Fátima: Mais de 400 pessoas participaram na segunda Peregrinação Europeia de Pessoas Surdas

Peregrinos de Portugal e de outros países tiveram oportunidade de ultrapassar a «barreira linguística» e aprofundar o «conhecimento da sua fé»

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

Fátima, 30 set 2024 (Ecclesia) – O Santuário de Fátima acolheu, de 26 e 29 de setembro, as peregrinações nacional e europeia de pessoas surdas, que representaram uma oportunidade de participantes aprofundarem o conhecimento da fé.

“A barreira linguística significa que, muitas vezes, a mensagem não passa, ou passa muito limitadamente”, explica André Pereira, diretor do Departamento de Acolhimento e Pastoral do Santuário de Fátima, em declarações à Agência ECCLESIA, acrescentando que organizar momentos como estes significa permitir às pessoas “aprofundarem o conhecimento da sua fé, “o conhecimento de Jesus, pela via da mensagem de Fátima”.

“[As peregrinações] representam uma oportunidade de encontro, no sentido mais básico, mas também tão profundo do termo, de encontro de reforço das relações pessoais. Isto não é menos importante, mas é uma oportunidade também de, em muitos casos, quase uma primeira catequese”, assinalou este sábado.

Mais de 400 peregrinos, segundo o Santuário de Fátima, de diferentes nacionalidades – Portugal, Espanha, Itália, França, Polónia, Hungria, República Checa, Eslováquia, Suécia, Irão, Egito, EUA e Irlanda – participaram nas II peregrinação europeia de pessoas surdas e na décima Peregrinação Nacional da Comunidade Surda.

O espanhol Miguel Garcia, presidente dos Católicos Surdos da Europa (CSE), explica que Fátima foi o lugar escolhido para ser o destino da segunda experiência de peregrinação de surdos da Europa, devido à vontade que a comunidade surda portuguesa tinha em receber no país o encontro para canalizar as atenções a nível europeu em Portugal.

“Há bispos surdos pela Europa que também tinham curiosidade em vir aqui. Então, achámos que a divulgação seria boa, seria interessante”, referiu, justificando a escolha da opção também porque o “Vaticano foi sempre reconhecendo Fátima como um local sagrado, como um local de espiritualidade, de catolicismo, de vivência da prática, da religião”.

Questionado sobre como a comunidade surda da Europa estava a viver a peregrinação ao Santuário de Fátima, Miguel Garcia diz que as reações que recebeu são “bastante positivas”, com os participantes a destacarem a importância da interação entre todos, que têm diferentes culturas, realidade e experiências.

Desde 2013, a Eucaristia dominical das 15h, na Basílica da Santíssima Trindade, é interpretada em Língua Gestual Portuguesa; já as celebrações que antecedem a Páscoa, o Tríduo Pascal, no santuário da Cova da Iria começaram a ter interpretação LGP, em 2018.

Segundo André Pereira, a “tomada de consciência é o primeiro passo fundamental e realmente necessário” para integrar cada vez mais as pessoas surdas na Igreja católica.

“Por vezes, não fazemos tanto quanto poderíamos, porque também não estamos despertos para a necessidade. Nós comunicamos, os ouvintes comunicam, a informação chega-nos e muito facilmente nos esquecemos daqueles a quem a informação não chega da mesma forma e nem tão facilmente”, salientou.

Miguel Garcia é surdo e defende que a comunidade para ter mais acessibilidade precisa de perceber que as portas estão abertas, de ter informação visual e de ter tecnologias que permitam aceder à informação.

Ao longo dos quatro dias, os participantes das duas peregrinações realizaram várias atividades, acompanhados por intérpretes de língua gestual, sendo alguns deles os mesmos que estão presentes ao longo de todo o ano nas celebrações do Santuário.

Os intervenientes fizeram visitas ao Santuário de Fátima e às exposições do museu; assistiram a uma conferência e testemunhos, a uma sessão cultural de bailado contemporâneo e a uma catequese sobre a mensagem de Fátima.

Além disso, participaram ainda na oração a Nossa Senhora, no rosário e procissão das velas, na Capelinha das Aparições, e na Missa Internacional, no recinto de oração.

A primeira peregrinação Nacional da Comunidade Surda realizou-se em setembro de 2015, depois de o Santuário ter assumido no seu calendário celebrativo semanal uma Missa com interpretação em LGP, como forma integrar a comunidade surda.

Os Católicos Surdos da Europa foram os responsáveis por organizar a II Peregrinação Europeia de Pessoas Surdas, que conta com o apoio do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, da Conferência Episcopal Portuguesa, e do Santuário de Fátima, que há cerca de uma década organiza a Peregrinação da Comunidade Surda portuguesa à Cova da Iria.

LJ/PR

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