D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, não quer que os fiéis da Diocese se esqueçam que são os primeiros responsáveis por fazer com que o Papa se sinta em casa
Na altura de noticiar a azáfama dos preparativos que rodeiam uma visita papal, Fátima parece colocada à margem, tal a experiência dos responsáveis pelo Santuário em acolher grandes celebrações. D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, não quer que os fiéis da Diocese se esqueçam que são os primeiros responsáveis por fazer com que o Papa se sinta em casa nesse espaço, acorrendo às celebrações do 12 e 13 de Maio.
Agência ECCLESIA (AE) – Com que perspectivas vai acolher Bento XVI a Diocese de Leiria-Fátima?
D. António Marto (AM) – São três sentimentos, diríamos assim, com que acolhemos o Papa. Primeiro, a alegria e o regozijo de termos entre nós o pastor universal da Igreja e fazermos uma grande experiência da beleza da Igreja, aqui em Fátima.
Depois, é um sentimento de gratidão pela honra com que nos distinguiu em fazer-nos uma visita aqui em Fátima. Era um desejo desde há longo tempo cultivado, pelos menos desde 2007, no 90.º aniversário das aparições, e que agora se concretiza.
Em terceiro lugar, um sentimento do dom da consolação que o Papa traz, no sentido de que é um reconhecimento da actualidade da mensagem de Fátima para os tempos de hoje, que eu espero que ele desenvolva, e do carisma do Santuário, a sua importância, a sua relevância quer para a Igreja quer para o mundo, porque é um centro de peregrinação universal.
AE – A presença de Bento XVI dará um novo vigor à mensagem de Fátima?
AM – Ninguém melhor do que ele conseguiu fazer toda a leitura teológica desta mensagem, que foi dirigida para um momento histórico, do século XX, quer para o mundo quer para a Igreja. Ninguém melhor do que ele, também, conseguirá fazer a sua reactualização para circunstâncias novas. É como aquelas profecias do Antigo Testamento que ainda valem para hoje, nunca se esgota a mensagem, temos de a reinterpretar.
Espero que o Papa faça essa reactualização de uma maneira muito pertinente e muito bela, como só ele consegue fazer.
AE – Podemos falar num Papa de Fátima, como foi João Paulo II?
AM – É difícil dizer, porque João Paulo II sentiu-se ele mesmo protagonista da mensagem, na medida em que foi um Papa do século XX e, sobretudo, na terceira do segredo aparece a figura do Papa que encabeça a peregrinação, a Via Sacra dos mártires. Ele sentiu-se parte também dessa mensagem e da sua realização para o século passado, daí a grande devoção que o trouxe aqui três vezes.
Não sei se isto acontecerá a outro Papa, de qualquer modo Bento XVI é também um Papa mariano, um teólogo que tem textos lindíssimos sobre Maria na história da salvação, como modelo de fé para os cristãos.
AE – Apesar da dimensão nacional e internacional de que se reveste a visita a Fátima, este é também um momento especial para a própria comunidade diocesana…
AM – Sim, já na Quaresma dirigi uma mensagem aos meus diocesanos a dizer-lhes que nós somos os primeiros anfitriões de tão ilustre e estimado peregrino, por conseguinte temos de nos mobilizar para o receber com a maior alegria, com o maior entusiasmo, com o maior afecto filial. Várias vezes tenho chamado a atenção para isso. Na peregrinação diocesana, em Março, quando estiveram 40 mil pessoas no Santuário, repeti esse apelo, que foi correspondido com aplausos. Espero uma mobilização dos que estão mais perto, espero que não se deixem levar pelo comodismo de ver só pela Televisão e que participem nas celebrações.
AE – A viagem acontece no 10.º aniversário da beatificação do Francisco e da Jacinta. É um momento relevante?
AM – É uma coincidência feliz, que inclui também o 100.º aniversário do nascimento da Jacinta, que foi quem mais sentiu o sofrimento do Papa, a que ficou mais impressionada com aquela visão que fazia parte do segredo, que rezava e oferecia sacrifícios pelo Papa. A visita vem reavivar o afecto e a comunhão da Igreja com o Papa que é característico da mensagem de Fátima, precisamente neste momento em que a Igreja é abalada por alguns casos.