A 5 de Outubro, dia festivo para Portugal, o dia da celebração do centenário da implantação da República, celebraram-se no Santuário de Fátima missas pela paz e pela justiça.
A propósito da efeméride, o Reitor do Santuário de Fátima, durante a eucaristia internacional celebrada às 11:00, reflectiu sobre aquilo que considera ser o modo correcto de agir em sociedade. Aos cristãos lembrou o dever da cidadania e aos políticos a necessidade da sabedoria ao serviço da verdade e do bem comum. Em tempos difíceis, este responsável apelou ao fomento de “leis justas, que protejam os mais débeis e ajudem a uma mais equitativa distribuição dos bens” e à “conversão do coração aos valores da fraternidade”.
“É dia de agradecermos a Deus o facto de sermos um país e um povo, com capacidade para se reger e com liberdade para agir, um povo a viver em relativa paz e relativa justiça. Se comparamos a nossa situação com o que ainda se vive noutras regiões do planeta ou com o que já vivemos noutros períodos da história, concluímos que estamos num oásis de bem-estar, que temos de agradecer ao Senhor de todo o coração”, começou por afirmar o Padre Virgílio Antunes, no início da homilia da missa celebrada no Recinto de Oração.
“Ponto assente é que o cristão tem o direito e o dever da cidadania, responsavelmente assumida, e não pode ser discriminado num mundo em que se fala de liberdade religiosa e de tolerância, mas onde elas tantas vezes são atingidas. Animado pela sua fé e pela sua condição de membro da Igreja, sentindo-se irmão de todos os homens, o cristão sabe que não é uma ilha no meio do mundo, mas um membro vivo de um corpo, pelo qual também é responsável”, disse.
Ao reiterar a palavra do Evangelho lida naquela celebração, “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, o Reitor sublinhou que “de facto, a Igreja não tem um partido político, e os cristãos podem pertencer a qualquer partido, desde que ele lute pelos ideais cristãos de sociedade e de vida; desde que ele não proponha formas de viver que contrariam a verdade da fé e da moral, que se depreendem do Evangelho e da doutrina da Igreja”.
“Mais ainda, o facto de a Igreja não estar na política enquanto instituição, não significa que os cristãos não devam estar lá em nome da sua condição de cidadãos e de cristãos”, sublinhou este responsável que considera que a Igreja Católica e as outras confissões religiosas “devem gozar de autonomia no desenvolvimento das suas acções de carácter religioso e espiritual, mas também na sua acção assistencial, educativa e social”.
A quem exerce cargos políticos, “tanto nos mais altos cargos da nação, como no serviço das autarquias, das associações e dos grupos, ou mesmo no âmbito laboral e familiar”, o Reitor também deixou algumas advertências.
“O Apóstolo (São Paulo) fala da sabedoria e da inteligência, que se supõe em todos os que, num regime democrático, são eleitos para servir a nação. (…) Ao fazer o elogio da sabedoria que vem do alto e deve ser interiorizada por todos os homens de boa vontade, o Apóstolo afirma que ela é ‘pura, pacífica, compreensiva e generosa, cheia de misericórdia e de boas obras, imparcial e sem hipocrisia’”.
Na raiz do mal-estar que hoje se vive, na raiz da falta de paz existente no mundo, considera o Padre Virgílio Antunes, está a falta de justiça. “Mesmo que as armas se calem, se não houver pão para todos e condições de vida que possam chamar-se humanas, não há paz sobre a terra. É urgente criar-se um clima de justiça na distribuição dos bens, no cumprimento das obrigações perante o Estado e do Estado face aos cidadãos, no respeito pelas pessoas e instituições, na defesa escrupulosa da verdade”.
A tarefa é enorme e é necessária a colaboração de todos.
“As leis justas, que protejam os mais débeis e ajudem a uma mais equitativa distribuição dos bens, são uma parte fundamental no contexto da organização social moderna. A iniciativa privada, do pequeno grupo, da família, da Igreja, das associações… é importantíssima, por estar mais próxima dos lugares e das pessoas mais desfavorecidas. Acima de tudo, a conversão do coração aos valores da fraternidade, da dádiva de si mesmo, do serviço e do amor, são condições sem as quais se não alcança a paz nem a justiça, pois elas nascem do coração e passam para a acção e para a vida”.
LeopolDina Simões, Sala de Imprensa do Santuário de Fátima