Fátima: «Ser cristão significa residir entre a fé e a dúvida» – D. Filomeno Vieira Dias

Arcebispo de Luanda preside à peregrinação internacional de agosto, na Cova da Iria

Fátima, 13 ago 2023 (Ecclesia) – O arcebispo de Luanda presidiu hoje, em Fátima, à Missa conclusiva da peregrinação internacional aniversária de agosto, referindo aos milhares de peregrinos presentes que “ser cristão significa residir entre a fé e a dúvida”.

“Ser cristão é aprender a viver na incerteza. O conhecimento da fé não é exato como o da ciência; aliás, a fé trata de realidades cuja importância é mais decisiva do que tudo o que podemos ver ou tocar. Crer no poder salvífico de Jesus implica correr um risco”, disse D. Filomeno Vieira Dias, na homilia da celebração, que decorreu no recinto de oração da Cova da Iria.

O responsável católico apresentou uma reflexão centrada na passagem do Evangelho de São Mateus, lida nas celebrações deste domingo, em que Jesus aparece aos seus discípulos, caminhando sobre as águas, no meio de uma tempestade.

“No profundo da crise, quando tudo parece perdido, recordam-se de invocar o Salvador, então voltam a encontrar a graça suficientemente capaz de os livrar da debilidade”, observou.

O arcebispo de Luanda falou da figura de São Pedro, que caminha em direção a Jesus e pede a sua ajuda, para não se afogar, como um símbolo do “risco da fé”, que enfrenta as dificuldades e medos que marcam a vida de cada um.

“Diante de todas essas realidades, vem a voz de Deus”, que afasta todo o medo, sustentou.

A existência cristã é uma mistura entre fé e dúvida. Dúvida não somente em relação a Jesus, mas também em relação aos próprios discípulos, à sua missão, à novidade da sua existência diante de um evento profundamente perturbador que nos impinge a mudar de vida”.

O presidente da peregrinação de agosto falou de Fátima como “lugar de paz, lugar de amor”, que representa uma “oportunidade única” de diálogo interior.

“Fátima fala-nos desta presença de Deus, na nossa história, nas nossas vidas”, acrescentou, sustentando que “o amor será a última palavra da história”.

“Por isso, não tenhamos medo: o Senhor está connosco! Nós não estamos sós!”, disse aos peregrinos.

D. Filomeno Vieira Dias evocou o testemunho do Papa Francisco “nos dias mais silenciosos deste século”, quando caminhou sozinho na Praça de São Pedro, a 27 de março de 2020, durante os primeiros dias dos confinamentos provocados pela pandemia de Covid-19

“A presença de Jesus e de Pedro na barca permitem que a Igreja navegue com fé e segurança em cada época e situação da história humana”, declarou.

As celebrações na Cova da Iria integram a Peregrinação Nacional dos Migrantes, que encerra a 51.ª Semana Nacional das Migrações, promovida pela Igreja Católica em Portugal, este ano com o tema ‘Livres de escolher: se ficar ou emigrar’.

O arcebispo de Luanda aludiu a esta “jornada de solidariedade com o migrante e o refugiado”, bem como da “atual e pertinente” mensagem do Papa Francisco que inspira o tema escolhido.

“As migrações são um fenómeno complexo”, indicou D. Filomeno Vieira Dias, que citou o Papa, no seu pedido de canais para uma “emigração segura e regular”.

Após a homilia, os participantes na Eucaristia rezaram para que as nações e os seus dirigentes “evitem os nacionalismos indiferentes à sorte dos mais pobres”.

A Oração dos Fiéis pediu “políticas de hospitalidade que abram as sociedades que governam aos migrantes e refugiados”.

Na intenção lida em polaco foi feita uma oração “pela paz no mundo, especialmente pelas vítimas do conflito na Ucrânia”, para que “o Senhor abra o coração dos responsáveis políticos e os faça reconhecer que só em paz” é possível “viver como verdadeiros irmãos e irmãs”.

A Missa internacional aniversária, deste domingo, incluiu a tradicional oferta de trigo, ação que se repete pela 83.ª vez, e que foi iniciada por um grupo de jovens da Juventude Agrária Católica de 17 paróquias da Diocese de Leiria, em 1940.

OC

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Agência ECCLESIA

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