Fátima: Casa-Museu apresenta aos visitantes a infância da Irmã Lúcia, «uma das mais importantes figuras do catolicismo contemporâneo» (c/fotos)

Espaço em Aljustrel vai ser inaugurado esta sexta-feira, após oito meses de obras de restauro

Aljustrel, 02 jul 2024 (Ecclesia) – A Casa da Irmã Lúcia, em Aljustrel, vai ser reaberta ao público esta sexta-feira, após oito meses de renovação, a partir da museologia do século XXI, para apresentar a peregrinos e visitantes “uma das mais importantes figuras do catolicismo contemporâneo”.

“Olhamos para esta casa na expectativa daquilo que os peregrinos também aqui querem encontrar: é, de facto, a Casa da Lúcia, mas não da Lúcia doroteia nem da Lúcia carmelita, mas sim da Lúcia da infância”, disse Marco Daniel Duarte, diretor do Departamento de Estudos e do Museu do Santuário de Fátima, numa visita ao espaço, destinada a vários meios de comunicação social.

Segundo o responsável, o objetivo das intervenções multidisciplinares foi “trabalhar o espaço a partir da materialidade, mas sobretudo a partir do intangível, da imaterialidade”.

Reconstruída em 1885, foi nesta casa nasceu Lúcia, uma das três videntes de Fátima, no dia 28 de março de 1907, tendo ali vivido até aos 14 anos de idade.

Os responsáveis do Santuário de Fátima indicam que este foi um “lugar de convivialidade não apenas da família constituída por António dos Santos e Maria Rosa, seus pais, mas também a ‘casa de todos’, dos vizinhos, entre os quais militas crianças”.

Já desde o tempo das Aparições, em 1917, era a esta casa que acorriam os peregrinos que procuravam falar com Lúcia; hoje, o espaço é apresentado como destino de peregrinos e visitantes, cerca de 300 mil por ano, que procuram “encontrar as raízes primeiras do fenómeno de Fátima”.

“Sendo uma casa-museu, aquilo que o museólogo tem de fazer é percecionar o espaço, aprofundar aquilo que este espaço significa, entender o espaço na sua diacronia de utilização, no tempo que teve de sucessivas utilizações, e fazer aquilo que eu defendo que deve ser feito nestas casas-museu, o que eu chamo de museologia do silêncio”, indicou Marco Daniel Duarte.

Segundo o diretor do Museu do Santuário de Fátima, as obras tiveram como base um “aprofundamento muito forte das fontes de informação” sobre a casa.

“Essas fontes de informação são, sobretudo, as memórias da própria Irmã Lúcia, e também algumas cartas em que ela descreve, cómodo a cómodo, divisão a divisão, o que é que existia em cada um dos espaços”, precisa.

A Casa-Museu, a pouco mais de dois quilómetros da Cova da Iria, corresponde à residência de uma família rural dos finais do século XIX, início do século XX, com três quartos, cozinha, uma sala com um tear, arrecadação e a casa do forno, em anexo.

Marco Daniel Duarte recorda que um primeiro projeto museológico teve lugar, no espaço, nos anos 90 do século XX, mas já se considerava “obsoleto”.

A nova intervenção procurou destaca a “figura de Lúcia de Jesus, que não era muito clara”.

“Os visitantes vão confrontar-se com uma criança, ali representada através da fotografia mais célebre de Lúcia de Jesus, tirada em 1917”, indica.

Além da imagem da vidente, projeções multimédia, nas várias divisões do imóvel, procuram “trazer também a sua memória, a sua voz, uma voz porventura silenciosa que os peregrinos são convidados a redescobrir quando entrarem neste novo espaço”, sublinha o diretor do Museu do Santuário de Fátima.

Além do mobiliário da época, os visitantes vão encontrar “algumas surpresas”, nomeadamente sobre a relação entre Lúcia e a sua mãe, “a figura tutelar deste espaço”.

“A mãe de Lúcia era a catequista do lugar e sabemos que existiam livros, nesta casa. Muitas das vezes olhamos para este lugar como um lugar inóspito, perdido na Serra, onde não chega a cultura, onde não chegam as letras religiosas e até profanas. Na verdade, nós sabemos que isso não é assim”, acrescenta o responsável.

As obras de restauro e de museologia custaram mais de 338 mil euros, seguindo-se agora a intervenção na casa dos Santos Francisco e Jacinta Marto, primos de Lúcia, na mesma localidade.

OC

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Lúcia Rosa dos Santos, mais tarde a irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, nasceu em Aljustrel (Fátima), a 28 de março de 1907; foi batizada dois dias depois, a 30 de março, e fez a primeira comunhão aos seis anos de idade.

Em 1916, com os seus primos, os santos Francisco e Jacinta Marto, teve, por três vezes, Aparições do Anjo da Paz e, nos dias 13, de maio a outubro (à exceção de agosto) de 1917, Aparições da Virgem do Rosário; tornando-se, depois da morte dos primos, “a única guardiã da Mensagem de Fátima, tendo Nossa Senhora ‘como refúgio e caminho para Deus’”.

Antes de entrar na Ordem do Carmelo, em Coimbra, “com o desejo de um maior recolhimento e silêncio”, a 25 de março de 1948, a Irmã Lúcia foi para o Instituto de Santa Doroteia, em Espanha, a 24 de outubro de 1925: em Pontevedra, a 10 de dezembro, “teve a Aparição de Nossa Senhora e do Menino Jesus, foi pedida a Devoção dos Primeiros Sábados”; em Tuy, a 13 de junho de 1929, “teve a Aparição de Nossa Senhora e da Santíssima Trindade, na qual lhe pedia a Consagração da Rússia ao Coração Imaculado de Maria”, realizada a 25 de março de 1984, por João Paulo II.

Faleceu no Carmelo de Coimbra, a 13 de fevereiro de 2005, aos 97 anos de idade, depois várias décadas vividas em clausura.

O seu processo de canonização teve início em 2008, três anos após a sua morte, tendo o Papa Bento XVI dispensado o período de espera de cinco anos determinado pelo Direito Canónico.

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