Forças Armadas: D. Rui Valério evocou «valores humanos» da Travessia do Atlântico Sul

Responsável católico falou em «caráter redentor» da «epopeia» iniciada a 30 de março de 1922 por Gago Coutinho e Sacadura Cabral

Foto: Lusa

Lisboa, 30 mar 2022 (Ecclesia) – O bispo das Forças Armadas e de Segurança recordou hoje os 100 anos da Travessia do Atlântico Sul, realizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, afirmando que a mesma teve um “caráter redentor”.

“(A travessia) resgatou Portugal de uma excessiva e marcada ruralidade para o restituir ao círculo das nações cientificamente relevantes. Em segundo lugar, operou-se redenção quanto à memória histórica da Nação. Existia como que um obscurecimento do que fora e fizera Portugal. A travessia do Atlântico Sul resgatou a Nação desse esquecimento e fê-la reencontrar-se consigo mesma”, disse D. Rui Valério durante a a Missa a que presidiu no Mosteiro dos Jerónimos, numa homilia enviada à Agência ECCLESIA.

Para o responsável católico, esta “epopeia” mostrou como “a ciência e a técnica se colocam ao serviço do bem”, onde se levou e ofereceu o que era de Portugal, e de recebeu “o muito dos outros”.

“Este carater de povo peregrino, sempre atento à voz que nos pede para nos desinstalarmos, explica a razão de termos a solidariedade no sangue: porque só um povo que está espiritualmente estruturado pelas travessias, que é navegador e caminhante, tem a alma aberta às necessidades dos outros e os vai socorrer, como fez em La Lys, em Daimão, no Kosovo, na República Centro Africana; só um povo experimentado em estabelecer ligações com outros povos responde prontamente aos apelos da partilha, dando o que é e o que tem, como está a acontecer com o povo da Guiné e com o povo da Ucrânia. Enfim, o mar, o ar e a terra dão-nos ouvidos para escutar o grito dos famintos, olhos para reconhecer a todos como irmãos, dão-nos mãos para servir”, indicou.

A cerimónia, que evocou o início da travessia, a 30 de março de 1922, contou com a presença do presidente da República Portuguesa e dos chefes dos três ramos das Forças Armadas e de Segurança.

D. Rui Valério reconheceu a existência de um “padrão de comportamento determinado não por impulsos, emoções, sentimentos ou preconceitos” mas por “valores”, que ligam as Forças Armadas ao “conhecimento científico e tecnológico”, baseados numa “antropologia” que veem o homem como um “ser dotado de dignidade pela sua condição de ser criatura de Deus”.

Foto: Lusa

O bispo das Forças Armadas e de Segurança sublinhou os valores da “comunhão e a solidariedade”, que conduziram Gago Coutinho e Sacadura Cabral ao encontro de um país que tinha a mesma missão de construção “segundo os padrões e valores do humanismo”, da “afirmação da dignidade humana e da justiça”.

O responsável católico apontou também o valor da igualdade, ao reconhecer que “entre as pessoas, independentemente da sua raça ou condição, existe uma igualdade fundamental”.

“Todo o ser humano é digno e merecedor do respeito da salvaguarda da sua condição”, sublinhou.

D. Rui Valério referiu-se ainda à “autonomia e liberdade” e aludiu ao significado simbólico da saída.

“A capacidade de se colocar na perspetiva do outro é uma virtude própria de sociedades adultas e maduras, porque foi essa mesma atitude que o Filho de Deus, Jesus Cristo, assumiu ao descer do céu e vir até nós, fazendo-se homem, assumindo o ponto de vista dos homens, para olhar o mundo e a humanidade também do ponto de vista humano”, finalizou.

A comemoração desta data vai ainda contar hoje com um concerto, às 21h00 no Centro Cultural de Belém, com a participação das bandas da Armada e da Força Aérea.

LS

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Agência ECCLESIA

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