Fátima: Um lugar «rezado» que marcou o mundo

Centenário das aparições e a sua relação com a queda do comunismo analisado pelo historiador e jornalista José Milhazes

Lisboa, 30 dez 2017 (Ecclesia) – A mensagem de paz, traduzida a partir das aparições de Fátima, deveria ser mais difundida num esforço dos portugueses e da Igreja em Portugal, acredita o jornalista e historiador José Milhazes.

“Os portugueses e a Igreja católica em Portugal deveriam fazer mais pela internacionalização da mensagem de Fátima. Levá-la mais aos outros povos, torná-la mais conhecida”, afirmou o jornalista à Agência ECCLESIA, a propósito da análise do centenário das aparições na Cova da Iria e da importância desta mensagem na queda do regime comunista.

José Milhazes acredita que a mensagem de Fátima pode dar um contributo no diálogo entre as Igrejas ortodoxa e católica, apesar da “retórica nacionalista e chauvinista” que acompanha na Rússia e que “pode dificultar esta aproximação”, indica o historiador.

“Não há razões para sermos optimistas. A situação internacional não deixa prever o que vai acontecer hoje, quanto mais amanhã. É um tempo de incertezas”.

No entanto, frisa o historiador, há desafios comuns dos tempos modernos que podem contribuir para uma aproximação.

“Não nos podemos esquecer que somos europeus, temos raízes judaico-cristãs e muitos russos não se querem esquecer disso. Querem manter determinados valores que podem servir de plataforma de entendimento e ação conjunta, nomeadamente nas questões do relativismo. O diálogo deve acontecer e aproximar estas Igrejas que estiveram durante anos de costas voltadas”.

Depois de décadas de perseguição à Igreja católica onde a difusão da mensagem cristã dava direito a “10 anos de prisão”, o apelo de paz e os relatos de que na Cova da Iria uma aparição de Nossa Senhora, segundo os relatos de três crianças, pedia a consagração da Rússia ao Imaculado Coração, começaram a chegar com maior intensidade a partir da Segunda Grande Guerra (1939-1945), quando “alguns russos ficam no ocidente e se convertem ao catolicismo”.

José Milhazes afirma que Fátima se transformou num centro de luta contra o ateísmo comunista nomeadamente através da criação do exército azul e graças à ação do padre húngaro Luís Kondor.

A circulação de literatura clandestina era sinal de que, apesar da cortina de ferro, “a mensagem ia chegando até a grupos de crentes ortodoxos, que oficialmente não reconheciam a mensagem”.

“Tentavam difundi-la e acreditavam que Fátima ia ter um papel fundamental na queda do regime comunista”, sublinha o jornalista.

Para os católicos de rito bizantino a mensagem de Fátima continua muito atual e é muito importante mas, indica José Milhazes, o trabalho da Igreja católica é limitado pelo receio dos ortodoxos.

Depois de quase quatro décadas e residir na Rússia, José Milhazes regressou a Portugal, mas mantém contacto e amizades que, de visita, lhe pedem para conhecer “aquele lugar onde apareceu uma senhora”.

Seja-se crente ou não, chegar ao Santuário de Fátima implica sentir “uma atmosfera de paz e de calma” que não deixa ninguém indiferente.

“As atitudes são diferentes, mas a maioria das pessoas fica rendida a este lugar. Eles (os russos) chamam-lhe um lugar rezado, um lugar onde se nota uma atmosfera de muita oração, uma grande concentração de orações. É uma expressão muito bonita”, sublinha o jornalista.

Para alguns a descoberta maior acontece quando se dão conta da existência de uma igreja ortodoxa que alojou “uma das maiores relíquias da Igreja ortodoxa, o ícone de Nossa Senhora de Kazan”, para o historiador um “símbolo de resistência” e de união entre católicos e ortodoxos.

“No fim é a mesma mãe de Deus”, aponta.

A análise de José Milhazes sobre o centenário das aparições de Fátima e os 100 anos da revolução russa podem ser escutados este domingo, no programa Ecclesia na antena 1.

LS

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Agência ECCLESIA

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