Fátima: D. Virgílio Antunes alerta para emigração de jovens portugueses e exploração de imigrantes

Peregrinação internacional reuniu milhares de migrantes e refugiados, em celebração anual

Foto: Santuário de Fátima

Fátima, 13 ago 2024 (Ecclesia) – O bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, alertou hoje, em Fátima, para a emigração de jovens portugueses e a exploração de imigrantes.

“Persiste, também nos nossos jovens, a necessidade da mudança não desejada, seja por motivo de estudo, de investigação, de trabalho em condições mais favoráveis, de procura de realização mais adequada aos seus ideais de vida”, disse o responsável católico, na Missa conclusiva da peregrinação internacional de agosto.

A celebração, na Cova da Iria, integra a Peregrinação Nacional dos Migrantes e Refugiados, no âmbito da 52.ª Semana Nacional das Migrações, promovida pela Igreja Católica em Portugal, com o tema ‘Deus caminha com o seu povo’.

O bispo de Coimbra referiu aos milhares de participantes que a atualidade “continua marcada pelas migrações dos portugueses”, ainda que “as modalidades e motivações sejam bem diferentes”, particularmente nas novas gerações.

“Os nossos jovens assumem que a sua casa é o mundo e, neste dinamismo da mobilidade que os carateriza, dispõem-se a estar em cada momento onde a vida os levar. No entanto, a mobilidade humana nem sempre acontece por estes motivos ou por uma decisão livre e isenta de constrangimentos”, observou.

D. Virgílio Antunes, antigo reitor do Santuário de Fátima, falou deste local como um “reduto de fé, lugar de súplica e de gratidão a Deus” para muitos migrantes.

O vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) assinalou, a este respeito, a chegada ao país de populações “provenientes de outros lugares e contextos culturais e religiosos”.

“Uns chegam pelos mesmos motivos que levam os portugueses a sair, mas muitos outros chegam a fugir da pobreza ou da guerra, em busca de novas oportunidades de vida que não encontram nas suas origens”, declarou.

O presidente da peregrinação internacional de agosto realçou que, no início do movimento migratório, “há sempre uma luz que se acende”, lamentando que “algumas dessas luzes se transformem em negras sombras”.

“A casa, a sociedade, torna-se um lugar de rejeição; a comunidade, às vezes, torna-se um lugar de discriminação; e o trabalho, frequentemente, torna-se um meio de exploração”, advertiu.

O mundo tem notícia da existência de muitos rostos escondidos que, sem escrúpulos, prometem paraísos aos mais pobres das periferias do mundo. Por detrás de uns milhares de euros ou de dólares, aqueles rostos que inicialmente se apresentam como de bons samaritanos, acabam por revelar-se rostos de cruéis malfeitores, que abandonam homens, mulheres e crianças, caídos, à beira do caminho ou então os entregam à sua sorte, nas vagas do mar”.

A intervenção elogiou a ação dos homens e dos Estados que “acompanham, protegem e ajudam a rasgar horizontes de esperança aos mais vulneráveis, como são os exilados, refugiados e migrantes”.

O vice-presidente da CEP recordou as “situações deploráveis diante das quais não é possível a resignação, por porem em causa o bem das pessoas e das famílias”, convidando todos a edificar “uma casa comum de encontro, de fraternidade e de paz”.

Deus caminha com o seu povo e nós, que somos membros deste Povo de Deus, recebemos a missão de caminhar com Ele e com os irmãos, na justiça e na caridade, no respeito pela liberdade religiosa, ancorados na justa legalidade e sempre com a mais profunda humanidade”.

Durante a celebração, os participantes foram convidados a rezar por diversas intenções, que evocaram os perigos de um “nacionalismo indiferente à sorte dos mais pobres”, para pedir “políticas de hospitalidade que abram as sociedades”.

A oração recordou ainda as comunidades de portugueses e lusodescendentes espalhadas pelo mundo e todos os que “deixam os seus países, fugindo da violência ou da miséria”.

O Santuário de Fátima anunciou a presença de 23 grupos organizados de peregrinos, dois de Portugal e 21 estrangeiros, de 12 países.

A Missa, com a bênção dos doentes e a procissão do adeus, encerra as celebrações da peregrinação internacional.

Cumprindo uma tradição iniciada há 84 anos por um grupo de jovens da Juventude Agrária Católica de 17 paróquias da então diocese de Leiria, haverá a tradicional oferta de trigo.

Ao longo do ano de 2023, foram oferecidos ao Santuário de Fátima 5635 quilos de trigo e 477 quilos de farinha.

OC

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Agência ECCLESIA

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