Diretor do Departamento das Relações Ecuménicas e do Diálogo Inter-Religioso do Patriarcado de Lisboa aborda a perda e o luto, no contexto das celebrações dos dias 1 e 2 de novembro

Lisboa, 31 out 2025 (Ecclesia) – O padre Peter Stilwell, do Departamento das Relações Ecuménicas e Diálogo Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa, lamentou que nem todas as pessoas tenham a possibilidade de ter uma morte acompanhada num ambiente “de amor e cuidado”.
Em declarações à Agência ECCLESIA, a propósito da comemoração de Todos os Santos e de todos os Fiéis Defuntos, o sacerdote considera que o facto de a morte ser um assunto ausente do quotidiano e de cada vez mais existirem episódios de solidão neste processo são um efeito da sociedade atual.
“As pessoas idosas acabam por viver bastante isoladas, os familiares estão muito ocupados, há cuidadores sim, mas que por vezes nem sequer são membros da família”, referiu.
O padre Peter Stilwell recordou o caso em que, a pedido da família, foi a um lar para acompanhar uma idosa que morria com 100 anos “e estava rodeada da sua família, dos seus filhos, dos seus netos”.
“Foi um momento realmente bonito, quer para a família, quer para a pessoa que tinha falecido, porque tinha falecido num ambiente de amor e de ternura e de cuidado, é o que nós merecíamos, mas nem sempre podemos oferecer a toda a gente”, destacou.
O diretor do Departamento das Relações Ecuménicas e do Diálogo Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa nota que as pessoas procuram anestesiar-se para a questão da morte, fazendo dela algo que se observa ao longe, mas que não se vive “como experiência pessoal do amigo, dos pais, dos parentes que faleceram”.
“Eu recordo que nos últimos anos de vida dos meus pais, quer do meu pai, quer da minha mãe, eu era o único filho em casa, apesar de haver lá sempre um cuidador ou uma cuidadora, eu tive essa experiência de os acompanhar e percebi como isso é um momento denso em termos humanos”, relatou.
O padre Peter Stilwell descreveu esta como uma vivência “muito enriquecedora em termos humanos”: “Tenho pena que, por razões várias, as pessoas não tenham essa experiência”.
O sacerdote evoca o ciclo que a Igreja Católica celebra este fim de semana, dedicado a Todos os Santos (1 de novembro) e Fiéis Defuntos (2 de novembro), como os dias em que são lembrados todos aqueles que já faleceram.
O luto é um elemento muito importante na nossa relação com os outros. Quer dizer, perder a presença de alguém na nossa vida é como se perdêssemos também uma parte de nós próprios”, realça.
A relação com os pais, amigos e parentes é o que, segundo o sacerdote, constitui cada um como pessoa, frisando que quando alguém desaparece pela morte, uma parte da pessoa que sofre esta ausência se perde também.
“E segue-se um período de luto, um período em que se recorda o que a outra pessoa significou. Nós, na tradição cristã, gostamos de lembrar que esse é um motivo de ação de graças, por isso normalmente celebramos a Eucaristia pedindo por essa pessoa”, indicou.
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Este ano, a 4 de abril, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e José Vera Jardim, presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, inauguraram no Cemitério de Carnide o ‘Edifício Saudade’, complexo multirreligioso para funerais que quer dar resposta às necessidades das diferentes tradições. O padre Peter Stilwell salienta que existem confissões que não têm um lugar próprio de preparação do corpo para o momento da sepultura e que este espaço veio suprir esta necessidade. “O espaço religioso e a celebração religiosa é o momento em que as pessoas se recordam dos valores que dão sentido à sua vida. E isso é qualquer coisa de muito importante para a sociedade”, ressalta. O sacerdote destaca o valor da celebração ritual e litúrgica na vida de cada um, sobretudo para as pessoas que estão desenraizadas das suas terras natais, migradas ou se se sentem fragilizadas pela sua situação económica, que encontram “no espaço religioso um espaço de fortalecimento e de humanização que é depois um benefício para a sociedade toda”. “A religião devolve às pessoas o sentido das suas origens e aquilo que é o sentido final da sua vida”, evidencia. O programa 70×7 deste domingo, transmitido na RTP2 pelas 17h30, é dedicado aos dia dos Fiéis Defuntos e apresenta a morte sob a perspetiva de diferentes tradições religiosas, mostrando também o ‘Edifício Saudade’. |
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