa a ser maior. Nos países latinos, a Teologia foi empurrada para fora do quadro do ensino superior. Gradualmente, graças ao prestígio pessoal de alguns dos nossos docentes, à qualidade da sua produção científica e à evolução das circunstâncias políticas e culturais, o factor religioso e a sua reflexão crítica começam a ser melhor apreciados. No interior da Universidade Católica Portuguesa, alguma coisa se vai fazendo, com docentes da Faculdade de Teologia a leccionar nalgumas das outras faculdades e institutos. No entanto, há um longo caminho ainda a percorrer até que o corpo docente das outras faculdades e os seus conselhos científicos se dêem conta da relevância da Teologia para as suas áreas de saber. Noutros países, há centros de estudo nas áreas da economia, da gestão e do direito, por exemplo, que integram teólogos entre os seus investigadores. Em Portugal, essa é uma visão da realidade que está ainda por descobrir. AE – A formação de futuros sacerdotes, na Faculdade de Teologia, inclui competências de liderança e de comunicação, tanto diante de massas como no diálogo mais próximo? PS – As competências de liderança e comunicação são importantes para os cargos que os quadros superiores da Igreja acabam por desempenhar. A Faculdade de Teologia não as tem tido como referência, na parte que lhe compete da formação integral dos seus alunos. Mas as coisas irão mudar. O processo de Bolonha estabelece como missão do ensino superior definir, à partida, os perfis científicos e profissionais que cada curso tem por objectivo formar. À medida que os mecanismos de avaliação contínua da Faculdade, agora criados, forem entrando em acção, a pedagogia irá, seguramente, ajustar-se de forma a transmitir aos alunos essas e outras competências importantes para a sua vida futura. Menos padres em Portugal O “guia” da Igreja Católica no nosso país confirma, na sua edição de 2006, a quebra progressiva do número de ordenações sacerdotais em Portugal. O Anuário Católico mostra que entre 2000 e 2004, o número de sacerdotes diocesanos baixou de 3159 para 2966, enquanto que o clero religioso manteve praticamente o mesmo número. A situação nesses anos mostra que, em média, por cada dois padres que morrem, apenas um é ordenado. O número de seminaristas (diocesanos e religiosos), no mesmo período, ronda os 500. Perante este quadro tem-se assistido ao surgimento de formas de vida e de trabalho em comum, conduzindo à criação das chamadas “Unidades Pastorais”, com várias paróquias, servidas por equipas de sacerdotes, conjugando o serviço do ministério sacerdotal com outros serviços. Portugal tinha, no final de 2004, segundo os dados da CEP, 49 Bispos, 2996 padres diocesanos, 1044 padres de Institutos Religiosos, 161 diáconos permanentes, 298 religiosos professos e 6025 religiosas professas. Recentemente, uma investigação realizada por um docente e investigador da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, Paulo Reis Mourão, referia que três factores estão na origem do decréscimo do número de sacerdotes em Portugal: o decréscimo da taxa de fertilidade na sociedade em geral; o aumento da taxa de divórcio e diminuição da nupcialidade, reflexo do denominado “medo do futuro”; a diminuição do número de religiosos no total, como sintoma de um “arrefecimento” do fervor religioso e de um clima de algum desinteresse pela consagração do ministério sacerdotal.

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Agência ECCLESIA

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