Fátima: Santuário evoca «perseverança e autenticidade» da Irmã Lúcia, no dia do seu aniversário

«Guardiã da mensagem de Fátima» nasceu há 118 anos

Foto: Santuário de Fátima

Fátima, 28 mar 2025 (Ecclesia) – O Santuário de Fátima assinalou hoje o nascimento da Irmã Lúcia (11.03.1907), apresentando “um perfil da vidente que tomou a difusão da mensagem de Fátima como missão, pelo olhar de quem mergulhou na sua história de vida”.

“Apesar da clausura, é Lúcia que condiciona a imagética de Fátima, dando as indicações para as principais representações de Nossa Senhora e de todo o contexto de Fátima, e é ela que, na retaguarda, pugna incansavelmente pela dimensão devocional de Fátima”, admite José Rui Teixeira, investigador que colaborou na elaboração da ‘Positio’ sobre a vida, virtudes e fama de santidade da Irmã Lúcia.

Este documento foi apresentado no Vaticano a 13 de outubro de 2022, no processo que levou ao reconhecimento da vidente como venerável a 22 de junho do ano seguinte.

“Quando as coisas surgem em Fátima, nós não imaginamos que Lúcia está por detrás. Ela insistia até à exaustão, de modo a fazer vingar uma realidade que ela crê ser determinante, nesta história. Portanto, ela é uma lutadora incansável”, acrescenta.

A consulta de milhares de páginas, indica o autor, fez com que Lúcia se tornasse “uma nova personagem do mais íntimo interesse pessoal” – e resultou numa biografia de quase 500 páginas, com mais de 3500 citações.

“Se não me apaixonasse por ela do ponto de vista histórico, seria penoso passar dois anos neste trabalho, mas Lúcia tem uma sensibilidade poética tremenda e uma personalidade extremamente forte e inabalável”, afiança o investigador.

Lúcia é uma mulher profundamente marcada pelo sentido de providência e isso faz com que ela resista a vicissitudes que, humanamente, muita gente não seria capaz de ultrapassar, sempre marcada por um compasso de espera em função daquilo que Deus queria para a sua vida”.

José Rui Teixeira assume a convicção de que Lúcia “faz com que toda a sua experiência e memória se entranhem na sua existência” e que “nunca ninguém lhe arrancaria aquilo que levou”.

“A mãe de Lúcia era uma mulher inquebrantável, com uma moralidade rígida, e foi Lúcia que se impôs para seguir a sua vocação”, constata, ao caraterizar a relação entre ambas como “profunda, de parte a parte”.

No bispo de Leiria, Lúcia encontrou uma figura paternal, aponta ainda o investigador.

“D. José Alves Correia da Silva era um homem muito compreensivo, meigo e preocupado com Lúcia, que tinha por ele uma verdadeira relação filial de confiança. Só ele teria arrancado de Lúcia as Memórias, que são uma espécie de grande carta escrita ao bispo de Leiria, a contar a sua história, a pedido”, refere.

Quanto à amizade com os primos, Francisco e Jacinta, canonizados em 2017, José Rui Teixeira destaca o “carinho” com Lúcia fala deles nas ‘Memórias’.

“Se a relação com a mãe é mais intensificada em termos dramáticos, quase literários, com a Jacinta e com o Francisco a relação é de profunda empatia”, salienta o teólogo.

Se há algo a salientar da vida de Lúcia é a consciência simultânea de que só Deus sabe quem ela é e o permanente desejo de santidade. Ela é uma mulher de sacrifício, no sentido de não encontrar limites, cedências particulares em função de algo que considera maior”.

A ‘Positio’ sobre a vida, virtudes e fama de santidade da Irmã Lúcia, na qual consta a biografia da Irmã Lúcia, foi entregue no Dicastério para as Causas dos Santos, em Roma, a 13 de outubro de 2022, pelo postulador geral da causa de canonização, padre Marco Chiesa, e pela vice-postuladora, irmã Ângela de Fátima Coelho.

Depois de ter sido analisada por um conjunto de nove teólogos, que emitiram o seu parecer favorável sobre a prática das virtudes em grau heroico, o parecer positivo do Dicastério para as Causas dos Santos foi apresentado ao Papa, que aprovou a publicação do respetivo decreto a 22 de junho de 2023, passando a Irmã Lúcia a ser considerada Venerável.

Esta é uma fase do processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato, penúltima etapa para a declaração da santidade; para a beatificação, é agora necessária a aprovação de um milagre atribuído à intercessão da religiosa carmelita.

OC

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