Festival «Terras sem Sombra» propõe viagem ao Barroco português

Música sacra e jovens artistas portugueses enchem as igrejas do Baixo Alentejo As igrejas de Beja abrem as suas portas à música sacra com a 5ª edição do Festival «Terra sem Sombra». Desde 2003 que o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja (DPHADB) e a Arte das Musas levam junto do grande público a história e a identidade musical, interpretadas por jovens artistas nacionais. A 5ª edição, dedicada ao Barroco assume o tema «Do Velho ao Novo Mundo» e tocas as primeiras notas no próximo dia 24 de Janeiro. José António Falcão, Director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja sublinha o fio condutor que cada edição procura ter ao traçar uma história da música, assumindo por isso uma dimensão pedagógica. “Não se trata de um ciclo de concertos”, explica à Agência ECCLESIA. A preocupação do Festival centra-se em levar vida a igrejas históricas que já foram recuperadas ou estão em processo de recuperação. A valorização acústica e o conteúdo espiritual das igrejas conferem “um caracter muito especial a estes espaços”. José António Falcão destaca ainda o aproximar entre o património cultural dos edifícios e o grande público. A proposta de cada concerto não se radica exclusivamente na música. “As igrejas não são apenas boas caixas de ressonância do Festival”. Cada concerto é antecedido de uma palestra “que dá a conhecer a mensagem mais profunda de cada monumento visitado”. As igrejas, algumas das mais relevantes da região de Beja, encerram tesouros e museus que ganham destaque no Festival, através de visitas guiadas. Incluídos no Festival estão ainda workshops e «masterclasses», que permitem desenvolver um trabalho com estudantes ou apreciadores de música que “pretendem aprofundar os seus conhecimentos sobre os instrumentos, as técnicas utilizados e contactas com especialistas”. O Professor Manuel Pedro Ferreira, da Universidade Nova de Lisboa, será orador na conferência marcada para 21 de Março sobre «Do Velho ao Novo Mundo», “trazendo uma visão cultural da música das peças interpretadas e uma ligação entre os concertos”. O director do DPHADB destaca ainda o ambiente descontraído e informal em que o Festival decorre e por isso, “o que possibilita o contacto com os músicos”, criando uma aproximação aos músicos e interpretes. A 5ª edição quer mostrar a influência que a arte da Europa (o velho mundo) tem sobre o novo mundo (a América e Ásia) e os reflexos que daí vêm. José António Falcão afirma que, no caso português, esta relação é especialmente notada “no Brasil e por isso o Festival encerra com uma viagem ao Séc. XIX aos compositores brasileiros pouco conhecidos em Portugal”. O grupo «Sete Lágrimas» inaugura o Festival e abre o repertório do Barroco português. “Será uma mostra do resultado dos Descobrimentos. Culmina com o Coro Gulbenkien mostrando o esplendor luso brasileiro, com memórias do Séc. XVIII e XIX”, explica Filipe Faria, director artístico do Festival. O baixo Alentejo “uniu a cultura e a arte portuguesa disseminadas pelo mundo. As igrejas têm essa noção global, porque dispõem não apenas do património produzido pelos artistas portuguesas, mas também encontramos peças vindas da China, do Japão, de África e do Brasil que foram integradas na liturgia e na devoção”, explica José António Falcão. O tema da 5ª edição do Festival quer recuperar a história através de jovens artistas portugueses. Filipe Faria destaca que o objectivo de envolver jovens artistas portugueses foi um factor cimeiro desde a primeira hora da organização em 2003. “Faltava em Portugal um palco descentralizado de carácter nacional e internacional, em especial no Baixo Alentejo, e o Festival de Música Sacra tem cumprido esse objectivo”. Existem em Portugal artistas de “excelente valia que se formaram em Portugal e continuaram os seus estudo no estrangeiros. De regresso ao país, trouxeram competência e especialização na área, mas não encontraram palco para os seus projectos musicais”. A crítica da especialidade e o público que acompanha reconhece a sua qualidade “mas a sua interpretação tem pouco espaço e o que existe é irregular”, lamenta. O Festival «Terras sem Sombra» quer assim tornar acessível ao grande público o contacto com interpretes portugueses. A diocese de Beja investe intensamente na requalificação dos seus edifícios e do património cultural. “Mas a requalificação pede vida também, não é suficiente recuperá-lo e fechá-lo”, explica o director do DPHADB. A oferta cultural é uma proposta de abertura à comunidade e ao público de outras regiões. “O Festival conta sempre com casa cheia e conta com um público fiel que chega de Lisboa e de Espanha”. José António Falcão admite que o Festival «Terras sem Sombra» adquiriu a sua maioridade. “É uma referência na cultura portuguesa, é o Festival que marca a temporada no Sul do país e está a prestar um importante contributo a quem não tem acesso directamente ao património”. A organização do Festival apresentou à Direcção Geral das Artes um projecto de quatro anos para a organização do Festival «Terras sem Sombra» A resposta poderá chegar em Março e se for aprovado “haverá maior disponibilidade de programação, as edições serão preparadas com maior antecedência”, finaliza Filipe Faria.

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