Festival Terras sem Sombra: Almodôvar recebe concerto dedicado ao Barroco Francês

O Festival “Terras sem Sombra” de Música Sacra do Baixo Alentejo, organizado pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja e pela Arte das Musas, prossegue com a sua quinta edição, dedicada à temática da expansão das formas musicais do Barroco na Europa e no Novo Mundo. Este ciclo regista um momento alto no próximo concerto, que terá lugar, a 7 de Fevereiro, pelas 21 H 30, na igreja matriz de Almodôvar, com a intervenção do Ludovice Ensemble, sob a direcção de Fernando Miguel Jalôto. Inserido no esforço que a Câmara Municipal de Almodôvar está a desenvolver para associar as igrejas do concelho a rotas de turismo cultural, o espectáculo corresponde a um capítulo fundamental da proposta de uma “pequena história” das manifestações musicais barrocas, o fio condutor do Festival em 2009. Este concerto, intitulado “A Devoção no Grande Século”, dá a conhecer a música sacra francesa do tempo de Luís XIV. Será uma experiência notável, do ponto de vista estético e espiritual, até pelas excelentes condições acústicas do monumento religioso – um dos mais belos exemplos do Classicismo alentejano – que o acolhe. O triunfo do Barroco na arte europeia Entre os compositores que irão ser interpretados sobressaem grandes vultos que contribuíram para o enriquecimento da liturgia galicana, como Louis (1626-1661) e François Couperin (1668-1733), Marc-Antoine Charpentier (1643-1704), Nicolas Bernier (1665-1734) e André Campra (1660-1744). Todos eles cultivaram o “Petit Motet”, forma musical francesa que conheceu o seu apogeu entre 1670 e 1730. Este género desenvolveu-se a partir do “Motetto Concertato” seiscentista e da aplicação à música sacra dos princípios da monodia acompanhada e da “Seconda Prattica”, praticados em Itália ao redor de 1600. Os principais mestres do “Petit Motet” foram os compositores mais progressistas, que procuravam revitalizar a escola francesa sem a desvirtuar das suas qualidades tradicionais. Para conseguir tal renovação, acreditavam que se devia procurar atingir um subtil equilíbrio entre as novas tendências assimiladas a partir da música italiana e o estilo francês, tal como este fora codificado por Jean-Baptiste Lully em meados do século XVII. Os resultados atingidos são surpreendentes, pelo requinte e pela beleza, fazendo sobressair a sensibilidade da época do “Rei Sol”. Ludovice Ensemble – um currículo notável ao serviço da música antiga O Ludovice Ensemble é um grupo de câmara especializado na interpretação de música antiga. Sedeado em Portugal, conta com a colaboração de artistas de várias nacionalidades, dotados de formação específica em práticas históricas de interpretação. O nome escolhido é uma homenagem a Johann Friedrich Ludwig (1673-1752), arquitecto-mor do rei D. João V, um dos elementos centrais na reforma artística, cultural e social efectuada por este monarca com vista à internacionalização da corte portuguesa. Criado em 2004 por Fernando Miguel Jalôto e Joana Amorim, o Ludovice Ensemble tem como objectivo interpretar e divulgar repertório de câmara dos séculos XVII e XVIII. Em Almodôvar destaca-se a presença do barítono Hugo Oliveira. Licenciado em Canto na Escola Superior de Música de Lisboa, prosseguiu os estudos no Real Conservatório de Haia, onde foi aluno de Feldman e Chance. Para além da especialização no repertório barroco, estende a sua flexibilidade como cantor ao reportório clássico/romântico e contemporâneo. A convite do Hilliard Ensemble estreou-se como solista, em 1997, na obra Passio, de Arvo Pärt (onde interpretou o papel de Jesus). Tem colaborado com a Orquestra Sinfónica de Londres, a Orquestra Filarmónica da Holanda, a Orquestra Gulbenkian. Apresentou-se em algumas das mais importantes salas europeias (Amesterdão, Londres, Paris, Madrid, Barcelona) e em vários festivais em Espanha, França, Inglaterra, Holanda, Bélgica e Alemanha. A igreja matriz de Almodôvar, referência da arquitectura classicista A escolha de Santo Ildefonso (abade beneditino que viveu no século VII) como orago da paróquia de Almodôvar constitui um reflexo da presença, no Baixo Alentejo, da espiritualidade monástico-militar, difundida pelos freires da Ordem de Avis, que seguia a Regra de São Bento. Porém, a primitiva igreja matriz da vila foi doada pelo rei D. Dinis, em 1297, à Ordem de Santiago. Esta teve aqui uma das suas colegiadas. Embora seguindo outra linhagem religiosa, de regra agostiniana, os freires espatários preservaram a devoção a Santo Ildefonso. O edifício actual, traçado em 1592 pelo arquitecto Nicolau de Frias, constitui um exemplo perfeito da tipologia de “igreja-salão”, com três naves cobertas por abóbadas, revelando grande sentido de unidade espacial. Na verdade, o desenho da planimetria, o ritmo da composição dos alçados e o destaque outorgado ao tratamento dos pormenores, como as colunas toscanas em que assentam as arcarias de vulto perfeito, são bem reveladores do sentido de depuração classicizante atingida, em finais do século XVI, por este modelo, fiel à austeridade preconizada pela Contra-Reforma. D. João V determinou a remodelação do edifício. Esta obra veio a ser completada pela encomenda, ao mestre eborense Sebastião de Abreu do Ó, dos sumptuosos altares de talha dourada da nave, cuja riqueza denota a pujança da terra. Nos séculos XIX e XX realizaram-se outras intervenções que modificaram substancialmente o edifício maneirista, a última das quais ocorreu na década de 1950. Data de então o painel do pintor Severo Portela, figurando o Baptismo de Cristo no Jordão, que ornamenta o baptistério. A igreja conserva um importante acervo de alfaias litúrgicas, em parte oriundo do convento de Nossa Senhora da Conceição. Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja

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Agência ECCLESIA

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