Fátima: «Não há nada que não façam pelos nossos filhos», afirma Ana Isabel Rodrigues, mãe de Afonso, que participa na semana de férias para pessoas com deficiência e cuidadores

Centro de Espiritualidade Francisco e Jacinta Marto recebe iniciativa «Vem Para o Meio», promovida pelo Santuário de Fátima

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Fátima, 24 jul 2025 (Ecclesia) – Ana Isabel Rodrigues é mãe de Afonso, um menino com deficiência, e participa pela terceira vez na iniciativa de férias para pessoas com deficiência e cuidadores, do Santuário de Fátima, onde recarrega energias para enfrentar mais um ano.

“Criou-se aqui uma segunda família e uma família que nos acolhe sempre com muito amor. Acho que o objetivo é esse, vimos aqui encontrar amor, paz, harmonia”, afirmou a cuidadora esta manhã, em declarações à Agência ECCLESIA.

O Santuário de Fátima promove este ano a 18ª edição da iniciativa “Vem para o Meio”, uma semana de férias para pessoas com deficiência e cuidadores, que decorre o Centro de Espiritualidade Francisco e Jacinta Marto, dos Silenciosos Operários da Cruz, com a ajuda de voluntários, cujos turnos terminam a 5 de setembro.

“Quando vou daqui, vou daqui tão em paz que é para depois ter força para enfrentar o resto do ano lá fora”, assinala Ana Isabel Rodrigues.

Mãe e filho repetem a experiência pela terceira vez, uma vez que o convívio “é muito saudável”, os “voluntários são fantásticos” e “os irmãos dos Silenciosos Operários da Cruz são incansáveis”.

“Não há nada que não façam pelos nossos filhos, e aqui sentimos um bocadinho que estamos no céu, é mesmo isso, descansamos, convivemos com outros pais também, o que é muito importante, a troca de partilha e acabamos também por fazer novas amizades”, refere.

Ana Isabel Rodrigues, de São João da Madeira, lamenta a falta de apoio que os cuidadores de pessoas com deficiência têm, dando conta que, neste momento, não consegue inscrever o filho em qualquer ATL.

“O meu filho usa fralda, não come sozinho, não fala, não há ATL que o aceite, nem em privado”, relata, adiantando que o diagnóstico de Afonso era de que nunca sairia da cama, no entanto hoje consegue andar.

“Costumo dizer que o Afonso veio-me dar uma nova vida, uma nova aprendizagem, veio-me tornar mais forte também, porque por ele eu vou até o fim do mundo, ele é tudo, é a minha vida”, testemunha.

Ao contrário de Ana Isabel Rodrigues, Lucília Martins Ribeiro, mãe de um filho com deficiência, participa na iniciativa “Vem para o Meio” pela primeira vez.

“Tive que deixar o meu trabalho para estar com o meu filho em casa, porque não há hipótese de outra maneira […] e eu também me sinto melhor com ele do que estar a metê-lo numa associação”, explica, mostrando-se expectante com a iniciativa do Santuário de Fátima.

A semana de férias para pessoas com deficiência e cuidadores é possível graças a uma equipa de voluntários, da qual fazem parte Jacinta Meira e André Silva.

“Eu sou estudante de medicina e […] a área da pediatria é uma área que tenho muito carinho e portanto estar esta semana com os jovens, e jovens tão especiais, é um desafio para mim”, diz a jovem.

Jacinta Meira, voluntária pela primeira vez, dá conta que na faculdade são poucos os casos em que os alunos podem ter uma experiência “tão imersiva” e acredita que, enquanto futura profissional, esta iniciativa pode ajudar na relação com os pais de pessoas com deficiência.

André Silva é voluntário pela segunda vez na semana de férias para pessoas com deficiência e cuidadores e descreve que na primeira participação teve “um choque de realidade”.

“Fiquei com um rapaz que é tetraplégico e eu não sabia como é que devia lidar com as coisas, era a primeira vez que dava de comer alguém, dava banho a alguém, foi um choque de realidade e acabei a semana do ano passado a dizer que nunca mais cá voltava”, conta.

No entanto, o jovem pensou que nos pais de pessoas com deficiência, cuja rotina é durante todo o ano, e decidiu voltar.

“A maior aprendizagem que eu tive ano passado foi perceber que a felicidade está nas coisas mais simples da vida. Não precisamos ir atrás de ter tudo para ser felizes, basta sermos nós, estar ao pé de quem realmente gostamos e não viver uma felicidade enganadora, por assim dizer”, referiu.

A irmã Marta Couto, da Associação ‘Silenciosos Operários da Cruz’, descreve que na iniciativa “Vem Para o Meio” não há duas semanas iguais, “são sempre diferentes e especiais”.

“Temos muitos voluntários e cada vez mais, graças a Deus, que procuram um espaço onde se possam dar e de facto quem vem pela primeira vez descobre aqui essa oportunidade de dar, mas também de receber nesta troca de experiências e quem vem já por vários anos redescobre-se sempre pela primeira vez”, indica.

HM/LJ/PR

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