Testemunhos de inclusão e esperança marcam Jubileu das Pessoas com Deficiência e seus Cuidadores

Fátima, 14 dez 2025 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana afirmou, no Santuário de Fátima, que a integração das pessoas com deficiência é um indicador de desenvolvimento da sociedade.
“Cuidar da pessoa com deficiência e procurar a sua melhor integração é sinal de amor e de desenvolvimento da sociedade”, declarou D. José Traquina na homilia de encerramento do Jubileu dedicado a este setor da pastoral, na Igreja Católica, este sábado.
Perante uma assembleia composta por pessoas com deficiência, famílias, voluntários e cuidadores, o bispo de Santarém sublinhou que “o maior testemunho que uma pessoa com deficiência pode dar é precisamente ser portadora de esperança”.
A celebração encerrou um programa promovido pelo Santuário de Fátima em colaboração com o Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência (Conferência Episcopal Portuguesa) e a Associação dos Silenciosos Operários da Cruz.
Na homilia, D. José Traquina refletiu sobre o tempo litúrgico do Advento num mundo marcado pela pressa e pela “velocidade de um clique”, onde “não há paciência para ouvir e esperar”.
“Esperar com paciência parece um ensinamento fora de moda e difícil de aceitar (…) Até parece que esperar é tempo perdido”, observou, contrapondo que a espera cristã é fecunda e capaz de “fortalecer o coração”, pois “a paciência é fruto do Espírito Santo e mantém viva a esperança”.
Numa intervenção divulgada pelo Santuário de Fátima, o responsável católico recorreu à imagem da âncora, símbolo do Ano Jubilar, apresentando-a como expressão da segurança que a fé oferece nas “águas agitadas da vida”, e agradeceu a todas as instituições e movimentos que acompanham esta população.



O programa do Jubileu incluiu um painel de testemunhos moderado por Carmo Diniz, diretora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, onde se rejeitaram definições redutoras.
Miguel Atalaia, que adquiriu uma deficiência após um acidente aos 17 anos, defendeu que a sociedade devia assumir o papel de “embaixadores da diferença”, considerando a deficiência apenas “mais uma característica da identidade”.
Já Joaquim Roque, funcionário da administração pública há mais de quatro décadas, recusou a ideia de invalidez: “É mesmo possível e desejável termos uma vida com sentido, uma vida útil, com objetivos, com realizações, com sucessos e insucessos, como toda a gente”.
A dimensão familiar foi trazida por Rui Diniz, pai adotivo de um jovem com deficiência profunda, que garantiu que a sua família “é hoje melhor porque o Bernardo faz parte dela”, e por Mafalda Quadros e Costa, que partilhou a experiência de viver o matrimónio numa realidade onde a limitação “deixa de ser só dele e passa a ser nossa”.
O seu marido, António Quadros e Costa, engenheiro agrónomo com uma doença neuromuscular progressiva, falou sobre o “combate entre o bem e o mal” interior e o processo de aceitação da fragilidade através da fé.
Flávio Soares, da Associação Effectus, lembrou que muitas famílias vivem “situações-limite” e precisam de apoio urgente, enquanto Cristina Mira, assistente pessoal, destacou a importância da autonomia na vida cultural e social.
O encontro terminou com um apelo à construção de uma Igreja onde a diferença não seja um obstáculo, mas um valor que humaniza.
No final da Eucaristia, os peregrinos receberam uma lembrança preparada por pessoas com deficiência psíquica.
OC
