“Sileti Venti” é o título do concerto do agrupamento Concerto Campestre, dirigido por Pedro Castro, que terá lugar na igreja matriz, hoje (a 28 de Fevereiro), pelas 21 H 30. Vivaldi, Telemann, Carlos de Seixas e Händel, mestres supremos do Barroco Europeu, dão corpo a um programa de invulgar qualidade que faz justiça às condições acústicas do monumento. Uma experiência estética e espiritual inexcedível. Desde tempos imemoriais que o Homem associou a Música à emoção, às paixões ou estados de alma. Platão e Aristóteles falavam das qualidades e dos efeitos morais exercidos pela música sobre os seres humanos. Durante o período renascentista, os teóricos musicais centraram o papel da música como extensão de um texto, acoplando o aspecto emocional do discurso. Já no Barroco, o pensamento teórico foi marcado por Descartes e pelo seu célebre tratado, escrito em 1649, As Paixões da Alma. Enquanto linguagem artística, a música barroca caracterizou-se por conter um núcleo central e motivador, a ideia de pathos, afecto extremo que determinava o estilo de uma obra. Esta preocupação de humanizar a música, tendência que já vinha do Renascimento, deu origem à chamada teoria dos afectos, consagrando a música como veículo ideal para explicar as paixões e os seus movimentos. O concerto de Alvito reúne um conjunto de obras exemplares do que assinalámos, funcionando como síntese dos principais idiomas da música barroca, concretamente, da música concertante e da sua estrutura base radicada no ritornello. Ensemble Concerto Campestre Com o nome inspirado num famoso quadro de Giorgone, o Concerto Campestre é um grupo de música de câmara que se dedica à interpretação de música europeia desde o Renascimento ao Barroco, também chamada “musica antiga”. É constituído por jovens profissionais especialistas nos instrumentos da época, tais como o cravo, o oboé barroco, a viola da gambae o violoncelo barroco. Os seus elementos são formados nas principais escolas europeias e trabalham em vários grupos da especialidade, tais como Ricercar Consort, Al Ayre Español, Les Talens Liryques e Orquestra Barroca Divino Sospiro. O grupo está sediado em Lisboa e tem a direcção artística de Pedro Castro. A sua constituição é versátil variando conforme os programas que são apresentados, tendo realizado já projectos desde um trio de câmara até um conjunto de dez músicos e cantores na execução de cantatas e concertos de J. S. Bach, Telemann e Seixas. Apresentou-se na Festa da Música no Centro Cultural de Belém, nos Encontros de Música Antiga de Loulé, no átrio do Museu Gulbenkian, na “Festa no Chiado”, nas “Festas de Lisboa” e nos Encontros de Música Antiga de Tomar. Matriz de Alvito, obra-prima da arquitectura manuelina A génese da matriz de Alvito está associada a um acordo sobre a cobrança dos dízimos que foi celebrado em 1262 entre D. Martinho I, bispo de Évora, e o donatário da vila, Estêvão Anes, chanceler-mor e colaço (irmão de leite) de D. Afonso III – e também genro do monarca, visto ter casado com uma sua filha ilegítima, D. Maria Afonso. Mais tarde, em cédula testamentária de 1279, o fundador legou o padroado da igreja ao convento da Santíssima Trindade, de Santarém, o que motivaria novo ajuste com a diocese de Évora, subscrito pelo bispo D. Durando. No ano seguinte estava em funções, como prior de Alvito, Fr. João Navarro. A invocação primitiva da paróquia foi a de Santa Maria, festejada no dia 15 de Agosto. De meados do século XV em diante a vila conheceu um surto de progresso que veio a culminar, em 1481, com a autorização dada por D. João II ao barão de Alvito, João Fernandes da Silveira, chanceler-mor e regedor das justiças, e à sua segunda mulher, D. Maria de Sousa Lobo, para edificarem o castelo. Terá sido pelo mesmo período que se iniciou a reconstrução da matriz, certamente com o contributo dos barões, a quem os trinitários permitiram erguer o panteão familiar no cruzeiro. Após a fase de arranque, as obras pararam alguns anos, devido a um litígio entre o bispo de Évora e a Ordem da Trindade acerca da jurisdição paroquial. Foi já em etapa adiantada do século XVI, durante o priorado de Fr. Jorge de Pombal, que se concluíram os trabalhos, sob a direcção de João Mateus. O risco do edifício, atribuído a João de Arruda, corresponde a uma requintada modalidade da arquitectura manuelina que ganhou protagonismo nesta zona do Alentejo central e tem como principal paralelo a matriz de Viana. Esta tipologia individualiza-se pela imponência das três naves de distintas alturas, cada uma com quatro tramos revestidos por abóbadas de nervuras, partindo de arcos quebrados que se apoiam em meias-colunas e pilares octogonais e descarregam em mísulas. Tudo isto define uma sequência de ritmos que imprime movimentação ao conjunto, tornando explícito o diálogo do derradeiro Gótico com a estética mudéjar, cultivada entre nós a partir dos meados do século XV e que teve no rei D. Manuel um grande apreciador. Departamento do Património da Diocese de Beja