Covid-19 obriga a celebração inédita do 13 de outubro, com lotação limitada na Cova da Iria
Fátima, 12 out 2020 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) criticou hoje em Fátima atitudes “manipuladoras e populistas” de alguns líderes políticos, perante a pandemia, numa celebração inédita da peregrinação internacional de outubro, por causa da Covid-19.
“Durante esta pandemia, a par da mais heroica abnegação e generosidade de tanta gente, têm-se manifestado também muitas e poderosas atitudes manipuladoras, populistas, interesseiras e egoístas, sem remorso de usar o sofrimento, o desconcerto, a desorientação, para daí tirar dividendos políticos e económicos, criando mesmo conflitos”, referiu D. José Ornelas, bispo de Setúbal, na celebração da vigília do 13 de outubro.
O responsável pediu mudanças para que “a superação desta crise possa beneficiar todos”, numa humanidade “mais solidária e mais fraterna”.
Num recinto com acesso controlado e lotação limitada, para evitar a propagação do novo coronavírus, o responsável católico apelou a uma resposta solidária para a crise social e económica provocada pela pandemia.
“É possível e é necessário que nós colaboremos para que, desta travessia do deserto da pandemia, possa nascer uma humanidade que habite uma terra que seja casa comum, que seja terra para todos”, indicou.
Não permitamos que os mais débeis fiquem esquecidos nas suas dificuldades. Cresçamos na solidariedade, na criatividade, na busca de caminhos novos para um mundo novo, com os muitos problemas mas também com as muitas oportunidades que temos por diante”.
Segundo números divulgados pelo Santuário, estiveram na Cova da Iria, esta noite, 4500 pessoas; as celebrações contaram com a presença de 51 sacerdotes e nove bispos.
“A atual contenção da presença dos peregrinos no santuário, nesta peregrinação de outubro é também sinal claro das limitações e condicionalismos que neste momento atingem o mundo, com as nefastas consequências que todos conhecemos e que atinge sobretudo os mais frágeis”, destacou o presidente da CEP.
D. José Ornelas evocou o exemplo de quem se dedica ao próximo, “apesar das dificuldades e hostilidades que encontra”.
Pensemos, por exemplo, naqueles e naquelas que estão a fazer esforços incríveis, em condições dramáticas, para socorrer as pessoas atingidas pela pandemia, nos hospitais, nos lares, nas casas onde se vive em solidão, nos campos de refugiados sem condições, na busca soluções para todos e não apenas para alguns”.
O bispo de Setúbal apresentou aos peregrinos a figura da Virgem Maria como “a imagem da proximidade proximidade com aquele que foi injustamente rejeitado, caluniado, condenado e executado”, a imagem “materna de cuidar dos mais frágeis e dos descartados, da coragem de partilhar a sorte dos condenados, dos excluídos, dos incómodos”.
“Jesus pretende que a Igreja, que assim funda, assuma a atitude de Maria: na fidelidade a Deus e à sua aliança com Israel ao longo da história; na fidelidade ao homem sofredor, excluído e condenado; na misericórdia para a acolher sem medo o escândalo da dor, da injustiça, da exclusão”, ajudando a “encontrar caminhos para a superação das crises e mesmo da morte”, acrescentou.
A homilia concluiu-se com um apelo à intercessão dos santos Jacinta e Francisco Marto: “Que eles nos ajudem a deixar-nos igualmente guiar pela mão da Mãe do Céu, pela mão da Mãe da Igreja, para podermos superar as dificuldades presentes e colaborar na construção de um mundo mais justo e solidário, aberto à grandeza e ao amor misericordioso do Pai do céu”.
Nesta celebração da Palavra, que se seguiu à recitação do Rosário e à procissão das velas, os participantes rezaram “pelos milhares de crianças e jovens em regresso às aulas”, as “vítimas diretas e indiretas da atual pandemia”, em particular os mais idosos e sós, e os peregrinos de Fátima.
No final da cerimónia, o reitor do Santuário, padre Carlos Cabecinhas, recordou as famílias afetadas “pela atual crise económica e o desemprego”.
A peregrinação internacional aniversária de outubro decorre com conjunto de medidas adicionais, reforçando o plano de contingência em tempo de pandemia para o Recinto de Oração.
Tendo em conta a situação epidemiológica atual, a instituição católica decidiu restringir o acesso dos peregrinos, limitando o número de participantes, com uso obrigatório de máscara e delimitação do espaço, para criar perímetros de segurança.
OC
O espaço do Santuário conta, desde a última semana, com marcações no solo, delimitando áreas circulares de ocupação para cerca de 6 mil pessoas, numa área útil de 48 mil metros quadrados.
O acesso ao Recinto de Oração é feito por oito entradas, com a ajuda de vigilantes e acolhedores; as deslocações no interior só podem ser feitas nos corredores assinalados. Quanto ao fluxo de peregrinos no exterior do Recinto de Oração, a sua gestão é da responsabilidade das forças de segurança, nomeadamente a GNR. |