Marco Daniel Duarte orienta visita a peças e espaços que convidam peregrinos a olhar mais demorado




Fátima, 12 ago 2025 (Ecclesia) – O Santuário de Fátima apresenta-se aos peregrinos como um “laboratório” de diálogo com artistas de todos os tempos, com peças e espaços que convidam a um olhar mais demorado, na Cova da Iria.
“O Santuário foi sempre um laboratório de arte, percebendo-se claramente que aqui estão representadas não apenas as melhores estéticas de cada época mas também os melhores artistas”, disse à Agência ECCLESIA o diretor do Museu da instituição, Marco Daniel Duarte.
O especialista guia uma visita a alguns pontos simbólicos do Santuário, que todos os anos acolhe milhões de pessoas.
“Estamos num lugar que tem uma mensagem muito particular, muito específica. A Mensagem de Fátima é, de facto, sempre a maior obra de arte que pode aqui ser apreciada, mas ela tem consequências, e essas consequências são também materiais e materializadas, ao longo do tempo, desde 1917 até aos nossos dias, a partir dos cuidados da arte”, precisa o entrevistado.
Segundo o diretor do Museu do Santuário de Fátima, é possível contabilizar cerca 140 artistas que trabalharam para este lugar, deixando a sua marca.
“O percurso pelo recinto do Santuário leva-nos a olhar para diferentes estéticas, desde aquelas iniciais, como a da Basílica ligada a uma estética já do século XIX, que entra pelo século XX adentro (…) até a estética do século XXI que depois vamos ver na Basílica da Santíssima Trindade”, refere.
Numa visita que pode ser acompanhada no Programa ECCLESIA (15h00, RTP2), os visitantes são convidadas a olhar para a Colunata, onde podem encontrar a representação da Via-Sacra e as esculturas de vários santos.
As estações da Via Dolorosa de Cristo, a caminho do Calvário, são da autoria de Lino António, “um grande pintor dos anos 50 em Portugal”, refere Marco Daniel Duarte, acrescentando que o artista foi “coadjuvado por alguns nomes dos grandes ceramistas e até pintores que a História da Arte em Portugal veio a conhecer”, como o mestre Cargaleiro, então seu aluno.
Para o especialista, o facto de Fátima ter acompanhado a linguagem de cada época faz com “permaneça sempre antiga e sempre nova”, nas suas propostas.
Quem chega ao Recinto de Oração é recebido pelas grandes esculturas dos estatuários dos anos 50, representando santos portugueses ou ligados à espiritualidade mariana a partir do Carmelo; a última das esculturas, que fechou o ciclo da Colunata, representa Santa Beatriz da Silva e é da autoria de Irene Vilar.

O tardoz do presbitério do Recinto de Oração, restaurado por ocasião do Centenário das Aparições, apresenta a peça ‘Matéria espiritual’, de Fernanda Fragateiro, com planos espelhados que promovem o diálogo entre planos horizontais e verticais, refletindo a escadaria e os peregrinos.
“Aparece uma multiplicidade de planos que nos mostram como Fátima pode ser essa renovação ou desse Pentecostes renovado, como Fátima pode ser esse mundo que nos leva a ver mais além e a ver as interseções que aparecem na nossa vida, a partir da luz que o Pentecostes emana”, indica Marco Daniel Duarte.
O programa mostra também a Cruz da Capelinha das Aparições, de Rogério Timóteo, inaugurada na peregrinação internacional aniversária de maio deste ano.
“O autor coloca Cristo voltado para a imagem de Nossa Senhora, precisamente para nos remeter para o passo do Evangelho de João, no Alto do Calvário, quando Cristo se dirige à sua Mãe”, indica o diretor do Museu do Santuário de Fátima.

Outra das peças escolhidas foi o conjunto de Lavanda e Gomil na exposição ‘Servir: a única pregação’, da autoria de Ana Albuquerque.
“Aquele jarro, o gomil, é um jarro transposto a partir dos jarros antigos que eram usados no lava-pés aqui no Santuário de Fátima, quando os peregrinos chegam com os seus pés, com a sua história de vida”, indica o entrevistado.
“Sabendo que esta autora trabalhava nas suas conceções artísticas a questão das impressões digitais, pedimos-lhe que integrasse também, de alguma forma, esse elemento nesta peça”, acrescenta Marco Daniel Duarte.
Durante a tarde de 13 de agosto, vão ser assinalados os 70 anos da fundação do Museu do Santuário de Fátima, com uma visita guiada à exposição temporária e a exibição de um pequeno documentário.
“O Museu do Santuário é um dos braços do Santuário para comunicar com todos. É levar que o visitante faça aqui uma experiência, séria, que se olhe para cada peça e se perceba o que é que esta peça significa na minha vida, na narrativa que está aqui a ser usada, a ser apresentada e como é que a partir de objetos estáticos eu posso olhar para mim e olhar para os outros. Se não for para isso, os museus não devem existir”, conclui o diretor.
OC