Cardeal Parolin aborda próxima JMJ 2023 e desafios levantados pelos casos de abusos sexuais
Fátima, 12 mai 2023 (Ecclesia) – O secretário de Estado do Vaticano disse hoje em Fátima a “intenção da paz” vai estar no centro das suas preocupações, como presidente da peregrinação internacional de maio.
“É uma intenção que está particularmente presente no coração do Papa”, referiu o cardeal Pietro Parolin, em conferência de imprensa.
O número dois do Vaticano presidiu à peregrinação internacional de outubro de 2016 e voltou a Fátima, em maio de 2017, acompanhando o Papa Francisco.
“Não se pode vir a Portugal sem vir a Fátima, é obrigatório vir a Fátima”, apontou, recordando que “todos os Papas dedicaram grande atenção” às Aparições, na Cova da Iria.
D. Pietro Parolin evocou a consagração da Ucrânia e da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, em março de 2022, que uniu Fátima e o Vaticano, por iniciativa do Papa, face ao cenário de guerra no leste da Europa.
O responsável católico destacou a mensagem de paz que é promovida desde a Cova da Iria, com apelos à “oração, a penitência e a conversão”.
Questionado sobre a viagem do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky à Itália, o secretário de Estado do Vaticano admitiu que “há a possibilidade” de que tenha lugar um encontro com o Papa.
“Ainda não está confirmado”, acrescentou.
O responsável pela diplomacia da Santa Sé precisou que, desde o início da invasão russa, “o Papa procurou oferecer o Vaticano como lugar de mediação, como forma de chegar o mais rapidamente possível a um cessar-fogo”, tendo em vista a paz.
“Até agora não houve respostas positivas, nem de uma parte nem da outra”, admitiu.
Sobre outra iniciativa de paz, adiantada pelo Papa no regresso da Hungria, sem “especificar mais detalhes”, o cardeal Parolin precisou que a mesma “ainda não está em curso, está a ser pensada, a ser organizada”, admitindo que quando estiver em andamento possa ser comunicada publicamente.
O secretário de Estado do Vaticano assumiu ainda a “intenção dos jovens”, apontando à JMJ Lisboa 2023, que vai marcar o regresso do Papa a Portugal.
“É um encontro muito aguardado, que vai produzir bons frutos, certamente”, disse.
Sobre o impacto que a recente crise provocada pelos casos de abusos sexuais pode ter neste encontro, o cardeal Parolin assumiu-se como “testemunha diária do grande compromisso que houve e continua a haver na Igreja” para promover “uma atitude de grande transparência”.
Na Igreja foram adotados procedimentos que podem ajudar, verdadeiramente, a virar uma página dolorosa do passado, sobretudo na atenção às vítimas, e a abrir uma nova página de transparência e de prevenção”.
O secretário de Estado do Vaticano recordou a “grande sensibilidade” do Papa com as vítimas de abusos sexuais, admitindo que possa acontecer algum gesto específico, durante ou depois da JMJ Lisboa 2023, para manifestar-lhes “acompanhamento, proximidade e solidariedade”.
De momento não sei se, em acordo com os bispos, haverá a possibilidade de fazer um gesto, não ouso dizer, mas sei que com base na experiência passada, o Santo Padre sempre demonstrou uma grande sensibilidade neste campo”.
Quanto às polémicas sobre os custos da próxima edição internacional da JMJ, o colaborador do Papa mostrou-se “ao corrente” das mesmas, lamentando-as, mas lembrou que as mesmas já aconteceram noutros países, durante “grandes eventos que exigem um investimento económico”.
“Houve um diálogo com as autoridades e que levou a uma redução das obras e do respetivo custo”, acrescentou, relativamente ao encontro na capital portuguesa.
O cardeal italiano considerou natural que a opinião pública reaja aos custos, desafiando a imprensa a procurar os “aspetos positivos” destas iniciativas, como as “receitas económicas” que a chegada de milhares de peregrinos gera para o país.
“Algumas obras não são efémeras, mas estão ao serviço da coletividade e da comunidade local”, afirmou ainda, dando como exemplo a transformação na zona do Parque Tejo.
Em maio de 2017, Francisco tornou-se o quarto Papa a visitar Portugal, depois de Paulo VI (13 de maio de 1967), João Paulo II (12-15 de maio de 1982; 10-13 de maio de 1991; 12-13 de maio de 2000) e Bento XVI (11-14 de maio de 2010); São João Paulo II cumpriu ainda uma escala técnica no Aeroporto de Lisboa (2 de março de 1983), a caminho da América Central.
O cardeal Pietro Parolin falou de Fátima como “uma grande experiência espiritual”, vendo nos peregrinos “gente simples, que tem uma grande fé, uma grande capacidade de abandono à providência de Deus que se manifesta através de Maria Santíssima”.
OC