A imigração é factor de desenvolvimento sobretudo dos países de acolhimento. Os países de origem veêm as remessas dos migrantes “esfumarem-se” em bens de consumo imediato e “raramente chegam a factor de desenvolvimento”. O problema esteve em debate no VIII Encontro de Animadores Sócio Pastorais das Migrações, que decorre até amanhã, em Fátima. Na apresentação do tema “Imigração e cooperação para o desenvolvimento”, o Director da Revista Além-Mar, Pe. Manuel Augusto Ferreira, expôs o que observou em diferentes países de origem das migrações (na Ásia, América Latina e África, onde trabalhou como missionário comboniano e por onde passou enquanto primeiro responsável pelos missionários combonianos em todo o mundo), onde as populações e o desenvolvimento local ficam normalmente para segundo plano. “Ajudar os imigrantes a fixar objectivos de desenvolvimento para as suas poupanças” e fazer com que as remessas enviadas não se “queimem” em rápidos consumos revela-se como um trabalho ao alcance de organizações que trabalham directamente com os imigrantes. “Trata-se de colocar as remessas ao serviço do desenvolvimento do país e da sociedade, para lá da melhoria do nível de vida das famílias dos emigrantes”. Diante da crescente “fuga de cérebros” e de mão-de-obra qualificada, o Director da Revista Além-Mar sugeriu a “circulação de cérebros”. Importa que a cooperação para o desenvolvimento “valorize mais os profissionais e os encoraje a regressarem aos seus países para serem os primeiros protagonistas de um desenvolvimento sustentável dos mesmos”. Para fazer da imigração factor de cooperação para o desenvolvimento, Manuel Augusto Ferreira apontou também três desafios incontornáveis. O primeiro refere-se à legalidade dos imigrantes, à necessidade de ultrapassar a imigração clandestina e à actuação das máfias, onde os legisladores e os políticos europeus têm trabalho a fazer. Aos empresários cabe “fazer tudo o possível para levar postos de trabalho, tecnologia e actividades produtivas aos países de origem dos migrantes, em vez de os ver como reservatórios de mão-de-obra barata para sustentar o próprio ritmo de desenvolvimento”. Outro desafio depende dos governantes dos próprios países de origem, para que deixem de “usar a emigração como arma para fazer pressão sobre os países europeus e obterem os melhores termos de cooperação e ajuda a nível financeiro, militar – em vez de olharem para os migrantes como sujeitos do desenvolvimento dos seus países e dos países que os acolhem”.