Somos o casal Susana e João, com 39 e 44 anos, respetivamente. Estamos casados há 14 anos e temos dois filhos de 8 e 11 anos.
Até há sete anos, o nosso protótipo de férias era descansar de um ano de trabalho recarregando as baterias para o que se aproximava, aproveitando o tempo para estar em família e com amigos e, se possível, viajar e conhecer um pouco mais do Mundo (uma ideia comum à maioria das pessoas).
Mas tudo mudou quando o sacerdote da nossa paróquia lançou o convite para uma peregrinação a pé durante uma semana a Fátima, por ocasião da festa aniversária do 13 de outubro. Ora, peregrinar a Fátima foi algo que desejávamos fazer em casal, pois o João já tinha ido sozinho e sempre o quis fazer comigo, mas havia muitas condicionantes que nos faziam vacilar. A maior dela foi onde arranjar uma semana de férias quando já tinham sido gozadas. Mas a Deus não há impossíveis … e é verdade.
No nosso caso, aconteceu através de um trabalho extraordinário que surgiu no serviço, o qual tinha de ser feito fora do horário de trabalho, e a partir de casa, em que a remuneração seriam dias de férias extra (a instituição não dispunha de meios financeiros para pagar aos colaboradores). E o tempo era o bem mais precioso que desejávamos naquele momento.
Com a ajuda dos avós e a colaboração do infantário dos nossos filhos, pusemo-nos à estrada no dia 7 de outubro de 2005, assente num tripé de sacrifício, jejum e oração, tal como Nossa Senhora pediu aos pastorinhos e eles tão bem cumpriram. E a maior surpresa foi que no caminho de Fátima nos deparámos com a peregrinação da nossa vida terrena. De modo especial fomos convidados a fazer o dia do silêncio, o dia do outro, o dia da igreja e o dia da missão (e por esta ordem).
Começamos com o dia do silêncio (não falar mesmo) para podermos parar, serenar o rebuliço que anda dentro de nós e não nos deixa perceber o que realmente sentimos e, principalmente, escutar o próprio Deus que nos fala. Depois vem o outro que Deus nos põe na vida (pais, cônjuge, filhos, colegas de trabalho). Consciencializarmo-nos de que não estamos sozinhos no mundo, pois vivemos em Igreja que nos concede o Espírito Santo que nos orienta e guarda, assim nós peçamos a sua proteção. Por fim, percebermos que todos temos uma missão em casa, na família, na igreja, no mundo. Não vivemos para nós mesmos.
Neste percurso somos impelidos a reconciliar-nos com o Pai do Céu que tanto amor tem por nós e que não desiste de nos tornar santos. Quanto pecado recalcado, endurecido, habita no nosso ser e que nós humanos julgamos não merece perdão. Deus tudo apaga querendo começar de novo, daí ser fundamental o acompanhamento e orientação do sacerdote.
Percebemos que, em cada dia, Deus nos oferece um grande presente que é acordar de manhã e ter um hoje (que não foi o ontem, nem será o amanhã) para sermos imagem de Cristo.
Desde esta altura que passámos a sentir a necessidade de entregar uma semana das nossas férias a Cristo. Não interessa onde, nem como, mas temos de parar. Procuramos fazê-lo em casal, os dois e sem filhos (mas houve anos em que não foi possível, neste caso vai um primeiro e o outro depois).
Estes momentos têm-nos ajudado à união do casal, lembramos que o matrimónio não é feito entre duas pessoas, mas um compromisso assumido a três. Nestas ocasiões deixamos que Deus realmente penetre na nossa relação. Como? Esvaziando-nos de nós e dando espaço a Deus para entrar, e estando o casal presente em simultâneo há coisas que Deus diz diretamente aos dois e já não é preciso um transmitir ao outro …. e por melhor orador que sejamos nada se compara ao discurso de Deus.
Quando no início começamos a marcar férias para Deus, as reações dos colegas de trabalho foram de surpresa e alguma troça. Mas quando regressamos, eles dizem que vimos diferentes com mais vida e mais felizes. E chegam a comentar connosco que também precisavam de fazer algo parecido, pois as férias deles não lhes tiram a preocupação e inquietação da vida. Nós propomos que embarquem na mesma aventura, mas muitos receios ainda se lhes levantam.
Também os nossos filhos, no princípio, não percebiam porque é que os pais iam estar uma semana longe. Agora já são eles que nos pedem se podem vir connosco. Dizem que vimos com mais paciência e com mais tempo para eles.
E quanto mais “cheiramos Deus” mais queremos “cheirar a Deus”. E a fasquia vai subindo sem darmos conta… desejamos passar uma semana em família na Comunidade de Taizé e, quem sabe, um mês em missão com os Leigos para o Desenvolvimento.
No ano passado, estivemos em retiro uma semana na casa dos espiritanos em Barcelos, a que se seguiram três semanas nas férias do mundo. Quando voltámos ao trabalho, dizíamos que tinham sido seis semanas de férias, pois a primeira tinha valido por três!