«O Santuário não existe para dar lucro, se nós conseguirmos em cada ano um saldo neutro é ótimo», salientou o padre Carlos Cabecinhas,na apresentação de estatísticas e resultados contabilísticos
Fátima, 08 fev 2024 (Ecclesia) – O Santuário de Fátima apresentou esta quinta-feira as estatísticas relativas a 2023, onde registou um aumento de peregrinos, 6,8 milhões de pessoas no total, mais rendimentos, 21,73 milhões de euros, mas também aumento de gastos, 21,62 milhões de euros.
“As contas do santuário, que serão auditadas por entidade externa como é habitual, são estáveis e equilibradas, procuramos sempre a este nível com rigor e equilíbrio garantir que os nossos gastos e investimentos sejam sempre em prol dos peregrinos e naquilo que é a observância das finalidade e objetivos dos santuários”, disse o reitor do Santuário de Fátima no 45.º Encontro de Hoteleiros e responsáveis de Casas Religiosas que Acolhem Peregrinos em Fátima.
O padre Carlos Cabecinhas recordou que o santuário mariano da Cova da Iria “vive dos donativos dos peregrinos”, e se o aumento do número de peregrinos, “mais de 6,8 milhões aqueles que participaram em alguma celebração”, “potencia o crescimento dos donativos e consequentemente dos rendimentos”.
6,8 milhões de peregrinos é um aumento de 39% em relação a 2022 e, comparado com 2019, quando receberam 6,3 milhões, verifica-se um crescimento de 9%.
O ano de 2023, acrescentou o sacerdote, no Salão do Bom Pastor do Centro Pastoral Paulo VI, foi um “ano especial, com acontecimentos extraordinários” onde verificou-se um “aumento significativo de gastos”, nomeadamente a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa e a visita do Papa Francisco a Fátima que “muito agradam” e onde empenharam-se “intensamente” e “implicaram gastos diretos do Santuário de 1 milhão e 420 mil euros”.
“Os números são de alguma forma provisórios, mas muito próximo daquilo que são os resultados finais: tivemos cerca de 21,73 milhões de rendimentos e gastos nos valores 21,62 milhões de euros. Significa um saldo positivo de cerca de 110 mil euros”, explicou o padre Carlos Cabecinhas, lembrando que os rendimentos de 2022 foram de 18,66 milhões de euros e os gastos de 17,51 milhões de euros.
Em declarações aos jornalistas, no final do encontro com os hoteleiros e responsáveis de casas religiosas, o bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas, disse que ficava “contente não pelo resultado pequeno” das contas mas “pelo significado daquilo que se gastou e que fez com que se chegasse a esse resultado”.
“Obviamente, gostaríamos que com uma subida dos rendimentos também houvesse uma margem maior, mas este ano tínhamos também assumido que tendo em conta que tínhamos despesas excecionais, extraordinárias, e não repetíveis, a Jornada Mundial da Juventude e gastos diretos que ultrapassaram 1 milhão e 400 mil euros, já esperaríamos um resultado final desta ordem”, indicou, por sua vez, o reitor do santuário.
Segundo o padre Carlos Cabecinhas, havia a possibilidade que o “saldo pudesse ser negativo” e isso não levou-os a “ponderar não investir na Jornada Mundial da Juventude o que foi investido, e explicou que os “gastos diretos incluem o donativo” à JMJ Lisboa 2023, o aluguer de tendas e estruturas para a ‘Aldeia Jovem’, para a sala de imprensa, a exposição em Lisboa durante a Jornada, um filme de animação, bem como a preparação de estruturas e espaços para acolhimento dos jovens e a visita do Papa à Cova da Iria, e a contração de serviços externos, “nomeadamente vigilância para este período”.
“Havia clara consciência de que aqui importava fazer um investimento porque pensamos que é um investimento para o futuro. Muitos dos jovens regressarão a Fátima e são já, nos lugares de origem, difusores de Fátima. Em relação ao exercício este até nos deixa muito tranquilos”, salientou, realçando que o santuário, em cada ano, tenta que haja um “grande equilíbrio entre rendimentos, “fundamentalmente de donativos”, e os gastos.
A Cova da Iria recebeu, no âmbito da JMJ Lisboa 2023, um total de 1 151 287 jovens, 17% do número global de peregrinos, de 68 países e 30 línguas.
Questionado sobre despedimentos, o padre Carlos Cabecinhas recordou que, no ano de 2020, o Santuário de Fátima “teve prejuízos na ordem dos seis milhões e não fez despedimentos”, isso quer dizer que “é uma instituição com grande disponibilidade financeira: O ano passado ainda aquém do número de peregrinos, tivemos um resultado positivo superior a 1 milhão de euros”.
O Santuário não existe para dar lucro, se nós conseguirmos em cada ano um saldo neutro é ótimo. E recordo que este ano tivermos um saldo positivo, não foi uma margem muito grande mas foi um saldo positivo. A questão do despedimento não está minimamente no nosso horizonte, entendemos que a solidez do santuário não faz com que essa questão se ponha para o santuário e para os seus colaboradores.”
Aos participantes do 45.º Encontro de Hoteleiros e responsáveis de Casas Religiosas que Acolhem Peregrinos em Fátima., o reitor explicou que, em 2023, os aspetos que “implicaram maiores gastos” foram 6,74 milhões de euros com pessoal, as depreciações nos 4,24 milhões e Fornecedores e Serviços Externos (FSE) de 4,35 milhões.
Das estatísticas apresentadas destaca-se que o Santuário de Fátima recebeu de forma organizada 4779 grupos: 1161 portugueses e 3618 estrangeiros, pessoas de 94 países, a “maior expressão” os grupos da Europa, a América foi o segundo continente, destacam-se os EUA, o Brasil e o México, e a Ásia em terceiro, com proveniências das Filipinas, Coreia do Sul e Vietname.
A Capelinha das Aparições é o espaço da Cova da Iria onde se concentram mais peregrinos, 3 milhões e 112 mil participantes em 3.652 celebrações; o santuário registou 27 casamentos, 130 batismos e 626 bodas matrimoniais: 288 de prata, 305 de ouro e 33 de diamante.
Em 2023, a 17 de junho, abriram o Centro de Escuta Lúcia de Jesus, que acolheu 734 pessoas nos primeiros meses de funcionamento, divulga o Santuário de Fátima.
CB/OC
O Santuário de Fátima vai viver um biénio pastoral, enraizado nos temas determinados pelo Papa Francisco para a vivência do Jubileu 2025, com o lema global ‘Ao encontro da esperança’, e cada ano pastoral tem o seu próprio tema: ‘Chamados ao encontro’ (2023-2024); ‘Peregrinos da esperança’ (2024-2025). “O Santuário de Fátima adotou como horizonte o Ano Santo Jubilar, em sintonia com este acontecimento rumo ao qual se desenvolverá a vida da Igreja ao longo destes dois anos”, explicou o padre Carlos Cabecinhas aos participantes. Já o bispo de Leiria-Fátima, numa palavra final de encerramento do 45.º Encontro de Hoteleiros e responsáveis de Casas Religiosas que Acolhem Peregrinos em Fátima, destacou a importância do “bom acolhimento, acolher bem”, lembrando a imagem atribuída pelo Papa Francisco à capelinha, “imagem da Igreja”. “Bem acolher e abrir espaço para o diálogo e para o encontro mas também para ver o mundo de outro jeito e deixar-se ver. A palavra primeira é gratidão para com Deus e para com a Sua mãe que aqui nos reúne e que nos deu este ano muito singular, de trabalho, aliado a tantas outras coisas muito simpáticas, mas também que o meio de tantas preocupações que o mundo tem, nomeadamente a guerra. Desde aqui, a oração significa colocar-se na onda da sincronia com Deus, que quer certamente a paz”, desenvolveu D. José Ornelas. Segundo o responsável diocesano, que partilhou preocupações a nível do ambiente, climáticas, como o “aumento da temperatura”, o “espírito de Fátima” tem os temas fundamentais da “paz e do futuro do planeta e da justiça do acolhimento”. Sobre o tema da esperança que vai marcar o Ano Santo 2025, D. José Ornelas afirmou que “não é importante apenas quando as coisas vão bem”, realçando que é preciso semear por “senão não vai germinar e é nesse sentido de esperança que este Santuário se deve tornar um berço, terreno fecundo onde a semente deve ser lançada”. O diretor do Museu e do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima, Marco Daniel Duarte, apresentou a temática do Ano Jubilar, com a conferência ‘As celebrações do Ano Santo em Fátima: marcas no tempo e no espaço (a propósito do Jubileu de 2025)’. “Como o Ano Santo foi marcando o tempo, que perdura até aos nossos dias, e também o espaço falando do jubileu do próximo ano que estamos já a preparar a partir da exortação do Papa Francisco”, explicou. O primeiro Jubileu foi em 1925, depois das Aparições de Nossa Senhora em 1917, e o último ano jubilar no santuário no centenário dessas aparições, em 2017; o Ano Santo de 1933, jubileu da redenção, já está registado no jornal ‘Voz da Fátima’ e, em 1951, Fátima foi escolhida para receber as celebrações do enceramento desse Ano Santo, a 13 de outubro, sendo a Cruz Alta uma marca dessa celebração. |