D. Gianfranco Ravasi vai presidir à peregrinação internacional de maio
Fátima, Santarém, 12 mai 2012 (Ecclesia) – O responsável do Vaticano pela relação da Igreja com a arte e o pensamento considera que o Santuário de Fátima favorece a “descoberta da riqueza da diversidade e da pluralidade das culturas”.
D. Gianfranco Ravasi, que hoje e amanhã preside na Cova da Iria à peregrinação de maio, que marca o 95.º aniversário da primeira aparição da Virgem Maria, declarou em entrevista ao Centro de Comunicação Social do Santuário que vai a Fátima “como peregrino de um lugar materno para a cultura contemporânea”.
O cardeal italiano sublinha o valor que a mensagem de Fátima atribui à “união da visão cristã com a realidade histórica da vida” e o “forte apelo a viver a própria história com fidelidade e em permanente conversão ao querer de Deus”.
O especialista em estudos bíblicos revelou que as suas intervenções vão acentuar a importância do Santuário da Diocese de Leiria-Fátima enquanto “lugar da escuta da Palavra de Deus” e como espaço propício à “valorização da experiência de momentos de diversidade da rotina quotidiana”.
“Encontrar-se cada um consigo mesmo, no silêncio, permite distanciar-se de tanta superficialidade a que parece obrigar a agitação da vida contemporânea”, salientou.
O prelado está otimista quanto à relação do catolicismo português com a cultura, na sequência do encontro do Papa com personalidades da arte e do pensamento em maio de 2010, quando visitou Portugal.
“A simpatia com que tantas figuras da cultura portuguesa acolheram Bento XVI demonstrou ser campo aberto para um trabalho pastoral”, referiu Gianfranco Ravasi, acrescentando saber que “várias dioceses estão a percorrer esse caminho, animadas por um Secretariado da Pastoral da Cultura bastante criativo”.
A “ternura do encontro entre Manoel de Oliveira e Bento XVI, descendo este da sua cadeira para ir ao encontro do cineasta”, durante a sessão no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, simboliza a “atitude da Igreja chamada a ir ao encontro da cultura contemporânea”, realçou.
Entre as questões mais importantes que o Conselho Pontifício da Cultura tem em mãos está “o campo da relação entre ciência e fé, entre fé e estética”, a “interculturalidade”, o “humanismo da economia” e o Átrio dos Gentios, plataforma de diálogo entre crentes e não crentes “que desde 2010 corresponde a uma atitude com largo futuro”.
A “comunicação e linguagem” é o setor que Gianfranco Ravasi considera “mais exigente, dada a profunda mudança”.
“Assistimos a uma viragem rápida nas formas de linguagem e a fenómenos novos da grande cultura de massas que não podemos negligenciar, mas são meios difíceis, já que requerem uma adaptação que nos despoja de retórica, embora sendo canal para centrar a mensagem cristã no essencial”, apontou.
Para Gianfranco Ravasi os “problemas económicos” associados à “crise global” manifestam “uma dificuldade muito mais vasta”, pelo que importa também ter em linha de conta a cultura, a educação e a formação.
A superação das dificuldades deve passar pela “celebração da dignidade da pessoa humana, que está posta em crise na cultura contemporânea”, aliada à educação para a “solidariedade”, “palavra para declinar o termo amor, que é muito mais um modo para o tornar compreensível a todos, também aos não crentes”.
RJM