Fátima: Santuário é fenómeno «global» porque vai ao encontro da «ambição» humana pela paz

Entrevista ao investigador Bruno Cardoso Reis

Lisboa, 09 out 2017 (Ecclesia) – O historiador Bruno Cardoso Reis diz que o Santuário de Fátima permanece hoje como um fenómeno “global” sobretudo pela capacidade que tem em tocar numa das maiores “ambições” da humanidade, que é a busca da paz.

“Uma das chaves para o sucesso de Fátima, para esta relevância continuada, tem a ver com a maleabilidade da sua mensagem, com um núcleo central que se vai mantendo embora a sua leitura vá variando, que é esta questão da paz, com adaptações aos diferentes tempos. Uma grande ambição da humanidade mas infelizmente ainda não completamente concretizada”, salienta aquele responsável, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Bruno Cardoso Reis é investigador do Centro de Estudos de História Religiosa, da Universidade Católica Portuguesa, e trabalha também no Centro de Estudos Internacionais do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.

Em parceria com o historiador José Eduardo Franco, publicou a obra ‘Fátima Lugar Sagrado Global’, para estudar o desenvolvimento daquele local de culto e da devoção a Nossa Senhora de Fátima ao longo dos anos.

Em 1917, a relevância do fenómeno Fátima teve “muito a ver com a procura desesperada por milagres, numa época em que com a guerra morriam milhões, em que havia muita falta de alimentos”, recorda o autor.

“Quando aparece esta notícia em que a padroeira de Portugal está a aparecer no centro do país, há muitas pessoas que começam a acorrer”, só na aparição de outubro de 1917 foram “dezenas de milhares”, acrescenta.

É preciso ter também em conta todo o contexto político da época em Portugal, que anos antes tinha passado da Monarquia à República.

“O governo republicano era muito belicista, fazia da guerra uma grande cruzada patriótica. Aparecer Nossa Senhora já era um grande desafio ao anticlericalismo do regime, por outro lado, aparecer Nossa Senhora com uma mensagem de paz, ainda mais”, frisa o historiador.

Mas, de acordo com Bruno Cardoso Reis, existem outros fatores que fazem com que a mensagem de Fátima mantenha toda a sua vitalidade, 100 anos depois.

Desde logo a sua credibilidade, “validada” pelos sucessivos Papas que foram “muito importantes” para “dar visibilidade em vários contextos, em vários momentos, ao santuário”.

E depois pelo cariz “multidimensional” da sua mensagem, que chega mesmo às pessoas que “têm uma vivência muito intelectual da fé”.

Sobre a investigação dedicada ao Santuário de Fátima, Bruno Cardoso Reis reconhece que no meio da comunidade científica “cada vez mais há o reconhecimento de ser um tema importante, há cada vez uma maior abertura”.

Neste âmbito, foi fundamental “a publicação da documentação crítica” do Santuário, um aspeto “muito valorizado e que ajudou a validar o estudo destes temas”, concluiu o historiador.

O Santuário de Fátima prepara-se neste mês de outubro para concluir as comemorações do Centenário das Aparições (1917 – 2017), que incluíram várias celebrações de cariz religioso, com destaque para a vinda do Papa Francisco à Cova da Iria, para a peregrinação de 12 e 13 de maio deste ano.

Destaque também para a aposta em diversos congressos e simpósios que procuraram aproximar o local de culto da comunidade científica.

HM/JCP  

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Agência ECCLESIA

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