Reitor do santuário destaca uma história feita de figuras extraordinárias como o padre Joaquim José Alvares de Moura
Fátima, 10 jan 2018 (Ecclesia) – A Província Portuguesa da Congregação da Missão (vicentinos) está a assinalar 150 anos de presença no Monte de Santa Quitéria, em Felgueiras, na Diocese do Porto, e de ligação àquele santuário, um dos mais antigos do país.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o responsável pelo Santuário de Santa Quitéria recordou a importância do padre Joaquim José Alvares de Moura (1815–1881), um homem com “uma visão de futuro extraordinária”, que está não só na base da configuração atual do santuário mas também da presença dos padres vicentinos no território.
“Já havia uma parte reduzida, central do santuário, construída pelos monges beneditinos” mas foi Joaquim José Alvares de Moura que “reconstruiu, restaurou o santuário”, recorda o padre José Maria Pereira.
Foi também aquele “sacerdote diocesano” que ergueu no cimo do monte uma “casa para os missionários” vicentinos, com base num sonho que tinha: “combater a descristianização provocada pela revolução liberal e pela expulsão das ordens religiosas em 1834”.
Na altura, a Congregação da Missão (vicentinos) que se destaca pelas chamadas missões populares, pela formação e dos leigos, também teve de abandonar o país, mas o padre Joaquim José Alvares de Moura empenhou-se em trazer de volta um carisma que considerava fundamental para a Igreja e para a sociedade.
“Ele apanhou de tal maneira o carisma que juntou um grupo de padres diocesanos com paixão missionária e começaram a ir pelo norte do país inteiro a fazer o que os padres vicentinos faziam em cada paróquia onde eram chamados para evangelizar”, realçou o reitor do Santuário de Santa Quitéria.
O padre Joaquim José Alvares de Moura entrou para a Congregação da Missão no dia 12 de setembro de 1868, e além de construir “uma casa” para “reunir o grupo de missionários” e servir como ponto de “partida para a realização de missões” um pouco por todo o país, empenhou-se em vários outros projetos.
“Ele pensou: para reverter a descristianização não bastava pregar, fazer missões só pelas aldeias, a gente adulta. Teve a ousadia de construir dois colégios no alto do monte, um para rapazes e outro para raparigas. Ele dizia que as meninas precisavam de estudar mais do que os rapazes. Isto em 1868. Por isso digo que ele foi o pioneiro da libertação das mulheres, e um profeta do futuro, pela promoção do ensino da juventude”, apontou o padre José Maria Pereira.
Com a comemoração destes 150 anos, o reitor espera dar o merecido destaque a “um homem verdadeiramente extraordinário”.
E recordar o legado de outras “personagens ilustres que passaram pelo Colégio de Santa Quitéria”, como o padre Bernardino Barros Gomes, que esteve por trás do reordenamento do Pinhal de Leiria.
“Um cientista que tratou do ordenamento do território, fez as cartas dos mapas de Portugal que era ensinado nas escolas, e que no fim levou um tiro na cabeça no dia da República. O grande mártir da República. A República ainda não teve a coragem de pedir perdão por esta morte, mas acho que o devia”, frisou o padre José Maria Pereira.
“É uma personagem que a propósito dos fogos, e do seu grande papel no reordenamento do Pinhal de Leiria, na abertura de grandes estradas para ordenar a nossa floresta”, tem de merecer destaque, frisa o sacerdote vicentino.
O reitor invoca ainda outras personagens como “o padre José Joaquim de Sena Freitas, um grande escritor, que ensinou naquela instituição, e “o padre alemão Ernst Johann Schmitz”, que era naturalista e concretizou vários estudos sobre as plantas no Arquipélago da Madeira, “publicados em Berlim, em Viena, e em Paris, nas grandes universidades”.
A Província Portuguesa da Congregação da Missão está neste momento a preparar uma coletânea de quatro volumes sobre a sua história, e as figuras que a fizeram.
Os dois primeiros livros vão ser apresentados no dia 27 de janeiro, em Felgueiras, na Diocese do Porto, pelo investigador José Eduardo Franco, da Universidade de Lisboa, e pelo professor Luís Machado de Abreu, da Universidade de Aveiro.
A devoção a Santa Quitéria, uma das tradições religiosas mais antigas do país, atrai todos os anos milhares de peregrinos à cidade de Felgueiras, na região do Porto.
JCP