Sacerdote lembra experiência de viver época natalícia, onde era presença próxima dos militares afastados da família num contexto cultural diferente, e afirma que “ser capelão militar é, antes de mais, uma experiência de proximidade”
Lisboa, 18 dez 2024 (Ecclesia) – O padre Ricardo Barbosa, capelão da Academia Militar, recordou os Natais que passou junto dos militares em missão na República Centro-Africana (RCA), onde fazia a ligação com as famílias.
“A visita do capelão acaba também por ser essa memória trazida, no caso aqui de Portugal, para a República Centro-Africana, porque de alguma forma traz não só notícias, como às vezes inclusive alguma lembrança”, afirmou o sacerdote, em entrevista transmitida hoje no Programa Ecclesia.
Num contexto de 180 militares numa Força Nacional destacada, o padre Ricardo Barbosa confessa que apesar de não ser possível levar tudo até aos militares, seguiam na mala itens como “uma fotografia, um pequeno desenho feito pelo filho” ou então “pequenos objetos”.
“Depois no dia de Natal sou portador dessa mensagem”, revelou.
O capelão militar já viveu mais do que uma vez o Natal na RCA, que descreve como muito diferente da tradição portuguesa, embora “muito mais intenso”, porque as saudades fazem com que “momentos sejam vividos de forma muito mais profunda”.
“Ser capelão militar é, antes de mais, uma experiência de proximidade”, realçou o sacerdote, que refere que esta é uma função que exige que se conheça primeira a instituição, destacando a importância de perceber que as pessoas são humanas, que procuram Deus, a Igreja, uma consolação e uma orientação.
“Acaba por ser, do ponto de vista religioso, igual como numa paróquia, num contexto e numa organização diferente, mas o objetivo é o mesmo, que é levarmos Deus. E as pessoas procuram Deus”, indicou o entrevistado.
O padre Ricardo Barbosa acrescenta que os militares são mais recetivos a Deus, porque precisam da “consolação da fé”.
“Deus faz-nos falta, sobretudo nos momentos mais fraturantes e mais débeis da vida. E até nos dilemas morais e éticos que a profissão, tantas vezes, traz”, sublinhou.
Segundo o sacerdote, o capelão cresce com esta experiência na medida em que “se torna próximo do ser humano que está à sua frente”.
Em contexto militar, e falando numa perspetiva pessoal, o padre Ricardo Barbosa destaca que, apesar de se professarem fés diferentes, é “capelão de todos”, pode é ser “padre dos cristãos católicos”.
“O Capelão acaba por ser de todos. Porquê? Porque eu compreendo aqueles que possam ter uma confissão religiosa diferente da minha, e não deixo de estar próximo, de os ajudar, e até de facilitar, em alguns momentos, a capacidade que a pessoa pode ter, ou o militar pode ter, de participar também em ocasiões da sua própria confissão religiosa ou religião”, ressalta.
O sacerdote reforça que o capelão de “todos é próximo, de todos é amigo, a todos ajuda”.
“Só com um ser humano bem cuidado é que depois nós conseguimos levar Deus ao coração”, assegura.
Não só no Natal, mas em diversos contextos, como uma semana de campo, o capelão militar salienta a importância de estar, em que “às vezes as palavras são desnecessárias”.
“O capelão estando, já essa é uma presença”, assinalou, evidenciando o trabalho diário de escutar, ouvir as preocupações e inquietações, fazendo depois a transmissão a quem está a comandar.
HM/LJ/PR