Fiéis Defuntos: «É preciso falar da perda, é preciso falar do sofrimento»

Padre João Cardoso,capelão do Centro Hospitalar de Tondela-Viseu, é também conselheiro do luto

Viseu, 02 nov 2016 (Ecclesia) – O capelão do Centro Hospitalar de Tondela-Viseu defende que o luto tem “várias fases” e alerta para o erro de não falar do assunto perante a dor de alguém.

“É preciso falar da perda, é preciso falar do sofrimento. É preciso falá-lo porque na medida em que estamos a falar estamos a vivê-lo, na medida em que estamos a viver estamos a sará-lo, na medida em que estamos a sarar estamos de certa forma também a anestesiar, se assim podemos dizer, a dor do coração”, disse o padre João Cardoso, numa entrevista por ocasião da comemoração dos Fiéis Defuntos, que a Igreja Católica celebra hoje.

À Agência ECCLESIA, o sacerdote que é também é um ‘conselheiro do luto’ explica que existem várias fases de luto que vão de “um outono para se abrir ou à primavera ou ao verão”, ou seja, “a lágrima simbolizada na chuva ao sol do sorriso estampado na cara” e o momento principal começa com a atitude de “descrença”.

“Depois vem a parte da consciencialização, em que a pessoa começa a mentalizar-se verdadeiramente que a perda, porque o luto é uma perda, aconteceu mesmo e depois a pessoa começa a viver essa mesma perda para reconstruir, começar uma nova caminhada”, desenvolve o capelão do Centro Hospitalar de Tondela-Viseu.

O padre João Cardoso faz uma analogia com as diferentes estações do ano e refere que essa fase da vida começa num “outono para se abrir ou à primavera ou ao verão”, ou seja, “a lágrima simbolizada na chuva ao sol do sorriso estampado na cara”.

Como capelão do Centro Hospitalar de Tondela-Viseu e conselheiro do luto, o entrevistado tem a experiência de acompanhar diferentes lutos desde “pessoas que perderam filhos”, pessoas que “tiveram e têm filhos deficientes”, às que “têm problemas com o luto do amor-próprio” nas doenças, nas amputações, nas situações que surgem no dia-a-dia.

Neste contexto, o sacerdote identifica também situações os lutos da sociedade quando as pessoas “são despromovidas socialmente”, por exemplo, ao nível do trabalho e da própria sociedade “quando se fere e se toca a dignidade das pessoas”.

“A pessoa não pode falar porque corre o risco de ser julgada pelas pessoas que estão à sua volta, pelos seus amigos, pelos familiares, pelos seus conhecidos ou então pela própria sociedade”, exemplifica.

Segundo o padre João Cardoso, que na sua ação pastoral já encontrou “um pouco de todos” esses lutos, de todas essas perdas, “não há luto mais difícil ou mais fácil” porque cada pessoa vive-o à sua maneira.

Um luto de uma situação concreta pode ser do ponto de vista do entrevistado “fácil” mas para quem está a vivê-lo “pode ser muito difícil”, por isso, refere que tem há muitos anos a convicção que “há apenas um luto, o de cada um”.

A cor associada ao luto é o preto, o escuro, mas para o capelão do Centro Hospitalar de Tondela-Viseu “é a cor do coração” porque o luto não se expressa pela cor.

O padre João Cardoso recorda que há pessoas em fase terminal que afirmam que no dia do seu funeral não querem o preto mas “o branco”.

“A cor do luto é a cor do sentimento, do coração”, conclui o sacerdote conselheiro do luto.

LFS/HM/CB

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Agência ECCLESIA

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