Festa da liberdade

Paulo Rocha, Agência Ecclesia

O 25 de abril poderia ser o dia em que se devolve, de facto, a democracia ao povo, aos gestos e às palavras do povo. E teríamos, assim, a festa da liberdade, da democracia, do respeito por todos, do querer bem a todos os outros.

Neste dia 25 de abril, 50 anos depois do golpe militar que pôs fim a um regime de ditadura, fica a perceção de que vivemos duas comemorações: a da política, tensa, e a do povo, em alegria; a da crispação entre bancadas parlamentares e a festa da liberdade. Só perceção? Infelizmente, talvez não!

Discursos e campanhas, que se distanciam da realidade de cada pessoa e têm no populismo ou no calculismo político o critério primeiro, colocam seriamente em causa a democracia. Por outro lado, as palavras e os projetos que olham antes de tudo para o bem próprio quando este é também bem comum são garantia de futuro, de construção da liberdade, de sociedades justas e pacificadoras. Um ponto de vista moralista? Não! Talvez perspetivas que podem ser documentadas com histórias de vida como Mahatma Gandhi, John F. Kennedy, Teresa de Calcutá, Francisco de Assis e tantos outros, estes últimos tendo por Mestre Jesus Cristo, que deu a vida pelo bem de todos.

Cinco décadas de democracia deveriam ser já suficientes para, cada eleitor e cada eleitora, conhecer e prever as consequências de uma escolha, de uma opção política. E quem é escolhido tem, de certeza, todas as ferramentas para saber fazer, para ser um fiel depositário da confiança que tantos eleitores colocaram nas urnas. É preciso querer, todos os dias…

Há 50 anos, havia uma casa no Porto onde por vezes se ouvia por trás do balcão: “sai um café e um caladinho”… Germano Silva, jornalista de todas as histórias da cidade, recordou esses anos, quando a censura entrava nos restaurantes, cafés, associações e tantos outros locais de encontro para impedir a livre expressão. O medo era real e a prisão de quem não seguia o lápis azul também. Por isso, e porque eram já conhecidos os rostos dos censores, quem tirava cada cimbalino dizia bem alto quando entrava na sala a censura “sai um café e um caladinho”.

Cinco décadas depois, será necessário voltar a servir um caladinho quando se pede um café? Infelizmente, pode não ser só ameaça. O desrespeito pela democracia é a antecâmara para esses tempos.

Nos 50 anos do 25 de abril, viva a festa de liberdade!

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