Fátima: Anos da pandemia foram «foram o momento mais difícil e o momento mais doloroso» para o Santuário

Padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima desde 2011, foi reconduzido para um novo mandato de cinco anos. Depois da pandemia e num contexto de crise global, agravado pelo regresso da guerra à Europa, o sacerdote aponta aos desafios que a instituição enfrenta e aponta ao futuro

Entrevista conduzida por Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Começamos pela sua nomeação para um novo mandato: vê esta recondução como uma confirmação do rumo seguido nos últimos anos?

Obviamente que ser reconduzido numa função como esta, numa missão como esta, significa sempre receber um voto de confiança em relação ao trabalho realizado e, portanto, de alguma forma, uma confirmação daquilo que foi o rumo seguido e que, no meu entender, significa também o pretender que esse rumo seja aquele que vai ser implementado durante o período do mandato, que são os próximos cinco anos. Obviamente, sempre na perspetiva daquilo que o possa fazer-se de renovação, porque estes mandatos significam sempre conduzir, neste caso, a vida do Santuário, de forma que vá respondendo cada vez mais e melhor àquilo que é a sua missão e isso significa renovação constante.

 

Os anos da pandemia com impacto na atividade pastoral e no equilíbrio económico do Santuário, foram o momento mais delicado nos anos do seu mandato?

Foram o momento mais difícil e o momento mais doloroso. Não direi o mais delicado porque a celebração do Centenário foi talvez o momento mais delicado, embora felicíssimo. Foi um período de intensa atividade do Santuário. Foi um momento que, de facto nos encheu o coração quer a quem trabalhava no Santuário e durante tantos anos foi preparando o momento da conclusão do Centenário, em 2017. Mas foi também um momento vivido intensamente pelos peregrinos, vivido intensamente pela Igreja em Portugal. E recordo a visita da imagem peregrina às dioceses portuguesas, que teve um impacto absolutamente incrível. Obviamente, do ponto de vista do Santuário significou alguma vivência, eu diria mesmo dramática pelo facto de termos um lugar vocacionado para acolher peregrinos, um lugar conhecido pelas multidões e termos, por exemplo, de repente de celebrar um, 12 e13 de maio, que é a data mais significativa, com o recinto completamente vazio, sem peregrinos foi algo que tocou o fundo, que tocou o coração, mas que por outro, nos ajudou também a sentirmo-nos unidos a todos aqueles que viviam o drama da pandemia, com toda a incerteza que ela trazia. Tivemos uma pandemia que veio pôr em causa completamente as nossas vidas, as nossas certezas que dávamos por adquiridas e intocáveis e tudo isto provocou uma grande apreensão.

Fátima não ficou à margem de tudo isso e o esforço que fomos fazendo foi também depois de procurarmos dar alguma resposta. E eu diria que da pandemia se fica a memória de alguns momentos dolorosos; fica também o enorme desafio que sentimos e que foi depois moldando também algumas das iniciativas do Santuário.

 

E do ponto de vista financeiro, não ficaram feridas. A situação está ultrapassada. O que é nos pode dizer da situação financeira do Santuário?

Da situação financeira do Santuário, obviamente, o ano de 2020 foi um ano extremamente complicado, foi um ano extremamente difícil. Aliás, depois, quando apresentámos as contas, referimos que foi um ano em que tivemos, naquele exercício, mais de 5 milhões de resultado negativo.

O ano de 2020 foi muito complicado. O ano de 2021 já permitiu alguma recuperação e equilíbrio a este nível administrativo a este nível económico. No entanto, estes anos, apesar do dramático que foram, não puseram em causa a solidez económica do Santuário. Isto é, o Santuário é uma instituição também a este nível sólida, que teve de procurar diminuir drasticamente as suas despesas, uma vez que também diminuiu drasticamente a sua atividade naquele tempo. Mas isso não pôs em causa aquilo que era a estabilidade económica da instituição e que se mantém.

 

O ciclo do Centenário foi um momento muito intenso, de grande responsabilidade. Desde então, o mundo mudou radicalmente. Tivemos uma pandemia, a guerra voltou à Europa. E o que eu lhe pergunto é de que forma é que estes acontecimentos imprevistos mudaram as prioridades que teria definido para o futuro do Santuário também?

Obviamente que este tipo de acontecimentos muda e tinha de mudar o Santuário, porque o Santuário não poderia de forma alguma tentar ficar imune a esta realidade. Seria ser infiel à sua missão, não reparar ou não ter devidamente em conta todos estes acontecimentos que foram mudando o mundo. Obviamente que houve algumas mudanças de prioridades e eu estou a pensar concretamente que a pandemia motivou nos no sentido de uma atenção muito maior à fragilidade humana, à dimensão da fragilidade, quer a nível reflexivo, quer a nível de atividades concretas. Estou a lembrar, de forma muito situada, um centro de escuta que temos já montado e que pretendemos que seja uma resposta a tanta gente que nos procura e que a pandemia vem mostrar que precisa urgentemente de quem os acolha, de quem os ouça, de quem os possa dar-lhes uma palavra de condução…

 

Mostrou um mundo mais só…

Mostrou um mundo mais só, um mundo mais frágil também a este nível da própria saúde mental, do equilíbrio emocional. E há muitas destas pessoas que procuram o Santuário e no Santuário procuram uma resposta e, portanto, para nós este foi um desafio que sentimos. Sentimos também o desafio da aposta na nossa comunicação digital. Percebemos que há muita gente que não vinha no tempo da pandemia, não vinha ao Santuário porque não podia vir. Mas há muita outra gente que não vem porque não tem condições para vir, independentemente da pandemia ou não. Isso também nos mostrou que esta é uma aposta que tem de continuar no sentido de que o Santuário é um lugar que se define como um lugar, um lugar que não muda. Não pode mudar daqui, mas que o Santuário tem vocação de chegar muito para além destes confins e deve fazê-lo. As pessoas esperam que o faça e este é também para nós uma das prioridades.

 

A profissionalização da gestão é uma necessidade incontornável, face à dimensão da instituição?

A profissionalização da gestão do Santuário é uma necessidade e um imperativo. Isto é, o Santuário de Fátima tem hoje uma dimensão, mesmo como estrutura, como instituição, que não se compadece com amadorismos. Eu desde que assumi funções, uma das preocupações foi a de ajudar a alguma reestruturação interna do próprio Santuário. E isto não é nenhuma crítica aos meus antecessores. É o reconhecimento que uma estrutura que foi montada nos anos 80 e que se manteve praticamente sem alterações, precisava de se readequar. E nessa reestruturação interna do Santuário, que se foi fazendo durante os próprios anos do Centenário e contemporaneamente com aquele ciclo, levou nos também a uma cada vez maior profissionalização da própria gestão. Profissionalização que significa, sobretudo, otimização. Significa que o Santuário tem de procurar responder de forma mais eficaz à sua missão e que toda a dimensão administrativa tem de estar ao serviço da dimensão pastoral do Santuário.

 

E esse é um processo em curso, ou está concluído?

Esse será sempre um processo em curso, isto é, nunca podemos dizer que está concluído. É sempre um processo em curso, porque a vida do Santuário também como instituição viva que é obriga a novos desafios, a abraçar novos projetos pastorais. E isso tem sempre implicações na dimensão da gestão do próprio Santuário. Obviamente, para nós, foi sempre muito claro que toda a gestão do Santuário tem de estar ao serviço da sua missão pastoral. E não pode ser de outra forma.

Ainda neste campo do impacto da pandemia e do impacto da atual crise económica. Pergunto-lhe se o Santuário de Fátima tem sentido um aumento no número de pedidos de ajuda e pedia-lhe também que se explica um pouco também como é que se processa habitualmente esse apoio?

Nós temos sentido um aumento exponencial dos pedidos de ajuda. Sobretudo na fase final do ano passado e em todo este início deste novo ano….

 

Sabemos quais os pedidos, os tipos de pedidos que surgem?

Por um lado, temos os pedidos institucionais; isto é, instituições, nomeadamente instituições eclesiais ou instituições de solidariedade social que pedem ajuda ao Santuário. É uma ajuda sempre para projetos. Isto é não é uma ajuda para atividade regular, é para um projeto ou outro, e isso acontece com regularidade. A este nível, os pedidos não tiveram um aumento significativo: Os pedidos que tiveram um aumento significativo é o apoio social aos mais carenciados, que acontece aqui no Santuário e, portanto, atinge este tecido social de Fátima e arredores. A esse nível, é que temos visto aumentar exponencialmente os pedidos de ajuda. Há muitas famílias que não conseguem pagar rendas de casa. Há muitas famílias que não conseguem comprar os medicamentos na farmácia. Nós estamos a ajudar também com alimentos, muitas outras famílias. Depois há uma série de aspetos que muitas vezes nos passam despercebidos, para os quais não existem apoios sociais estabelecidos, nomeadamente oficiais. E estou a pensar tudo o que tenha que ver com a saúde oral, com próteses dentárias. Por exemplo, os idosos com pensões muito baixas de que forma é que podem adquirir uma prótese dentária que é fundamental para o mínimo de qualidade de vida? Ou falemos de óculos. A mudança de uns óculos ou comprar uns óculos para muitas destas pessoas torna-se depois um desafio enorme quando têm pensões de reforma tão baixas, quando o preço das rendas vai aumentando também a um ritmo muito grande e não há forma de dar resposta a esse nível. A esse nível o crescimento dos pedidos tem sido exponencial.

 

E o Santuário tem tido capacidade para dar resposta à maior parte das situações?

Esta é talvez a dimensão menos conhecida do Santuário. O Santuário foi sempre discreto em relação a esta dimensão caritativa e discreto também nestes casos concretos porque tratamos de pessoas que não queremos e não podemos expor de forma alguma. Obviamente que se estabelecem prioridades e por isso o Santuário foi sempre capaz de dar resposta, porque quer dar resposta e não pode deixar de dar resposta a estes pedidos.

 

Estamos a falar de um mandato de cinco anos e, portanto, seguramente também a apontar para o futuro, sobretudo no que diz respeito ao acolhimento dos peregrinos. Há pouco falava que o santuário não pode sair do lugar. O santuário também tem uma vocação específica dentro do pensamento católico e teológico e é um lugar de passagem, não é o lugar propriamente de chegada e de se ficar. As pessoas têm de chegar e partir de novo…

Sem dúvida que o que define um santuário é precisamente esta dimensão do lugar de passagem. Pode ser meta de peregrinação, mas nunca é meta onde se vai ficar ou onde se permanecerá. É sempre uma meta em ordem ao regresso à quotidianidade. Aliás, a peregrinação tem precisamente esse sentido do ir a um lugar diferente, no caso, a um santuário, para se voltar diferente, para se voltar transformado.

A esse nível, o nosso acolhimento de peregrinos tem feito algumas apostas que queremos continuar a enriquecer e eu estou a pensar concretamente, não apenas nos espaços – os espaços precisam também de ser trabalhados e estou concretamente a pensar no conjunto da área envolvente do Centro Pastoral Paulo Sexto, com todo aquele conjunto de parques que precisam de ser trabalhados, porque não são apenas parques de estacionamento.

 

Muita gente que acampa nos parques de estacionamento…

São lugares onde as pessoas param, convivem, tomam o seu almoço em família. Portanto, queremos revalorizar o acolhimento naqueles espaços como fizemos atrás da Basílica de Nossa Senhora do Rosário. Mas queremos também, por exemplo, continuar a apostar num acolhimento que passa para além dos momentos celebrativos, que são sempre a oferta primordial do santuário, mas também por propostas formativas, por propostas daquilo a que chamamos a Escola do Santuário, com itinerários diversos ao longo do ano, que procuram convidar a aprofundar uma outra dimensão da vida cristã e da espiritualidade de Fátima, como também aproveitar e valorizar a via da beleza.

Nós temos vindo a apostar, há uma série de anos em exposições. Essas exposições têm o grande mérito de falar de Fátima por meio de outra linguagem, através da via da beleza. Uma via da beleza, de acordo com aquilo que o Papa Francisco dizia a propósito dos museus do Vaticano, em que ele dizia que não queria que os museus ficassem como algo elitista, apenas para um grupo específico de estudiosos ou de pessoas com uma capacidade ou uma formação e erudição especiais para o visitar – que fosse o mais aberto a todos. As nossas exposições procuram ser isso mesmo: falar de Fátima com a linguagem da beleza, mas falar de uma forma aberta a todos.

Penso que as nossas exposições temporárias, por exemplo, com a grande afluência que sempre registam, manifestam o quanto essa aposta tem sido uma aposta ganha.

 

A internacionalização da Mensagem de Fátima faz com que as fronteiras da Cova da Iria se alarguem constantemente. Espera que se confirme, no pós-pandemia, o crescimento do número de peregrinos vindos, por exemplo, da Ásia?

Sem dúvida. Voltando à pergunta anterior, esse é um dos aspetos que está muito presente neste novo mandato, que é esta aposta na internacionalização de Fátima. Sabemos que a pandemia limitou muito a vinda de peregrinos, sobretudo estrangeiros. Os peregrinos portugueses regressaram de imediato, os espanhóis pouco tempo depois. Mas tem havido outros peregrinos que têm regressado mais lentamente. Este ano assistimos já a um aumento significativo de peregrinos vindos da Ásia e, obviamente, essa é uma origem de peregrinos que nós queríamos também privilegiar.

Em 2019 nós já tínhamos uma presença praticamente diária, por exemplo, de grupos de peregrinos vindos da Coreia do Sul. Este ano não estamos ainda nesse nível, mas este ano eles estão claramente a regressar, como os peregrinos filipinos, como também da China e da China continental foram aumentando. Não tem a expressividade, por exemplo, dos peregrinos da Coreia, mas é um número ainda significativo que foi aumentando.

Sem dúvida, essa é uma das nossas preocupações: aumentar e potenciar o aumento dos peregrinos vindos da Ásia, os peregrinos vindos do continente americano – seja dos Estados Unidos, que é também uma origem que tem vindo a crescer, e da América Latina – o Brasil, com a pandemia também decresceu enormemente – assistimos neste momento a um regresso – mas temos muitos outros países da América Latina com um interesse cada vez maior por Fátima.

 

Olhando para o que aconteceu em março de 2022, a consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria em que o Papa Francisco quis unir Fátima ao Vaticano, pedindo a paz. Trata-se de um momento novo na interpretação da mensagem de Fátima? Abre caminhos diferentes também para o futuro da Cova da Iria?

Eu estou convencido que sim. A dimensão da paz foi sempre uma parte absolutamente fundamental da mensagem de Fátima. Desde o primeiro momento, falemos das aparições do Anjo, falemos das aparições de Nossa Senhora, a paz apareceu sempre como horizonte e concretamente na aparição de maio, o pedido – é último pedido na aparição, segundo o relato da Irmã Lúcia – é que rezem o terço para alcançar a paz. Portanto esta dimensão da paz é parte integrante da própria Mensagem de Fátima.

Quando, na sequência do início da guerra na Ucrânia, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o Papa decide fazer um ato de consagração dos dois países beligerantes e unir Fátima a esse ato de consagração, obviamente houve um reconhecimento desta dimensão de Fátima como polo de paz, como mensagem de paz, como ponto de oração permanente pela paz. E esse nível, pode abrir um capítulo novo também na interpretação.

 

Já caiu o muro Berlim…

Exato. Já caiu o Muro de Berlim e nós diríamos a consagração está feita, a consagração da Rússia foi feita pelo papa São João Paulo II a 25 de março – significativamente a 25 de março de 1984 – e, no entanto, o Papa Francisco reinterpreta porque nos convida a renovar essa consagração, mas não é agora a consagração da Rússia no sentido de alguma diabolização da própria Rússia, mas da consagração dos dois países beligerantes no sentido de pedir por ambos, de pedir para ambos a paz.

Eu creio que neste momento não podemos interpretar a Rússia com os olhos com que se interpretava antes, mesmo à luz da mensagem de Fátima. Aqui não se trata de pedir a conversão da Rússia. Aqui trata se de pedir especificamente pela paz e trata-se de pedir pela paz também para a Rússia, para o povo russo.

 

O regresso do Papa, no contexto da Jornada Mundial da Juventude é um momento inédito nas visitas do Pontífice a Fátima, porque vai ocorrer não numa celebração de maio. Vai ser um momento especial? Como é que vê esta ligação de Francisco à Cova da Iria?

O Papa Francisco reconhece que antes de ter vindo a Fátima, em 2017, não tinha uma devoção muito grande a Fátima e conhecia muito pouco de Fátima. No fundo, aquilo que o tocou e o sensibilizou para Fátima foi fundamentalmente essa experiência forte que viveu aqui nos dias 12 e 13 de maio de 2017. É verdade que já tinha feito uma experiência forte em 2013, com a ida da imagem ao Vaticano e como uma celebração mariana presidida por ele, mas esta ligação a Fátima tem o seu ápice, o seu momento culminante, com a vinda por ocasião do Jubileu, portanto, o centenário e a canonização dos santos Francisco e Jacinta.

Agora é diferente. Agora trata-se do regresso a Fátima. O Papa disse, e disse-o várias vezes e a diversos interlocutores, que não punha sequer a hipótese de voltar a Portugal sem voltar a Fátima.

Creio que aqui, num outro contexto, já não é o contexto de uma grande peregrinação – é o Papa quer vir como peregrino, quer vir para rezar ao santuário. Nós não conhecemos ainda o programa do Papa aqui em Fátima, em agosto – estamos nessa expectativa. Certamente será uma vinda para rezar, mas obviamente será sempre uma vinda para rezar, acompanhado por uma grande multidão que aqui se reunirá para rezar com o Papa.

 

E será uma oportunidade também para reforçar a comunicação entre Fátima e as novas gerações?

Eu tenho essa convicção de que a vinda do Papa no contexto da Jornada Mundial da Juventude terá uma importância fundamental no sentido de projetar Fátima também a população mais jovem.

A experiência que eu fiz, por exemplo, no Panamá, na última Jornada Mundial da Juventude, em que a imagem de Nossa Senhora, a Imagem Peregrina, foi também e esteve inserida em momentos do programa, foi, por um lado, do reconhecimento da invocação de Nossa Senhora de Fátima: quando a imagem, na vigília, percorreu todo o largo espaço onde os jovens estavam, o interessante não foi notar, simplesmente, que os jovens reagiam a uma invocação mariana; os jovens reagiam sabendo que era a imagem de Nossa Senhora de Fátima e cantavam o Ave e acenavam com lenços brancos. Isto é, havia uma clara identificação daquela invocação e muita gente, quando no dia seguinte foi anunciado que a Jornada Mundial da Juventude, a próxima jornada, seria em Lisboa, muita gente, muita gente, nos veio dizer precisamente vamos estar em Lisboa porque queremos ir a Fátima, nós não podemos ir a Lisboa sem ir a Fátima.

Essa perspetiva já existe em muitos jovens; estou convencido que muitos outros ficarão cativados por esta experiência. Por isso, também desde o anúncio da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, que o Santuário procurou começar a preparar-se para esse acontecimento – manifestou, desde o início, aos responsáveis toda a disponibilidade para colaborar naquilo que fosse necessário e temos mantido sempre essa colaboração para procurar que Fátima seja momento da jornada, sabendo que o Papa vem para a Jornada Mundial da Juventude, não vem para vir a Fátima, e que esse é o momento alto da sua estadia.

 

D. José Ornelas, bispo de Leiria – Fátima, disse numa entrevista recente à Ecclesia, que o santuário também pode ser um polo de ação na defesa dos direitos das crianças, até dando o contexto das aparições terem sido dirigidas a três crianças. Como vê esse desafio, tendo em conta o momento que se vive na Igreja Católica em Portugal?

O desafio do senhor D. José Ornelas parece-me que é um desafio enorme também para o Santuário. O Santuário teve sempre alguma pastoral voltada para as crianças…

 

A peregrinação anual…

Não apenas a peregrinação anual, embora seja o momento culminante, o momento de maior visibilidade e mais conhecido. Temos também outras propostas que se fazem desde as escolas, aos grupos de catequese, permitindo-lhes passar por Fátima, visitar Fátima, conhecer melhor Fátima. Temos muitas atividades com escuteiros, nomeadamente com os mais novos, com os lobitos, que temos vindo a trabalhar com o Corpo Nacional de Escutas. Portanto, a pastoral das crianças tem estado presente na vida do santuário.

As palavras de senhor D. José alertam-nos para uma outra dimensão, que é toda a dimensão do cuidado com as crianças e, portanto, toda uma dimensão que teremos de desenvolver, uma vez que não a temos desenvolvido, a não ser em relação àquilo que são instituições dedicadas ao apoio de crianças em situação muito especial, seja por motivo de saúde, seja por desagregação familiar.

Isto lança-nos um novo desafio. Obviamente, Nossa Senhora escolheu crianças como interlocutoras. A mensagem de Fátima é muito mais do que uma mensagem dirigida a crianças, mas o facto de Nossa Senhora ter escolhido crianças como interlocutoras, o facto de os dois santos de Fátima serem duas crianças, Francisco e Jacinta, faz com que esse desafio, seja um desafio a que o santuário não possa, de forma alguma, ficar alheio.

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Agência ECCLESIA

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