D. António Francisco dos Santos deixa alertas na peregrinação anual dos migrantes
Fátima, Santarém, 13 ago 2014 (Ecclesia) – O bispo do Porto lamentou hoje em Fátima que a falta de trabalho esteja a empurrar milhares de portugueses para a emigração e alertou para as consequências deste fenómeno para o futuro do país.
"Não podemos ignorar nem deixar de lamentar as razões que levam hoje tantos portugueses, cheios de dons e de talentos, a sair de Portugal, porque aqui não encontram trabalho. A falta de trabalho desumaniza as pessoas e coloca em perigo o futuro de um país", alertou D. António Francisco dos Santos, na homilia da Missa conclusiva da peregrinação anual do migrante e refugiado ao Santuário da Cova da Iria.
Perante milhares de pessoas reunidas no recinto de oração, incluindo 30 grupos organizados de peregrinos vindos de 11 países, o prelado sustentou que Portugal e não seria "o país que hoje é" sem os emigrantes e que os governantes devem compreender que não se conseguirá "vencer a crise que tem vivido" sem aqueles que trabalham no estrangeiro.
Neste contexto, o bispo do Porto apelou à promoção de uma "uma economia de rosto humano e solidário e um sistema financeiro assente na verdade".
O responsável alertou, por outro lado, para a tentação de recusar a entrada no país a "a quem procura imigrar para viver em família com dignidade e para trabalhar com honestidade", afirmando que esta rejeição "é um pecado".
"Ninguém pode roubar aos emigrantes o encanto do sonho e a alegria da esperança", sublinhou.
D. António Francisco aludiu ao "enorme movimento migratório" dos dias de hoje, recordando que o desejo de "um futuro digno, justo e solidário esteve sempre presente no coração de quem emigra".
"Os emigrantes são embaixadores desta esperança e protagonistas da construção de um mundo melhor, com rosto humano, esculpido com as linhas cristãs da bondade, da hospitalidade, da universalidade e da fraternidade", precisou.
A intervenção recordou os "pecados" cometidos neste campo do "reconhecimento do próximo", lamentando a persistência "das injustiças e das guerras que continuam a permitir ou mesmo a promover o tráfico das pessoas, a aniquilar os sonhos das crianças, a matar inocentes e a pôr em risco o futuro de tantos povos".
O bispo do Porto apresentou Portugal como uma nação que há muitos séculos é terra de emigrantes e imigrantes, pelo que "deve assumir com alegria este desígnio da sua história".
D. António Francisco dos Santos, que foi pároco da comunidade portuguesa em França, entre 1974 e 1978, recordou o testemunho de um emigrante que foi seu paroquiano em Paris, para ilustrar a "certeza de fé" que ajudou muitos a "trabalhar com coragem".
"Ao abrir a mala, que levara de Portugal, descobriu, no meio da roupa, que a esposa preparara, uma imagem de Nossa Senhora com esta mensagem: 'Guarda contigo esta imagem, porque onde Nossa Senhora estiver também aí estamos nós: os teus filhos e eu'", relatou.
O presidente da celebração agradeceu aos sacerdotes, aos consagrados, aos agentes de pastoral, às famílias, às comunidades e às missões católicas espalhadas pelo mundo por todo "o bem realizado na vanguarda desta missão ao serviço dos emigrantes".
A peregrinação aniversária de agosto é um dos pontos altos da Semana Nacional das Migrações promovida pela Igreja Católica em Portugal, este ano com o tema 'Migrações: rumo a um mundo melhor'.
OC