Férias ao serviço aos doentes mentais

Campos de férias da Juventude hospitaleiras são proposta de crescimento e doação

À Casa de Saúde da Idanha, chegam jovens de Portimão, de Torres Vedras e de Oliveira de Azeméis para, durante oito dias, estarem ao serviço. São jovens desafiados pelo novo e pelo espírito de voluntariado. Jovens que aceitaram estar e acompanhar doentes mentais, habitualmente estigmatizados pela sociedade. Estes são jovens que, durante uma semana, se vão conhecer, formar comunidade e deixar-se envolver pela hospitalidade dos campos de férias.

A experiência da solidariedade, o encontro consigo próprio, mas também a possibilidade de conhecer por dentro a Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, são alguns dos objectivos dos campos de férias.

“São actividades entre oito a dez dias, onde os jovens realizam vários momentos de serviço directo ao doente”, explica a Irmã Sara, das Irmãs Hospitaleiras. Os campos de férias compreendem momentos de convívio, de partilha em grupo, de interacção com os doentes mas também dinâmicas de jogos, de passeio, momentos de oração e de reflexão.

“Procuramos desenvolver alguns temas de formação humana para que o jovem se possa conhecer melhor”, elucida a religiosa. Conhecer os valores humanos e os valores hospitaleiros, dar a conhecer quem é Jesus Cristo, apresentar a Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, juntamente com a Juventude Hospitaleira, onde estes campos de férias se inserem são propostas ao longo da semana.  

A Juventude Hospitaleira põe em contacto o doente mental e os jovens. Este é o melhor instrumento para dissolver o estigma que esta doença ainda tem na sociedade. A solidariedade é a linguagem que os jovens melhor conhecem.

Há uns anos atrás houve um decréscimo de participação juvenil nas actividades. Mas a Irmã Sara regista que, actualmente, os que chegam “vêm para se dar”. O desejo de se darem é notório. “Os jovens estão despertos para a solidariedade. Eles próprios dizem que participam com o objectivo de ajudar o outro porque querem crescer como pessoas, querem aprender mais”, explica.

Foi há mais de 30 anos que a pastoral juvenil hospitaleira começou a organizar-se. Inicialmente pressionados pela falta de vocações, cedo a Congregação percebeu que a proposta da hospitalidade era válida para qualquer vocação. A Irmã Laurinda, responsável nacional pela pastoral juvenil das Irmãs Hospitaleiras, explica que a organização de um projecto de evangelização, “de crescimento humano, espiritual e social para os jovens que é muito válido, tanto para os jovens como para a hospitalidade”.

Esta religiosa não esconde a alegria que é trabalhar com a juventude. “Acredito muito nos jovens, nunca deixei de acreditar mesmo numa fase em que os jovens apareciam menos”.

A responsável nacional regista que a cada cinco anos dá-se uma mudança cultural entre os jovens. Se há uns anos se defrontaram com um decréscimo de participação juvenil, “agora estamos a subir na procura de actividades”, regista. A adesão é notória. A religiosa explica que para isso contribuiu a “abertura do projecto”.

“Não é um projecto de «caça de vocações», mas de amadurecimento de vida, de procurar encontrar sentido. Os jovens aprendem sobretudo a ser hospitaleiros nos seus meios próprios. A prova de que é um bom projecto é que, geralmente, trabalhamos com jovens dos 13 aos 30, mas chegados a essa idade, eles não querem ir embora”.

[[v,d,464,Campo de Férias na Casa de Saúde da Idanha ]]

Estar e ouvir
Os dias dos campos de férias são todos diferentes, mas têm a marca comum de estar com os doentes. Aos jovens não se pede muito. A sua presença é o mais importante, para quem gosta de conversar, receber atenção e dar carinho.

Várias vezes ao dia, os jovens vestem a bata e sobem às unidades onde se encontram os doentes. Madalena está na unidade Maria Josefa, que intregra doentes de Alzheimer. “Com estes doentes temos de recordar algumas coisas e identificarmo-nos diversas vezes”, explica.

O Gaspar, que acompanha a Madalena na unidade, opta por ter conversas simples. “Se dormiram bem, se estão bem, se já comeram. Coisas simples e sem complicações”. Em troca recebe “por vezes respostas tristes, outras de alegria por estar a falar com elas”.

De simplicidade se revestem as relações criadas. Uma simplicidade que deixa marcas e se quer repetir, como aconteceu com a Madalena.

“Já tinha participado na Páscoa hospitaleira. Como primeira experiência marcou-me muito”. Quando terminou sentiu a necessidade de se entregar ao outro, “voltar a fazer algo e ser útil”. Madalena explica que quem se disponibiliza para dar, “acaba por receber muito mais”. O dar gratuitamente “faz-nos esquecer as coisas superficiais”, reforça.

Entre repetentes, foram muitos os que encontraram neste campo de férias a sua primeira experiência hospitaleira.

A Filipa foi entusiasmada pelo seu pai. “Desde pequena que ouço falar dos campos de férias. O meu pai passou por uma boa experiência e incentivou-me a participar”. Esta jovem de Oliveira de Azeméis viajou sozinha até à Idanha. Sem conhecer ninguém, diz agora que “a experiência está a ser espectacular”.

O campo de férias quer oferecer uma experiência de grupo aos jovens. Chegados de sítios diferentes, é a partilha do dia a dia nas refeições, no trabalho e nas orações que constrói relações. Inicialmente os jovens não se conhecem, mas a pouco e pouco vão sendo irmãos, através do serviço e da entrega conjunta.

Em equipa se vive, em equipa se trabalha, em equipa se partilham as dificuldades. Esta é uma experiência humana que ajuda a crescer e deixa marcas para a vida.

A Rita assume esta como uma experiência de crescimento e de valorização pessoal. A Inês dá conta de no início “ter ficado um pouco assustada, porque é tudo muito diferente do que estou habituada”. Um sentimento rapidamente ultrapassado pelo “crescimento que oferece”.

A Mariana explica que inicialmente estava receosas. “Pensava que eles não se iam dar a nós e que nós é que os íamos ajudar. Agora percebo que eles nos dão mais a nós, com os carinhos do que nós lhes damos a eles”.

A Ana Sofia sublinha que qualquer gesto que faça, recebemos um sorriso em troca. “Torna-se muito gratificante”. Também a Joana aponta que esta oportunidade “é uma óptima experiência tanto para nós como para os doentes”. Esta jovem agradece o carinho que recebe de todos ao “recordarem-se de mim, das minhas outras passagens pela instituição. Passar no corredor e saber que elas ainda me conhecem e se lembram do que fiz em anteriores ocasiões, é muito bom”.

A experiência da hospitalidade
Foi esta experiência de receber e dar que mexeu com Sara. Há oito anos fez o seu primeiro campo de férias, mas nunca mais se desligou. Hoje é a Irmã Sara.

“Foi mexendo comigo a forma como as irmãs lidam com os doentes e como formam comunidade”. Sara recorda a alegria das religiosas no serviço e em comunidade. “Foi-me interpelando a união que aqui existe entre o serviço e a oração, de uma forma muito bonita, ao jeito hospitaleiro”.

Sara passou por várias casas de saúde da Congregação. A vida feita em comunidade, sempre com partilha e oração, chamou-a. O discernimento vocacional mostrou-lhe que o seu lugar era ao lado dos doentes e dos jovens.

“Com os jovens vamos fazendo uma partilha de vida bonita, que me ajuda, pessoalmente, a crescer. Não só como cristã, porque os jovens ensinam-me muito a nível humano e cristão, mas também como consagrada, porque me ajudam a identificar-me com a missão hospitaleira, com a pessoa de Jesus Cristo a quem quero seguir”.

Idanha, Assumar, Condeixa, Braga, Lisboa, Guarda, Funchal são locais onde a hospitalidade é uma porta aberta, quer à pessoa doente mental e quer aos jovens.

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Agência ECCLESIA

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