«Fiducia supplicans»: Papa promove «inovação moral», centrada na realidade concreta das pessoas – Jorge Teixeira da Cunha (c/vídeo)

Professores da Universidade Católica Portuguesa abordam declaração sobre bênção a casais em situação irregular

Porto, 15 jan 2024 (Ecclesia) – O cónego Jorge Teixeira da Cunha, professor de Teologia na Universidade Católica Portuguesa (UCP), afirmou que declaração ‘Fiducia supplicans’, relativa às bênçãos para casais em situação irregular, representa uma “inovação moral”

“O Papa Francisco está a fazer uma inovação moral: a partir de agora, não nos movemos principalmente pelas normas abstratas. Nós avaliamos a situação das pessoas que nos aparecem aqui, contando-nos a história da sua abertura à vida, da sua abertura ao mistério, da sua abertura à graça”, referiu o sacerdote da Diocese do Porto, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O Papa explicou este domingo o objetivo da declaração, divulgada em dezembro de 2023 pelo Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF), organismo da Santa Sé.

“O Senhor abençoa toda a gente, todos os que vêm. O Senhor abençoa todos os que são capazes de ser batizados, ou seja, todas as pessoas. Mas, depois, as pessoas devem entrar em diálogo com a bênção do Senhor e ver qual é o caminho que o Senhor lhes propõe”, indicou, em entrevista por videoligação ao programa ‘Che tempo che fa’, do canal Nove, na Itália.

A 4 de janeiro o DDF indicou, em nota de imprensa, que nenhuma conferência episcopal poderia impedir um sacerdote de abençoar “casais em situação irregular”.

A nota abordou várias questões levantadas pela declaração, que prevê a possibilidade de abençoar casais em segunda união ou uniões de pessoas do mesmo sexo.

Para o cónego Jorge Teixeira da Cunha, a questão que fica em aberto é o facto de as pessoas homossexuais se manterem afastadas, porque “desconfiam da Igreja, desconfiam da sua moral, desconfiam da sua pastoral e desconfiam até da mediação que elas exercem em relação a Deus e à sua graça”.

“Novo mesmo é a possibilidade da bênção às pessoas homossexuais. E aí, como digo, eu tenho dúvidas se esse é o caminho pastoral melhor para incluir as pessoas homossexuais, que não sei se elas se sentem, a partir desta coisa, mais incluídas ou menos incluídas”, acrescentam.

O especialista admite que a declaração do Vaticano suscitou algumas perplexidades, considerando, no entanto, que as pessoas “têm de ser, certamente, incluídas no horizonte da caridade”.

O padre Jorge Teixeira d Cunha entende ser “impossível fazer uma inovação pastoral sem uma inovação normativa”, pedindo que as normas morais se fundamentem “na instalação da pessoa, dentro do horizonte vital de sentido que a fé indica”.

Já o padre Tiago Freitas, docente da Faculdade de Teologia da UCP, considera que esta declaração é “um ponto num caminho, já de si, longo”.

“Aqui, quando analisamos aqueles que foram as respostas de todas as comunidades católicas sobre este assunto, várias, fazendo um exame de consciência, disseram que a própria Igreja não tem sabido acolher as pessoas que se dizem sentir à margem”, indicou o sacerdote da Arquidiocese de Braga.

“São algumas pessoas que se calhar se afastaram, porque não se sentiram acolhidas, mas nós também não somos proativos nesse acolhimento”, acrescentou.

Para o padre Tiago Freitas, “os princípios não podem ser princípios abstratos, senão o catolicismo torna-se numa ideologia”.

O docente da UCP convida as comunidades católicas a questionar “qual atitude pastoral para as pessoas que se aproximam da Igreja, sejam elas divorciadas, recasadas, homossexuais ou noutra situação irregular”.

Quanto à declaração sobre as bênçãos, o entrevistado sublinha que “cabe ao discernimento do sacerdote” perceber se as pessoas se aproximam “de boa fé ou não”.

“É uma bênção, digamos, espontânea, de quem pede a presença de Deus. Isso é que é bênção, sentir a presença de Deus”, precisa.

O professor de Teologia vê na declaração do DDF uma “inovação”, ao centrar a sua atenção nas pessoas que estão numa “união estável”.

“É sobre estes casais, em primeiro lugar, que a Igreja deve endereçar a sua ação pastoral. E também deve, ao mesmo tempo, ser humilde, neste sentido de ter uma reflexão alargada e multidisciplinar, até sobre esta realidade, que envolva psicologia, neurociências, a própria história da sociedade e também a Sagrada Escritura”, aponta.

Questionado sobre a recusa de diversas conferências episcopais em aplicar a ‘Fiducia supplicans’, o padre Tiago Freitas convida a entender o seu “contexto cultural”.

“Não é assim tão de estranhar que determinadas conferências episcopais, neste momento, olhem com alguma reserva para esta declaração”, indica.

Para o padre Jorge Teixeira da Cunha, este fenómeno “novo” é “uma ocasião de confronto, de aperfeiçoamento e de troca de experiências”.

PR/OC

Vaticano: «O Senhor abençoa toda a gente», diz o Papa, explicando declaração sobre bênçãos a casais em situação irregular

 

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Agência ECCLESIA

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