Professor universitário realça relevância do discurso de Francisco para uma «Europa em crise»
Lisboa, 18 mai 2017 (Ecclesia) – O professor universitário Viriato Soromenho-Marques diz que o Papa Francisco mostrou mais uma vez, em Fátima, a sua capacidade de abordar “as grandes questões do nosso tempo”.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o comentador e cronista destaca a intervenção na Missa da canonização de Francisco e Jacinta Marto, no dia 13 de maio, em que o Papa argentino lembrou que qualquer “vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra vida”.
E pediu “esperança e paz”, sobretudo “para os doentes e pessoas com deficiência, os presos e desempregos, os pobres e abandonados”.
Para Viriato Soromenho-Marques, estes e outros apelos deixados pelo Papa ao longo das cerimónias do Centenário de Fátima constituíram “um verdadeiro programa de globalização” para a humanidade, numa altura em que ela está em “desagregação”.
Um “sintoma disso é a crise europeia, da capacidade dos países colaborarem uns com os outros”, realça o professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que dá como exemplo a saída do Reino Unido da União Europeia e a atual posição geopolítica dos Estados Unidos da América.
“Países que fizeram impérios globais, como os EUA e o RU, neste momento estão a demitir-se, a reformar-se, quando a História continua e não podemos fazer outra coisa do que reconstruir a globalização na base da justiça”, refere o professor.
Nesta linha, Viriato Soromenho-Marques sustenta que o que o Papa propôs em Fátima foi “pensar a globalização” no “inverso do que se faz agora”.
Ou seja, “a partir das periferias para o centro”, colocando o foco na situação “das classes sociais mais pobres”, em vez da prioridade que sempre se dá aos “que estão bem instalados no mundo”.
Para o docente, o Papa preconiza uma globalização feita “das pessoas para a economia”, em lugar de “aquilo que se faz, pensar as pessoas como fatores económicos de produção”.
E depois é uma figura que prima pela “total ausência de arrogância moral, alguém que pede que rezem por ele e que está permanentemente a recordar que é um homem, que é pecador”, o que “cria proximidade”.
Viriato Soromenho-Marques puxa depois o filme atrás, quanto ao debate acerca do acontecimento de Fátima.
Segundo o professor de Filosofia, também aqui sucedeu algo de “muito interessante” que foi a possibilidade de assistir a um “debate muito sereno” centrado nas “diferentes interpretações da historicidade de Fátima, sobre o fenómeno”, seja ele de “uma aparição, uma visão”.
“Isto mostra que as pessoas hoje gozam de uma liberdade que já vinha de trás mas que este Papa sem dúvida nenhuma instalou, esperemos que duradouramente”, conclui Viriato Soromenho-Marques.
HM/JCP