Fátima: Arcebispo da Beira apresenta-se como «peregrino» que veio confiar «anseios de Moçambique»

D. Claudio Dalla Zuanna preside à peregrinação internacional aniversária de outubro, na Cova da Iria, onde vai apelar à paz

Fátima, 12 out 2025 (Ecclesia) – O arcebispo da Beira, que preside à peregrinação internacional aniversária de outubro, hoje e segunda-feira, no Santuário de Fátima, assumiu-se como peregrino na Cova da Iria, onde vai apresentar as preocupações de Moçambique.

“E venho aqui então, como disse, como peregrino, trazendo aqueles que são os anseios, sobretudo da minha diocese, Diocese de Beira, mas também de todo Moçambique. Anseios da igreja, uma igreja que está a crescer e que está a assistir nestes últimos anos a um aumento de vocações consagradas e sacerdotais”, afirmou D. Claudio Dalla Zuanna.

Em conferência de imprensa de apresentação da peregrinação internacional de outubro ao Santuário de Fátima, esta tarde, o arcebispo falou do desafio que neste momento a igreja do país tem em mãos: “construir um segundo seminário teológico para acolher vocações”, que ainda são “insuficientes para o número e extensão do país”.

Nascido na Argentina e formado em Itália, o arcebispo apontou a “paz”, a “tranquilidade” e o “desenvolvimento” como anseios maiores de Moçambique.

D. Claudio Dalla Zuanna reconhece que a comunicação social na Europa vira as suas atenções para o que acontece perto dela, como é a situação da Ucrânia e da Palestina, no entanto, neste momento, “no mundo há muitas situações de guerra, autênticas guerras, além de sofrimento devido à exploração”.

“Também em Cabo Delgado, acho que podemos falar de uma guerra, de alguma forma, uma guerra civil, porque é dentro de Moçambique e são moçambicanos que atacam outros moçambicanos, provavelmente movidos por interesses que não são só dentro de Moçambique”, referiu.

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

O presidente da peregrinação aniversária de outubro convidou a olhar os lugares em conflito não como algo isolado, como se fosse peças únicas.

“Não, há algo que une um pouco todos. Por isso, também, falar, talvez, mais frequentemente, como também o Papa há um mês fez referência, talvez que também aqui na Europa se fale um pouco mais da situação na situação de Cabo Delgado”, indicou.

O arcebispo da Beira referiu-se a Fátima como um lugar “para todo o mundo”, destacando que Nossa Senhora ali “não tem uma mensagem reservada a algumas pessoas e a um tempo determinado”, mas uma mensagem para “toda a igreja” e “toda a humanidade”.

D. Claudio Dalla Zuanna evocou a primeira exortação apostólica publicada pelo Papa Leão XIV, intitulada “Dilexi Te” (Eu amei-te, em português”), apresentada na passada semana, na qual escreveu que a falta de equidade “é a raiz de todos os males sociais”.

Em Moçambique há falta de equidade. O próprio país sofre da falta de equidade, a nível do conjunto dos países, a nível do mundo. Não é um país que tenha um peso que possa fazer ouvir a sua voz ou dizer: ‘eu quero isto ou eu quero aquilo’”, denunciou.

Segundo o arcebispo da Beira, tal provoca “tensões sociais” no país “que podem sobressair de formas diferentes”, como pode ser no de Moçambique, em Cabo Delgado, “mas também nas cidades, sobretudo na capital ou em outras situações”.

“É por tudo isto que eu trago aqui como peregrino e que quero confiar à Nossa Senhora, para que Ela interceda por nós e nos ajude a sermos dóceis à Sua mensagem”, afirmou.

“Uma mensagem que faz referência à relação direta com Deus, então toda a dimensão da oração, mas que convida a uma conversão, uma conversão que não é só pessoal, uma conversão que deve entrar também nas estruturas, também nos organismos, nas instituições sociais”, desenvolveu.

Para D. Claudio Dalla Zuanna, Moçambique inteiro “tem o direito de sentir” que a exortação apostólica” é dirigida ao país.

“As primeiras palavras “Dilexi Te”, amei-te, Moçambique sente que Deus o amou, o amou porque é pobre. Na verdade, há recursos, há pessoas que até podem viver no luxo, mas a grande parte do país vive na pobreza”, salientou.

O arcebispo frisa que esta nação “não é um problema para o mundo e que os pobres em Moçambique, que são a maioria, são sujeitos e não precisam da esmola dos outros países”, mas que “a sua dignidade seja respeitada”.

É uma exortação apostólica que nos coloca ao centro da atenção da Igreja e do Papa. Então, sim, com certeza nós gostamos muito que o primeiro documento do magistério do Papa Leão XIV tenha sido sobre este assunto, sobre nós, que nos consideramos e somos, de facto, pobres como pessoas e também como país”, concluiu.

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

“Nós temos sempre o gosto de convidar alguém de fora, alguém que sublinhe a própria vocação universal deste Santuário, a sua dimensão eclesial, muito profunda e de atenção, também e, de um modo especial, as situações que carecem de atenção da humanidade e é nesse sentido também que foi convidado D. Claudio Dalla Zuanna”, disse.

O bispo de Leiria-Fátima afirmou que o facto de o arcebispo ser de Moçambique foi tido em atenção, devido “à questão da paz”, realçando que o Santuário de Fátima é de “vocação mundial” e que “está ligado à primeira Guerra Mundial”.

O Santuário de Fátima acolhe hoje milhares de peregrinos que vêm à Cova da Iria participar nas celebrações da peregrinação internacional aniversária de outubro que faz memória da sexta aparição de Nossa Senhora aos três pastorinhos.

LJ/OC

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