Joaquim Pinheiro, Diocese do Funchal
Um dos maiores desafios da nossa vida quotidiana é procurar ‘fazer o bem’, tanto numa perspectiva pessoal, como colectiva. A simplicidade da expressão não corresponde, inteiramente, à dificuldade da sua realização diária. Muitas vezes não é fácil definir o bem, numa certa circunstância, ou torna-se aparentemente mais persuasivo um outro caminho. Além disso, muitas vezes procuramos a recompensa das nossas acções e ‘fazer o bem’ pode não ter nenhum retorno imediato. Aliás, diminuir o desejo da recompensa é já um sinal desse toque genuíno da acção em prol do bem.
Num sociedade que ensina e proclama sobretudo o ‘sucesso’, ‘fazer o bem’ é relegado para um altar museológico. Até parece que fazer o bem, com sentido cristão, se tornou perigoso e desadequado, na espiral frenética do tempo em que vivemos, em especial porque o bem precisa de tempo, como a amizade precisa de momentos com aqueles que mais nos tocam. Pensa-se, age-se, observa-se, corrige-se e pode-se repetir, mas nem sempre conseguimos respeitar esse ritmo. O convite para se ‘fazer o bem’ é feito várias vezes no texto bíblico, como forma de expressarmos, por exemplo, o respeito pelo outro, sem olhar à origem, ao estatuto, à cor ou à crença.
Nos dias que vivemos, torna-se vital darmos testemunho desse olhar que o próximo nos deve merecer e é, simultaneamente, uma forma de dignificarmos a existência humana. Não é a dimensão das acções que determina o bem, mas a motivação e a consciência subjacentes ao acto, que se destina a contribuir para melhorar de forma autêntica os que se cruzam connosco. Umas vezes vamos ao encontro, outras somos nós os tocados! Na verdade, quando fazemos o bem, sentimos aquela brisa divina que completa um pouco mais a nossa humanidade.