Figuras do Anjo revisitadas

De 10 a 12 de Outubro, Congresso Internacional no Santuário de Fátima Continua, no Santuário de Fátima, a preparação do Congresso Internacional “Figuras do Anjo revisitadas”, uma iniciativa do Santuário de Fátima, integrada no programa de celebrações dos 90 anos das aparições do Anjo em Fátima. Agendado para os dias de 10 a 12 de Outubro, o Congresso, que pretende repensar o possível significado actual da referência a figuras angélicas, já tem cerca de uma centena de pessoas interessadas em participar. As inscrições para participação continuam abertas e devem ser efectuadas junto de: Secretariado do Congresso “Figuras do Anjo revisitadas” Santuário de Fátima, Apartado 31, 2496-908 Fátima / Portugal 90anos@santuario-fatima.pt /Tel.: 249 539 600 /Fax: 249 539 605 «Os anjos são importantes para a humanidade dos humanos» Em entrevista efectuada através da Sala de Imprensa do Santuário, presidente da Comissão Científica do Congresso, João Duque, Doutorado em Teologia Fundamental, com uma tese sobre a relação entre a Teologia e a Filosofia da Arte de Hans-Georg Gadamer, fala sobre a iniciativa. – Quais as expectativas que tem em relação a este congresso? João Duque – Dado que não é frequente – em todo o mundo – abordar em congresso este tema, com a amplitude de perspectivas com que vai ser feito, penso que poderá ser um grande contributo para uma actualíssima reflexão pluridisciplinar sobre este difícil tema. A qualidade dos intervenientes vai garantir isso. Se, para além disso, a reflexão viesse a ter impacto na purificação e orientação da devoção aos anjos, então o objectivo seria atingido em pleno. Espero que assim venha a ser. – Porque escolheu «“Jacob e o Anjo” ou o outro olhar sobre a modernidade» para título da sua conferência neste congresso (no dia 11 de Outubro, pelas 15h10)? João Duque – Como é sabido, a luta entre Jacob e o Anjo (ou um varão, ou o próprio Deus), narrada no livro dos Génesis, é um episódio altamente enigmático, mas também muito significativo. A pergunta que me coloco, e que impulsionou o título e impulsionará a comunicação, é se essa luta não é o paradigma de toda a luta do ser humano consigo mesmo, com o seu destino, com o seu sentido, com algo que o supere. Se assim for, essa luta é o paradigma de uma fase específica da história, que denominamos modernidade e que afectou o ocidente nos últimos séculos. Não será a pretensa expulsão de Deus do nosso ambiente social uma das manifestações ambíguas dessa luta humana? E não será que, desse modo, Deus continuará connosco, de modo estranho, na medida em que com ele lutamos? E não será essa luta a única à altura da dignidade humana? Não será o pior para a humanidade o esquecimento disso tudo, na banalização do bem-estar quotidiano, que nem sequer luta com Deus? Ou com o seu enviado, o anjo? A conhecida obra teatral de José Régio, precisamente intitulada «Jacob e o Anjo» é muito expressiva a esse respeito e pode representar o drama de toda a humanidade, que se tornou mais agudo sobretudo na modernidade europeia. Penso que a abordagem deste tema pode dar à reflexão sobre os anjos uma espessura humana que a distancie de divagações ilusórias e até alienantes, que apenas seria um refúgio caloroso, para evitar o verdadeiro combate da vida – o que travamos com o apelo de Deus, que é incómodo e desinstalador. – Mesmo dentro da Igreja, há leituras diferentes sobre a realidade dos Anjos. Qual a explicação que encontra para estas discordâncias? João Duque – Seria de esperar. Grande parte das ideias que possuímos a esse respeito provém da literatura chamada apocalíptica, bíblica e apócrifa. Ora, essa literatura é altamente simbólica. Por isso, a sua interpretação é difícil e permite muitas diferenciações. Desde os primeiros séculos que muitos padres da Igreja admitiam nada saber ao certo sobre o anjos. Isso convida, evidentemente, a que as interpretações dessas «figuras» varie muito, desde a afirmação clara da sua existência como sujeitos pessoais, até a sua dissolução em manifestações de Deus ou projecções do ser humano. Em todas essas leituras haverá limites, mas também algo de verdadeiro. – Considera que o verdadeiro carisma do anjo é o de ser mensageiro da verdade/vontade divina, para ajudar à construção do Reino de Deus? João Duque – Esse é um elemento importante, com muita relação à Escritura e, para a nossa história humana, um dos aspectos mais salientes do «carisma angélico». De qualquer modo, um outro elemento não deverá ser descurado: trata-se da consideração dos anjos como «corte celeste», cuja função é a eterna glória de Deus. Ora, se a finalidade de toda a criatura será essa, nos anjos encontramos personificado aquilo que, embora de modo diferente, pois somos humanos, todos os humanos esperamos ser um dia. Isso é importante, pois marca o sentido das nossas existências. E quando uma sociedade e uma cultura perdem esse sentido do horizonte, acaba por se perder e se destruir nos inúmeros negócios do dia-a-dia, afundando-se na sua auto-suficiência e tornando-se cada vez mais desumana. Por isso, os anjos são importantes para a humanidade dos humanos.

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Agência ECCLESIA

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