Ficção Científica e muito Romance

Quando, em 1999, M. Night Shyamalan realizou “O Sexto Sentido”, saiu da penumbra e tornou-se um cineasta alvo da atenção do público e da crítica. Uma mistura do físico e do metafísico foi a ponte de ligação entre o filme e os espectadores, que se viria a repetir em obras seguintes do mesmo autor. “A Senhora da Água”, sete anos e quatro filmes depois, repõe Shyamalan num lugar de um certo realce. Tendo escrito o argumento e tomado a seu cargo a realização, desvia-se para um campo próximo da ficção científica, em que são referidos dois mundos paralelos, sem que nunca vejamos imagens do Mundo Azul, a que pertence a protagonista e alguns monstros que involuntariamente arrastou para a “vida real”. A figura central chama-se Story. Muito nova, é portadora de uma mensagem que nunca chega a ser inteiramente clara. O grande drama acaba por se centrar nos meios adequados e seguros de a devolver à origem, o que envolve uma luta difícil com monstros que a perseguem, apesar da defesa por parte de outros estranhos seres que a procuram proteger. O interessante é a vida do modesto condomínio em que tudo acontece, desenvolvendo-se de uma forma subtil a análise de cada um dos condóminos e a sua relação com o administrador do prédio que, a contra-gosto, se torna o fulcro dos acontecimentos. A função de cada um é descoberta trabalhosamente, de forma a que as condições de sobrevivência de Story se consolidem. É uma análise humana com drama e humor, sendo nesta última vertente que melhor resultado se atinge. Pena é que Shyamalan tenha perdido a oportunidade de aprofundar esta vertente humana, ficando-se pela superficialidade das reacções imediatas, excepto no que respeita ao gerente da casa. Fica uma obra escorreita, que capta a atenção do público, mercê sobretudo do bom trabalho de direcção de actores que tira bons apontamentos de Paul Giamatti e da breve intervenção de Bob Balaban. Francisco Perestrello

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Agência ECCLESIA

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