“Fay Grim”, um Filme de Espionagem

Em 1997, vão lá dez anos, o mediano cineasta americano Hal Hartley realizou “Henry Fool”, em que se debruçava sobre um poeta de sucesso, Simon Grim, a sua irmã e o marido desta, sendo a componente dominante as personagens masculinas. Passada uma década, e revelando agora uma inspiração acrescida, retoma os actores e as personagens e segue a vida destas numa nova época e numa nova perspectiva. A figura central passou a ser Fay Grim, abandonada há muito pelo marido, Henry, e sobre o qual tem recordações contraditórias. E, na tentativa de editar um livro em sua homenagem e, embora sem o revelar, na esperança de um reencontro, deixa-se cair numa armadilha da CIA que a envolve num intrincado problema de espionagem, que a leva a correr o mundo em permanente risco de vida, obrigada a actos e à sujeição de situações nunca sonhadas. O mais interessante do filme e sua melhor componente em termos de análise da sociedade contemporânea está, precisamente, nas referências numerosas e detalhadas aos serviços secretos dos mais diversos países, dos Estados Unidos a França, de Israel aos países árabes, rodeando sempre do maior cuidado tais referências, excepto no que respeita à própria América do Norte, abertamente criticada nas suas atitudes. É sobre Parker Posey, actriz experiente mas com alguma dificuldade em se adaptar ao difícil papel que lhe cabe, que recai grande parte da responsabilidade na expressão narrativa, uma construção intencionalmente complexa e que requer a maior atenção para que todos os detalhes sejam aproveitados. E é esta complexidade que valoriza o filme, pois a espionagem está longe de ser simples e transparente, pelo que só assim se torna verdadeiramente credível. Por tudo isto “Fay Grim” é um filme que merece a maior atenção, mas que terá certamente dificuldades acrescidas na sua divulgação uma vez que nem sempre a generalidade do público está disponível para pensar um pouco e interpretar aquilo que vê. Francisco Perestrello

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