A Páscoa anuncia o fundamento da esperança cristã e propõe o caminho para alcançar a reconciliação e a alegria: Cristo Jesus ressuscitou, ergueu-se do abismo da morte e brilha, para os que nele acreditam, como o sol nascente que vence as trevas. O Senhor Ressuscitado oferece-nos a Sua luz, concede-nos o perdão, convida-nos a renascer. Por isso, a igreja exulta jubilosa, canta aleluias ao Senhor e anuncia ao mundo a Boa Nova da Ressurreição que renova a humanidade. Neste clima festivo, venho desejar a todos os fiéis da diocese de Santarém as boas festas pascais, vividas na alegria profunda e irradiante. Uma alegria que vença o medo, o desânimo, o pecado e que fortaleça o coração para superar com esperança as feridas da natureza humana. Uma alegria que faça nascer a paz e a harmonia no interior de cada um e se exteriorize na relação fraterna e no empenho por renovar o mundo. A Páscoa de Cristo ensina-nos o caminho da passagem das trevas à luz, da tristeza à alegria, do conflito ao amor, do pecado à santidade. É o caminho da conversão que Jesus Cristo pregou na sua vida histórica e que fomos convidados a viver ao longo da Quaresma. Para fazermos esta passagem precisamos, primeiramente, de reconhecer as nossas faltas para, depois, nos levantarmos, pedir perdão e começar o caminho novo com a força do Espírito Santo. Encontramos impedimentos fortes à vida nova da Páscoa, tanto dentro de nós mesmos, como no ambiente cultural envolvente, como a auto-suficiência, a arrogância, a vaidade, a vingança, o relativismo, a frivolidade etc. São tendências do coração humano e influências negativas que dificultam o reconhecimento das faltas pessoais e a compreensão e perdão das dos outros. Precisamos da força do alto. Saibamos procurá-la participando activamente nas celebrações do Tríduo pascal e vivendo frutuosamente a quadra litúrgica do tempo pascal. O anúncio da Páscoa gloriosa não esconde o sofrimento da cruz. É o triunfo do amor que se oferece na cruz. É a vitória da vida que voluntariamente se entrega ao sacrifício. Por isso, a Páscoa é, frequentemente, representada pela cruz enfeitada com flores, símbolo da beleza que tem a sua fonte no sacrifício do Senhor. A alegria e a esperança nascem da cruz de Cristo que reconciliou os homens com Deus e entre si. Sem o perdão não se chega à reconciliação e à alegria pascal. O perdão de Deus garante que a nossa vida, mesmo mesquinha, dividida, incoerente, é amada e santificada por Deus, desde que humildemente nos reconheçamos pecadores e peçamos perdão. Aquele que pede perdão e se reconcilia com Deus e consigo, transforma-se, por sua vez, em instrumento de reconciliação. Torna-se compreensivo e próximo. Acredita que também os outros, incluindo os que o ofenderam, são amados por Deus, capazes também de mudar. Nesse sentido, reza quotidianamente: “perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Só o perdão pode vencer o mal e ultrapassar a espiral do ódio e da vingança. Só o perdão torna possível a reconciliação e a paz. O perdão permite começar de novo o caminho do amor e da confiança e reconstruir a vida. É o caminho laborioso para alcançar uma feliz Páscoa. Páscoa de 2007. Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém